Capítulo 17

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- Espera. Quer dizer que não podemos usar o estúdio?

- Não, vocês podem - respondi. - Só vai ser mais complicado do que eu tinha pensado.

Eu estava encostada no peito de jungkook na caminhonete, envolta em seus braços. Quando virei, ele me olhou de um jeito que já era familiar: alerta,atento. O Jungkook de sempre.

- Complicado - ele repetiu. - Que promissor.

- Vai dar certo - respondi, voltando a olhar para a frente. - Apenas confie em mim. Certo?

Ele ficou em silêncio. Voltei a encostar a cabeça no peito dele e abracei os joelhos. A cabine da caminhonete estava lotada de coisas e cheirava a alho.Estava longe de ser o lugar ideal para ficarmos juntos. Mas eu tinha aprendido a não esperar a perfeição. E, na verdade, aquilo estava bem próximo dela.

Fazia menos de uma semana desde a tarde no bosque. A partir de então,uma coisa inacreditável tinha acontecido atrás da outra. Nos despedimos meia hora mais tarde e ainda assim ficamos enrolando, coisa que eu só vira acontecer com os outros, até que finalmente tomei o caminho de casa.

Troca de mensagens a noite inteira e um telefonema final, de modo que a voz dele foi a última coisa que ouvi antes de dormir. Então veio o dia seguinte, o primeiro na escola. Tudo foi tão diferente, pelo menos para nós.

De novo, eu era uma garota com um segredo. Dessa vez, porém, um bom segredo.

Eu me sentia mal em esconder qualquer coisa de Rose, especialmente algo tão grande como aquilo: eu me apaixonando pela primeira vez. Mas era complicado. Kimmie Crandall, o caso exemplar, estava sempre na minha cabeça. Por mais que Rose gostasse de mim, Jungkook era seu irmão. Melhor ser discreta, pelo menos por enquanto. Então nos esforçamos para agir normalmente. Na escola, durante o almoço, sentávamos nos nossos bancos separados. Na Seaside, ele se mantinha atrás do balcão com os livros enquanto Rose e eu íamos para nossa mesa de costume fazer lição de casa. Nada tinha mudado, a não ser quando ficávamos a sós.

Como naquele momento, estacionados num parquinho de bairro. Sem entregas a fazer, sem lugares aonde ir. O motor estava desligado, mas a cabine continuava quente quando me encolhi contra ele. Do lado de fora, a brisa levantava folhas vermelhas e amarelas que serpenteavam pelo para-brisa do carro. Numa transformação que eu jamais esperaria, aquelas horas entre a escola e o jantar que antes eu tanto lamentava tinham se tornado as mais esperadas do dia.

Eu também aprendia coisas novas sobre ele o tempo todo. Não só que ele beijava bem (muito bem, na verdade) e que tinha o abdome mais rígido que eu já vira ou tocara (talvez por causa dos Kwackers?). Também notei como sua franja precisava sempre ser posta para o lado, o que ele fazia jogando levemente a cabeça para trás, gesto que eu considerava sua marca registrada. Havia ainda o jeito que falava de um assunto que o preocupava - o desejo do pai que ele assumisse a pizzaria, por exemplo. Jungkook baixava automaticamente a voz, fazendo com que me aproximasse, prestasse mais atenção.

- Para meu pai, as coisas são assim e pronto - ele me contou uns dias antes quando o assunto veio à tona. - A pizzaria é a família, e vice-versa.Nada passa por cima disso.

- Você na faculdade seria bom para a família - enfatizei. - Mais estudo, potencial para ganhar mais. E Rose quer assumir a Seaside.

- Rose diz que quer assumir - ele corrigiu. - Há uma diferença.

- E ainda tem Hyuna - eu disse. - Não devia ficar nas suas costas só por você ser homem.

- Não é assim que ele enxerga a situação - ele disse, e tirou o cabelo do olho de novo. - Mas mesmo assim pretendo me inscrever em algumas universidades. Não posso deixar de tentar. Seria desistir.

Os Bons Segredos (JenKook )Onde histórias criam vida. Descubra agora