Capítulo III

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Acordo num sobressalto.

Um raio parece ter me atingido. Um raio dos mais potentes.

Arconte Electro, o que eu te fiz?, penso ao colocar uma mão na cabeça.

— Como se sente? — pergunta uma melusine, à minha frente.

— Parece que fui esmagada por diversos slimes incontáveis vezes.

— Bem, seu amigo fez um esforço para lutar com você em mãos. Você se feriu um pouco no processo, mas nada demais. Sobreviverá.

Arregalo os olhos.

— Como? O que aconteceu?

— Algumas vidas foram perdidas na floresta próxima de onde você estava e na praia. Foi uma situação bem… complicada.

Olho em volta. Estou em uma ala médica. Raven não está aqui.

— Onde ele está?

— Então se preocupa com ele?

Franzo a testa, um tanto quanto indignada.

— Claro que não, eu não o conheço há sequer um dia!

— Ele não parece sentir-se da mesma forma. — Ela cruza seus pequenos bracinhos, duvidosa. — De todo o modo, devo informar ao Iudex que está acordada e pronta para um julgamento.

— Como?

— Vocês estão sendo acusados – com provas – de assassinato.

Sinto um gosto ruim na boca.

Não pode ser.

— Mas eu não fiz nada! Eu o pedi para não fazer também e…

— Não sou eu quem a julgará, senhorita…

— Claire. — Reviro os olhos. — Claire Cheshire.

— Muito bem — diz, depois de anotar meu nome em sua prancheta. — Estou saindo para registrar seu tratamento e pegar alguns remédios. Também contatarei o Monsieur Neuvillette para que a leve. Não temos ideia do quão perigosa pode ser, se for agressiva como o outro.

— Espere! — Ela sai da sala.

Droga!

Eu não acredito que irei a julgamento por algo que não fiz. E sequer tenho provas de que não o fiz.

O que direi para minha mãe?

Não quero parar na Fortaleza Miropide. Sou muito jovem e ainda tenho muito pela frente para ser acusada de algo como assassinato.

A pena mínima já deve me tirar de lá com cabelos brancos!, pego uma mecha de meu cabelo para o encarar. Bem, mais brancos.

Aperto o lençol da maca.

— Minha mãe me matará.

— Não se preocupe, Senhorita Claire. — Uma voz suave com um ar autoritário ressoa e, segundos depois, um homem alto entra na sala. — Tenho certeza de que a prisão é segura. Ninguém a matará ou a perseguirá. Confio plenamente na regência de Wriothesley.

— Monsieur Neuvillette! — Abaixo a cabeça em sinal de respeito. — Desculpe, eu não dizia no sentido literal. É só que saber que fui presa a deixará louca.

— Está se precipitando um pouco, senhorita. O julgamento ainda está para acontecer. Como tem tanta certeza de que será presa?

— Porque eu não tenho provas ou sequer testemunhas de que não fiz nada. Veja que engraçado — forço um sorriso —, as testemunhas que eu poderia ter estão todas mortas.

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