Tentei manter distância de jungkook. Juro que tentei. Mas era difícil com Rose sempre nos empurrando um para o outro.
- Eu me sinto tão mal - ela disse na Seaside, mais ou menos uma semana depois de levar Spence para conhecer o pai e oficializar a relação.
Ele já não fazia mais trabalho voluntário à tarde como antes - Rose alegava que ele tinha se sobrecarregado e que decidiu maneirar, mas eu imaginei que já devia ter cumprido as horas obrigatórias -, então eu só encontrava minha amiga nos dias em que ele tinha outros compromissos.
- Nunca quis ser a garota que troca a melhor amiga pelo namorado - ela lamentou.
- Você não me trocou - eu disse. - Estamos aqui agora, não estamos?
Ela fez que sim e pegou a borda da pizza, olhou para ela por um momento e a jogou de volta no prato.
- Mas quando eu não estiver, você pode fazer entregas com Jungkook. Ele disse que você gostou.
- Rose - eu falei, pondo o lápis de lado -, você não precisa me arranjar uma babá. Estou bem.
- Eu sei, eu sei - ela disse, erguendo as mãos na defensiva. - É que...
O celular dela apitou e a tela acendeu. Ela conferiu a mensagem e, com um sorriso, digitou uma resposta. Era engraçado como poucas palavras eram capazes de alegrar uma pessoa. Eu entendia isso muito bem, especialmente nos últimos dias.
Desde que Jungkook me dissera que lembrava da primeira vez que me viu,alguma coisa mudou. Antes, a ideia de que poderíamos ficar juntos era uma fantasia distante, o mais ridículo dos devaneios. Mas naquele momento,com Rose obcecada por Spence e nós dois passando mais tempo juntos,sem falar no que quase tinha acontecido na caminhonete... havia algo de inevitável no ar. Já não era mais uma questão de "se", mas apenas de "quando".
- São vinte e seis e quarenta e dois descontados no seu cartão de crédito - informei à senhora com cara de acabada, vestida com calça de moletom e um cardigã amarrotado. Atrás dela, do outro lado da porta,várias crianças pulavam num sofá diante da TV, que exibia desenhos animados.
Em silêncio, ela pegou as duas pizzas das minhas mãos. Assim que me deu a gorjeta, uma das crianças se desequilibrou do sofá e caiu no tapete com um baque. Pausa. Quando o choro começou, ela fechou a porta.
- Cinco dólares - falei para Jungkook ao subir na caminhonete. - E eu estava certa: pizzas só de queijo são sinal de crianças, várias crianças. E você perdeu uma delas caindo de cara no tapete.
- Droga - ele falou e engatou a ré. Quando fui colocar a nota no copo plástico que ficava no painel, ele disse: - É sua. Você que trabalhou.
Olhei bem para ele.
- Eu só fui até a porta.
- Já conta - ele insistiu. Guardei a nota com as outras mesmo assim.
Depois de uns dias de entregas juntos, tínhamos desenvolvido um sistema: Jungkook dirigia e controlava os pedidos à espera na Seaside; eu corria de um lado para o outro, para pegar a comida e a levar até os fregueses. Ele achava que era eficiente, que gastava melhor o tempo programando a próxima parada e as nossas viagens de volta para pegar mais pedidos. Mas eu tinha certeza de que ele só queria que eu realizasse minha vontade de ver o que havia atrás das portas.
- Universitárias - relatei depois de voltar da parada seguinte, uma casa grande e amarela bem em frente à faculdade. - Eu devia ter adivinhado com todas aquelas saladas.
- Veja só você: a adivinhadora das entregas.
- Mas há ciência por trás disso - eu disse ao botar a gorjeta no copo. Quando sentei no banco, reparei que ele estava me olhando. - Que foi?
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Os Bons Segredos (JenKook )
RomanceJennie sempre se sentiu invisível, já que Jay, seu irmão mais velho, era o foco da atenção da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paralítico, e vai para a prisão. Jennie parece ser a única a responsabilizá...