Capítulo 16

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Jay não queria que eu fosse na formatura. Na verdade, não queria que nenhum de nós fosse. Mas minha mãe só estava disposta a abrir mão de mim.

- Não é que ele não queira ver você ou que não sinta saudades - ela explicou na manhã seguinte. - Ele só prefere que vocês não entrem em contato naquele ambiente por enquanto. Achei que mudaria de ideia a essa altura, mas não mudou. Na verdade, esse sentimento dos presos em relação à família é bem comum, principalmente quando se trata de crianças.

Ela falava devagar e escolhia as palavras com cuidado. Que diferença doze horas faziam. Na última vez em que eu a vira, ela tinha corrido escada acima aos prantos. Na manhã seguinte, ela surgiu calma, descansada e sã diante da cafeteira. Estava preocupada com a maneira como eu receberia a notícia. Parecia ter esquecido que eu nem queria ir, pra começo de conversa.

- Eu entendo - falei. - Tudo bem.

Ela não tirou os olhos de mim durante o café. De repente, parecia se importar com meu bem-estar, o que seria bem legal se eu não soubesse o real motivo de todo aquele interesse. Ao se concentrar no fato de que Jay não queria minha presença lá, ela podia mascarar a verdade mais abrangente sobre como ele se sentia em relação à presença dela. Minha mãe sempre fora boa em diminuir os problemas.

- Como eu já disse - ela prosseguiu -, o tempo de Jay na Lincoln será marcado por uma série de transições. É bem possível que a carência emocional dele em relação a nós se manifeste como uma vontade de se afastar. Por isso é importante permitir que ele faça o que julga necessário, demonstrando ao mesmo tempo que estamos ao lado dele e não vamos abandoná-lo.

Meu pai, numa das raras vezes em que podia entrar mais tarde no escritório, entrou na cozinha ajeitando a gravata. Ele já tinha comido, mas mesmo assim parou diante do fogão e beliscou os ovos mexidos.

- Então você ainda vai? - perguntei. - Para a formatura?

- Seu pai e eu vamos. Vamos pedir para Gray e Marla ficarem aqui com você. Acho que é o melhor plano.

- Não preciso de ninguém aqui comigo - disparei. - Quer dizer, é só uma noite.

- Já está tudo certo - ela me disse com os olhos no meu pai. - Não está?

- Comentei com ele ontem - meu pai respondeu enquanto limpava a boca no pano de prato. - Parece que a relação com Marla... esfriou. Mas ele vai ficar feliz em ajudar.

- É mesmo? - Minha mãe arregalou os olhos para o meu pai. - Eu não fazia ideia! Ele não me contou nada sobre o fim do namoro.

Com o tanto que ele e a minha mãe conversavam, era até que surpreendente. Mas eu tinha aprendido a esperar tudo de Gray

- Ele não pareceu chateado - meu pai disse com mais um pouco de ovos mexidos na boca. - Em todo caso, ele vai trabalhar à noite nesse dia,mas vai tentar sair mais cedo.

- Não precisa - falei, talvez com um tom de voz firme demais, porque os dois me encararam. - Vou ficar bem.

- Jennie, já conversamos sobre isso. Não quero você sozinha - minha mãe disse. - Gray ficou com você da última vez e deu certo, não deu?

- Eu fico na casa da Rose - propus, em vez de responder.

- Com escola no dia seguinte? Não. - Ela recostou na cadeira. - Para ser sincera, considerando o tempo que você passa lá e na pizzaria deles,estou preocupada que já estamos abusando.

- Então eu a convido para dormir aqui. - Depois de pensar um pouco,emendei: - Na verdade, podíamos usar o estúdio nesse dia. Assim não incomodaríamos vocês.

Os Bons Segredos (JenKook )Onde histórias criam vida. Descubra agora