Capítulo 26

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— Pronta?

Olhei para Jungkook atrás do volante da caminhonete.

— Como jamais estarei.

Ele sorriu e apertou minha mão. Então saímos da vaga em frente à Seaside e seguimos nosso rumo.

Tinham se passado dois meses desde a noite do festival, e um novo ano se iniciara. Eu já sabia que seria melhor que o anterior.

A sra. Park se recuperava em casa, e os filhos e o marido se reuniam à sua volta mais do que nunca. A Maravilhoso ou Catastrófico não tinha vencido o festival — os juízes deviam ser mais fãs de gritaria do que Irv —, mas atraíra o interesse de um dono de estúdio da região, que gravaria uma demo de verdade para a banda em troca do trabalho de Hobi. Um emprego realmente ligado à música deixou o ego dele ainda maior, algo que parecia impossível.

Rose, por sua vez, com certeza enxergava as coisas de um jeito diferente; pelo menos foi o que percebi no hospital dois dias depois da apresentação. Com as minhas provisões de costume — batatas fritas, revistas e pirulitos — na mão, entrei no quarto esperando encontrá-la no lugar de sempre: a poltrona ao lado do leito da mãe. Ela estava lá, mas não a sós. Hobi estava estirado na poltrona reclinada, e ela aninhada contra ele, com os braços em volta do seu pescoço. Dei um passo para trás, surpresa, e não comentei nada quando nos encontramos depois no corredor. Duas semanas mais tarde, quando eles anunciaram oficialmente o namoro, fiz questão de fingir surpresa.

Quanto à minha relação com Jungkook, estávamos firmes. O fato de a minha mãe ter aliviado o controle da minha agenda contribuía. Eu não tinha liberdade plena — tratava-se de Julie Kim, afinal —, mas encontramos um meio-termo. Eu estava livre no almoço, mas ainda trabalhava três dias por semana no Kiger com Lisa. Isso nos ajudou a manter contato, e Jisoo aparecia com frequência para almoçar com a gente (nem era necessário dizer que Margaret, apesar de ainda estar por perto, não estava convidada). Rose e eu tínhamos pelo menos uma tarde reservada por semana para ir à SuperThrift e sair em busca das melhores batatas fritas,isso quando eu não estava tentando ensiná-la a dirigir — um processo assustador e hilário, quase sempre ao mesmo tempo. O tempo que sobrava eu passava com Jungkook, ou na casa dele, ou na Seaside, ou na caminhonete, fazendo entregas. Minhas previsões continuavam certeiras, modéstia à parte. O sr. Jeon disse que eu levava jeito para o negócio. Pra ser sincera, nunca ficara tão feliz com um elogio.

Quando decidimos não prestar queixas contra Gray, o advogado dele parou de entrar em contato com o meu pai a respeito das lesões, e nunca mais ouvimos falar dos dois. Meu irmão, por sua vez, tinha passado a ligar regularmente no meu celular para que pudéssemos conversar longe de casa e dos nossos pais. Tínhamos muito o que dizer depois do que ocorrera com Gray e tudo mais. Às vezes as pausas e os silêncios pareciam pesados a ponto de me esmagar. Quando tudo falhava, podíamos voltar ao Big Nova York. Eu estava quase o convencendo a mudar para o time da Ayre. Era umavanço.

Jay também mantinha um contato cada vez mais constante com meus pais e ligava com mais frequência. Ele tinha começado a correr na pista todos os dias durante o banho de sol e estava focado em melhorar a velocidade, lendo tudo o que conseguia sobre treinamentos. Minha mãe, que participara da equipe de corrida cross country na faculdade, era perita na matéria, e com esse interesse em comum uma nova e hesitante fase da relação dos dois começou. No fim, Jay pediu que ela fosse visitá-lo. Logo que soube, fiquei apreensiva, receosa de que sua obsessão pela vida dele voltasse. Mas minha mãe me surpreendeu. Ela visitava, gostava dos telefonemas e especialmente das conversas sobre corrida. Mas deu a Jay o espaço de que ele precisava e o deixou se aproximar dela de vez em quando, em vez de sempre ir atrás dele.

O fato de ela ter encontrado uma nova causa a que se dedicar ajudou. Depois daquela noite no Hospital Universitário, ela voltou para visitar a sra. Park. As duas acabaram conversando sobre os problemas dos convênios e da falta de atenção do hospital em relação aos pacientes e suas famílias. O que começou como uma oferta de se reunir com alguns administradores do hospital em nome dos Park/Jeon para levantar informações acabou, ao longo das semanas seguintes, com ela se voluntariando para ajudar na relação com os pacientes e com a perspectiva de um emprego de fato. Ela dizia que ainda estava pensando, que estava ocupada com outras coisas, mas meu pai e eu sabíamos que acabaria aceitando. Minha mãe adorava uma boa causa e jamais faltaria uma no hospital.

Os Bons Segredos (JenKook )Onde histórias criam vida. Descubra agora