Capítulo IV

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— Finalmente acordou — diz Neuvillette, assim que abro os olhos.

Não estou numa ala médica.

— Pode parecer um pouco desconfortável e estranho, mas eu a trouxe para meu quarto. Não costumo ficar por aqui, de todo modo, então permitirei que fique por aqui — revela, enquanto folheia uma ficha na poltrona que está sentado.

Coço os olhos, cansada.

— Onde está minha mãe?

— A Senhorita Anallie está em um apartamento dentro da cidade junto da Senhorita Blanche. Até que possamos liberar-lhe, manterei elas lá para evitar preocupações e quaisquer coisas que precisarem, providenciarei.

Assinto. É melhor do que enxotá-las da cidade até o que quer que ele queira fazer comigo termine.

— O que planeja fazer com Raven?

— Se o que disse é verdade, ele será estudado e sua condição será levada em consideração antes de uma nova sentença. Por enquanto, estamos o averiguando.

— E comigo?

Ele tira os olhos do arquivo por um momento e me encara.

— A sua situação é um tanto delicada. Precisamos fazer testes em você e todos envolvem contato direto com a água.

Afundo minha cabeça no travesseiro.

— Já passou por sua cabeça em algum momento que seus espasmos podem ser um indício de uma transformação?

Levanto novamente a cabeça e franzo as sobrancelhas.

— Como assim?

— Quando Raven entra em contato com a água, seus chifres crescem, seu cabelo muda de cor e seus olhos assumem uma nova forma. E você e ele possuem certas… semelhanças. Como o tom de seus cabelos fora da água, ou o formato de seus olhos.

— Está sugerindo que eu entre na água por completo?

— E fique dentro tempo suficiente para que algo aconteça. Um novo desmaio, talvez. Mas, se o caso for outro, você assumiria uma identidade diferente.

— Ou algo mais drástico. Como minha morte.

— Eu a garanto que não permitirei que morra, Senhorita Claire.

Como pode ter tanta certeza disso?

Neuvillette diz tudo isso como se tivesse a capacidade de me proteger. E talvez até tenha, mas e se não tiver? E se a água me ladear por tempo suficiente para adentrar meus pulmões e fazer toda e qualquer partezinha de meu corpo parar por completo?

Espere.

Uma lembrança me atinge.

O juiz havia dito, na ala, que ele quem interveio nos ataques psicóticos de Raven. Isso revela tamanha força, mas sinto que algo falta.

— Eu tenho algumas perguntas.

— Verei como posso respondê-las.

— Para começar, como descobriram tão rápido tudo o que aconteceu? — pergunto, tentando preparar um pouco a terra para semear a próxima pergunta.

— Os artistas pediram uma escolta silenciosa para o caso de emboscadas de monstros. Os guardas viram quando foram atacados e chamaram por reforços.

Ok, isso explica muita coisa.

Mordo o lábio inferior, um tanto duvidosa.

— Você disse que interveio quando Raven estava atacando e matando guardas na praia, certo? — Ele assente, então continuo: — Como fez para dominá-lo?

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