Capítulo II

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— E então?

— Raven. Eu me chamo Raven. Onde estou? — Ele se levanta e começa a andar pela casa, analisando o ambiente.

— Em minha casa. Sob os cuidados de minha mãe. — Limpo a garganta. — O que é você?

Seus olhos dourados repousam sobre mim.

— Eu sou o n°17.

— 17?

— Experimento n°17, Raven. — Ergue os braços e aponta para os pequenos chifres. — O que teve uma… complicação que me proibiu de ter contato com humanos.

— Isso não me parece um problema.

— É claro que não. — Aproxima-se de mim de um modo um tanto quanto perturbador. — Você é perfeita. Sequer parece um experimento.

— Deve ser porque eu não sou um experimento. — Amparo seu peito com minhas mãos e o empurro.

— Impossível. Se não fosse, eu já a teria atacado.

— Talvez você tenha vindo com outro defeito além do par de chifres. — Empertigo-me na cadeira. — Afinal, o que são esses "experimentos"?

Raven volta a mexer em todos os objetos da casa que lhe chamam a atenção e quase acredito que não me responderá.

— Os experimentos foram desenvolvidos por estudiosos com o único objetivo de provar para o mundo que humanos podem adquirir poderes sem necessitar de uma visão elemental.

— Então você deve ter muito além de dois chifres, não? — Reprimo um sorriso.

— Tenho a leve impressão de que está me insultando.

— Jamais. — Faço um sinal com as mãos. — Continue sua história.

— A primeira fase dos experimentos era fazer com que as cobaias mantivessem a aparência humana, ou a mais perto disso possível. O problema é que a água subiu antes mesmo de começarem a segunda, que era ajustar a personalidade de cada experimento para que eles pudessem conviver entre os humanos sem atacá-los.

A subida da água.

Lembro-me vagamente disso. Deveria ser muito nova para tal.

— Então vocês tem dificuldade para socializar? Que grande tragédia.

— Continuo acreditando que está zombando de mim. Tem certeza de que não está…

— Não, só imagino que você deva ter batido fortemente a cabeça numa árvore. Talvez seus chifres até tenham encolhido no processo. Já pensou na possibilidade de eles retrocederem para sua cabeça e penetrarem seu cérebro? — pergunto, visualizando uma cena nada agradável.

— Eu não estou louco. Podemos ir para a água, se quiser. Posso lhe mostrar como sou verdadeiramente.

— Sabe, Raven, eu adoraria vê-lo se exibindo. — Olho pela janela. Está começando a anoitecer. — Mas faz bastante tempo que você estava brincando de Bela Adormecida e minha mãe ainda não voltou com Blanche, então eu realmente preciso ir atrás delas.

De fato, compreendo a demora delas para retornarem para casa às vezes, Blanche adora ver os autômatos e tudo mais. Mas dessa vez é demais.

— Eu a acompanharei, nesse caso. Seria bem rude de minha parte deixá-la andar sozinha à noite com tantos monstros a solta. — Sai antes de mim, me deixando confusa.

Ele estava desmaiado em meio à relva, tinha cabelos pretos que tornaram-se brancos, disse que não é humano e que ataca aqueles que vê e agora está se oferecendo para me acompanhar, como se eu fosse uma donzela indefesa.

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