Capítulo 13

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Pensei que tinha escapado do Dia da Família na Lincoln. Duas semanas depois, porém, outro problema apareceu. Como sou sortuda.

- Tenho ótimas notícias - minha mãe anunciou um dia durante o jantar. De repente, tudo fez sentido: a maneira como ela cantarolava ao pôr a mesa, o jeito superalegre como perguntou sobre meu dia na escola. - Vamos conseguir ver Jay. Todos nós, juntos.

- Sério? - meu pai perguntou.

Ela confirmou com a cabeça. Estava tão feliz que queria fazer suspense.

- Recebi uma ligação hoje. Ele completou o primeiro curso lá e vão fazer uma cerimônia de formatura. Todos os parentes estão convidados.

Do jeito que minha mãe falava parecia que Jay ia receber um diploma de Harvard, não o certificado de um curso na prisão que, para ser honesta,era obrigatório. Mas minha mãe era assim. Quando o assunto era Jay,qualquer coisinha boba já virava um feito sensacional.

- É o curso de cidadania? - meu pai quis saber enquanto pegava mais pão.

- Cidadania e leis. - Ela tomou um gole de vinho. - É tão bom. Ele aprendeu muito e agora que concluiu o curso pode fazer outros. Há várias opções na verdade. Michelle diz que a Lincoln é ótima nesse sentido. O diretor acredita muito na importância da educação.

- Quando vai ser isso? - outra pergunta do meu pai.

- Final de novembro - ela respondeu. - Acho que podemos ir de carro na noite anterior e ficar num hotel ali perto. Assim não precisamos sair daqui de madrugada.

- Mas eu tenho aula - comentei automaticamente.

Pela primeira vez naquele dia, a animação da minha mãe murchou.

- Você pode faltar um dia, Jennie. É importante.

Fim da discussão. Meu pai me lançou um olhar, como se estivesse prestes a dizer algo, mas então voltou a comer. E assim começou a contagem regressiva.

Tudo foi planejado e dois quartos de hotel foram reservados. Um para mim e minha mãe, outro para meu pai e Gray, que logicamente nos acompanharia. Minha mãe ativou o modo "fazer contatos" e falou com algumas famílias de "formandos" da Lincoln (ela insistia em chamá-los assim) para que levassem bolos e doces para um café da manhã especial depois da cerimônia. Bastou isso para minha mãe voltar à zona de conforto.

De fato, estava tão ocupada que mal percebia que eu passava quase todas as tardes na Seaside. Por mim, tudo bem.

- Então ele fez um curso? - Rose me perguntou um dia enquanto fazíamos lição de casa. - Não sabia que tinha escola dentro da prisão.Pensei que ficar trancafiado já fosse punição suficiente.

Ao contrário de Lisa e Jisoo, com quem sempre compartilhei a vontade de ir bem na escola, Rose basicamente passava as aulas contando os minutos para o sinal tocar. Até a lição de casa a deixava de mau humor, e ela precisava de uma média de três pirulitos para terminá-la.

- É um curso que todo mundo lá precisa fazer, sobre leis. - Virei a página do livro de matemática. - Acho que pra lembrar os presos de não quebrá-las.

- Eu achava que toda essa história de ficar atrás das grades já servia pra isso. - Ela pôs o pirulito na boca e tirou em seguida. - - Mas acho que consigo entender o propósito deles. Se ter aula fosse a única atividade que eu pudesse fazer, com certeza ia amar.

Ergui uma sobrancelha e olhei bem pra ela. Já fazia mais de uma hora que estávamos ali sentadas e Rose só tinha rabiscado o próprio nome e uns coraçõezinhos no papel.

- O.k., talvez não - ela suspirou. - Acho que é hora de uma pausa. Quer ir na SuperThrift?

- Rose.

- Quinze minutos.

Os Bons Segredos (JenKook )Onde histórias criam vida. Descubra agora