Capítulo 8

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Minha mãe e eu não tínhamos conversado mais sobre o Dia da Família na Lincoln desde que ela o mencionara pela primeira vez. Achei que fosse um bom sinal. Quatro dias antes da data, percebi o quão enganada eu estava.

- Então - ela disse do fogão, onde mexia uma panela de sopa que tinha preparado para o jantar -, precisamos combinar certinho como vai ser no final de semana.

Aquele era o seu papo típico - ela gostava de planos e agendas e sempre garantia que ambos estivessem definidos com dias de antecedência. Por isso não percebi do que estava falando.

- Tenho o aniversário de Lisa na sexta. E Rose me convidou para jantar no sábado, se não tiver problema.

Ela provou uma colherada da sopa, ainda de costas para mim, e disse:

- Tudo bem na sexta. Mas sábado temos o Dia da Família. Talvez a gente volte tarde, então é melhor não fazer outros planos.

Fiquei em silêncio por um minuto, ganhando tempo para pensar em como reagir. Por fim, respirei fundo e disse:

- Então Jay disse que posso ir com vocês?

Pausa. Em seguida:

- Seu pai tem uma conferência, então vamos ser só nós duas. E Jay chegou a preencher um formulário para você. Acho que isso quer dizer que sim.

Ao contrário da minha mãe, meu pai não visitava Jay com frequência.

Ele a tinha acompanhado nas primeiras vezes; sempre voltava com um ar de exaustão e desaparecia no escritório. Para alguém que ganhava a vida consertando as coisas, não devia ser fácil ver o próprio filho numa situação impossível de consertar. Ele conversava com Jay e garantia que ele tivesse tudo de que precisasse em termos de produtos de higiene e alguns pequenos luxos permitidos. Mas eu tinha a sensação de que para o meu pai era mais fácil acreditar que meu irmão só estava fora, sem saber demais sobre o lugar onde vivia de verdade. Ele o mantinha longe dos olhos para fingir que estava longe do coração.

Eu claramente não ia ter essa opção, mesmo se meu irmão e eu a preferíssemos. Era raro minha mãe desistir de algo que já tinha colocado na cabeça. Gostando ou não, eu iria no sábado.

- Uau - Lisa disse depois que contei para ela sobre sábado quando nos encontramos na Frazier depois da escola para estudar. - Nunca fui numa prisão.

- A maioria das pessoas nunca foi - repliquei, melancólica, e tomei um gole do complexo café que Dave! mais uma vez tinha me convencido a comprar. Era uma bebida gelada, pastosa como barro, mal subia pelo canudinho, mas deliciosa. - Só os sortudos como a minha família.

Jisoo, numa rara tarde livre, olhou para mim do outro lado da mesa.

- Deve ser estranho, né? Você está com medo? Tipo, medo das outras pessoas que estão lá?

Era uma pergunta que, na verdade, jamais tinha me ocorrido. Conseguia lidar com outros criminosos encarcerados; só meu irmão me deixava desconfortável.

- Eu realmente não queria ir. Queria que fosse possível faltar.

Ambas me encararam com o olhar solidário. E então Lisa pôs a mão sobre a minha.

- Mas a gente vai se divertir muito sexta à noite, certo? Margaret também vai. Você finalmente vai poder conhecê-la.

Lisa tinha comentado algumas semanas antes sobre essa nova amiga,que tinha acabado de chegar de Massachusetts. Desde então, raramente tivemos uma conversa em que o nome dela não fosse mencionado. Ao que parecia, Margaret era incrivelmente engraçada, legal e até mais inteligente que Lisa, o que eu nem sabia que era possível. Mesmo Jisoo, que não se impressionava fácil - a não ser com alguém que saltasse melhor do que ela -, veio me contar que Margaret não só falava mandarim como já tinha saído com um cara que era primo de um ator de um dos nossos programas prediletos.

Os Bons Segredos (JenKook )Onde histórias criam vida. Descubra agora