Capítulo 7 - "O bom doutor"

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Alguns dias se passaram desde o dia em que flagrei aquela cena absurda, naquele banheiro vintage ridículo, dos anos oitenta

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Alguns dias se passaram desde o dia em que flagrei aquela cena absurda, naquele banheiro vintage ridículo, dos anos oitenta. Eu ainda estava sensível a esse assunto, então evitava a todo custo falar sobre, desde então Judy tem faltado ao trabalho e Rick me ligava insistentemente, me pedindo perdão e jurando amor eterno; era tarde demais pra isso.

Naquela noite eu tive meu coração arrancado de meu peito, Rick foi o meu primeiro amor, a pessoa que eu depositei toda a minha confiança, o primeiro homem que eu amei. A dor da traição dói, é dilacerante, mas a dor de perder a fé no amor é ainda maior; Rick levou de mim tudo aquilo que eu acreditava, e pra mim acabou ali o que um dia eu acreditei o que era amar.

Mais um dia chuvoso em Siattle, me levanto da cama quente e aconchegante e me sento sobre o colchão, fico alguns segundos esperando a vontade de viver chegar até mim. Vou em direção ao armário e procuro uma roupa confortável para trabalhar, opto por uma calça de alfaiataria de cor preta, uma camiseta de mangas longas e gola alta da mesma cor da calça; escolho um casaco sobretudo e nos pés um vans azul escuro.

Lembrei-me que era dia de psicóloga, então resolvi ir um pouco mais arrumada que o normal.

Dou um jeito no cabelo os deixando soltos, apenas arrumando a franja sobre a testa. Apanho minha mochila onde levava o necessário e coloco meu celular em um dos bolsos; caminho até a porta e a abro devagar, era o cúmulo eu ter que andar me escondendo dentro da minha própria casa.

Ando até a cozinha e encontro minha mãe preparando o café da manhã, me aproximo dela e lhe dou um abraço.

— Bom dia mãezinha! — dou um beijo em sua bochecha. — Onde está o Ethan?

— Bom dia meu bem, o Ethan já saiu, disse que tinha uns assuntos para resolver. — ela diz me servindo uma xícara de café.

— Ótimo, perdi minha carona. — olho em meu relógio de pulso, em seguida bebo meu café. — Estou atrasada, beijo mãe, até mais tarde.

Deixo a xícara sobre a mesa e caminho em direção a saída, sem querer acabo esbarrando em Charles, ele segura meu braço e se aproxima cheirando meus cabelos.

— Sempre cheirosa, estou com saudades Mavie. — ele diz em tom baixo.

— Me deixe em paz!

Puxo meu braço e saio de casa as pressas.

Já do lado de fora pude respirar com tranquilidade, saí tão apavorada que acabo esquecendo meu guarda-chuva; coloco o braço sobre a cabeça para tentar não me molhar tanto e comecei a caminhar.

Precisava chegar até o hospital, não era tão longe dali, eu podia ir caminhando porém demoraria muito mais. Enquanto andava pelas ruas a chuva não parava, eu já me encontrava toda molhada. Parei em um ponto de ônibus para esperar a chuva dar uma trégua.

Estava distraída e nem percebi um carro se aproximar e parar em frente ao ponto, o vidro abaixa e vejo Rick me encarar, a expressão que ele tinha era de arrependimento; por um momento cogitei a ideia de perdoa-lo, mas não seria justo comigo, afinal meu coração ainda ficaria quebrado.

— Entra no carro! — sua voz estava um pouco alterada.

Me aproximei devagar e abro a porta entrando no veículo, fiquei um pouco retraída, ele parecia ter bebido, o cheiro de álcool o entregava; suas roupas estavam amassadas e desalinhadas, e sua aparência não era nada boa.

— O que você quer de mim? — digo sem ter contato visual. — Não foi o suficiente ter arrancado o meu coração com as próprias mãos?!

Ele da partida no carro e permanecia em silêncio.

— Aquilo foi um erro, Mavie. — seu tom de voz agora estava calmo. — Foi um deslize, você sabe que eu te amo.

— Ama? Você transou com a minha melhor amiga, você me enganou!

Sinto ele me olhar de canto, mas não tenho coragem de olha-lo, eu estava com medo.

— O que o seu padrasto vai dizer? Em? Já pensou nisso? — Ele apoia uma das mãos em minha coxa e a aperta. — Ele me adora Mavie, eu posso dar uma vida de rei a ele; se ele souber que terminamos, ele vai fazer coisas horríveis com você.

Tiro suas mãos de mim e me encolho no canto do banco.

— Ele não vai saber, eu não vou contar!

— Mas eu vou, e ainda vou mostrar umas foto muito boas de você.

O encaro e seu sorriso era maquiavélico.

— Que fotos? Do que está falando? — questiono amedrontada. — Que fotos, Rick?

Ele pega o celular de seu bolso e me estende, ali estava eu, parecendo uma atriz porno, sendo ridicularizada e exposta; eu não fazia ideia que ele fotógrafava as nossas intimidades.

— Charles já sente um tesão enorme por você, isso aqui é um banquete para ele.

— Você é nojento, isso só me fez ter mais raiva e ódio por você.

Ele para o carro em frente ao hospital e nós descemos, antes que eu pudesse me afastar sinto ele segurar meu braço com força.

— Escuta aqui Mavie, eu não estou brincando, ou você me perdoa e volta comigo — Ele aperta o meu braço ainda mais forte. — Ou essas fotos estarão nas redes sociais, a escolha é sua.

— Me solta, está me machucou! — Puxo meu braço e sinto latejar aonde ele apertou. — Me esquece Rick.

Entro no hospital as pressas, já do lado de dentro sinto que podia respirar em paz, Rick estava sendo incoveniente como sempre.

Caminho pelo corredor distraída e acabo esbarrando em um dos médicos do hospital, o reconheci imediatamente, era o mesmo médico que havia ido a cafeteria outro dia; o ajudei a recolher os papeis e segui para a minha consulta. Ele me olhava de forma estranha, como se fotografasse o meu rosto, ou algo assim.

O bom doutor não me parecia estranho, era como se eu o conhecesse de algum lugar, seus traços eram marcantes demais para serem esquecidos. Os cabelos cacheados bem definidos e caidos sobre a testa, os olhos âmbar e o maxilar triangular era o que mais se destacava em seu belo rosto; e sem contar que seu sorriso era de matar qualquer garota.

Eu não queria a aproximação dele, por mais que ele fosse bonito e interessante, ele é homem; e eu tenho todos os motivos do mundo para não confiar em mais nenhum.

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