Capítulo 1| Mathilde

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Ser chefe da máfia italiana seria o meu futuro inevitável desde que nasci, mas eu não esperava tomar o cargo do meu pai tão cedo.

Após a catástrofe que tirou a vida de centenas de pessoas da nossa comunidade, foi-me atribuída a missão de reconstruir o império dos meus antepassados, embora fosse quase impossível manter os alicerces, que foram completamente arrasados.

A minha família não resistiu ao atentado. Todo o legado dos Benedetto foi completamente destruído. A única prova que restava da nossa existência era eu.

Desde aquele dia, carrego o peso de uma família inteira. Procuro continuar o duro trabalho feito pelo meu pai e, ao mesmo tempo, anseio por vingança.

Destruir quem ousou atacar a máfia italiana de uma forma tão cruel. Destruir o culpado pelo luto vivido em todo o nosso território.

Meter-se no meu caminho nunca foi uma ideia inteligente, mas depois que herdei todo este poder, fiquei inquebrável. Eu já perdi tudo o que tinha.

Os meus familiares, os velhos amigos, as pessoas com quem cresci. Muitos foram vítimas mortais, outros fugiram nessa noite e nunca mais deram sinais de vida.

Num dia, tudo estava bem dentro da comunidade. Os negócios do meu pai eram bem-sucedidos, vivíamos confortavelmente. Éramos o futuro da máfia e estávamos orgulhosos disso.

No dia seguinte, tudo desmoronou. Apenas Gustavo, meu primo e atual braço direito, ficou. Ian e Ivy, os filhos gémeos de Enrico Durand, antigo braço direito do meu pai, não aguentaram viver o luto de ambos os progenitores e deixaram a comunidade sem qualquer aviso.

Fiquei ainda mais devastada. Sempre fomos nós os quatro. Lembro-me de acordar todos os fins de semana animada por passar o dia com Ivy. Muitas vezes, ficávamos no jardim de sua casa a ver os rapazes a jogar futebol. Crescemos juntas, eu considerava-a a irmã que nunca tive.

Quando ficamos mais velhos, comecei a perceber uma certa tensão entre ela e Gustavo. Ian não ficou muito contente por saber que o melhor amigo estava apaixonado pela irmã, mas era impossível separá-los. Infelizmente, poucos dias depois de finalmente admitirem os seus sentimentos um ao outro, aconteceu o fatídico incêndio no salão de festas.

Foi horrível para mim viver uma experiência tão tramautizante, com apenas dezassete anos, mas o meu luto intensificou-se pela ausência dos meus amigos de infância. Primeiro, pensei que não tivessem resistido às chamas. A ideia dos seus corpos carbonizados deu-me a volta ao estômago. Alguns dias depois soubemos da fuga.

Três anos após aquela noite, ainda é extremamente difícil lidar com as suas consequências. Os mortos foram tratados com toda a dignidade e glória, mas a falta de vingança não me deixava dormir.

Eu prometi, ajoelhada perante o caixão dos meus pais, que encontraria o responsável e o faria sofrer por todas as atrocidades que cometeu contra nós. Enquanto essa promessa não estiver realizada, não descansarei.

Encontrar Ian e Ivy também é um objetivo. Gustavo tem procurado incessantemente o paradeiro deles, ainda com uma réstia de esperança de conseguir ser feliz com Ivy. É angustiante vê-lo tão preso ao passado. Com apenas vinte e três anos, ele não se permite viver, atormentado pelo que ficou para trás.

Não o julgo. Se não tivesse estado afundada no trabalho sistematicamente, teria cedido à dor e não aguentaria seguir com o legado da família.

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