Capítulo 17| Mathilde

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Seis horas depois, ainda não acredito que invadimos a máfia russa e matamos Nikolai. Não acredito que conseguimos fugir com vida e resgatar Ivy e Hannah. A adrenalina ainda me corre nas veias.

Ivy senta-se à minha frente e exibe um sorriso fraco. Assim que acordou da sua sesta, ela apoderou-se da casa de banho do jato para tomar um banho revigorante depois de dias encarcerada. Ela pediu-me ajuda para cuidar devidamente dos ferimentos, que não eram muito graves, e fez uma maquilhagem leve.

Depois de três anos, não nos reencontramos nas melhores condições, mas ela continua deslumbrante. Quando saí da casa de banho, deixando-a ainda a recompor-se, Ian e Gustavo rapidamente me cercaram, com olhares apreensivos.

- Ela está bem e vai ficar muito melhor se não a sufocarem. Ivy precisa de tempo para superar o que aconteceu e voltar à sua vida normal. - afirmo.

- Tudo bem. - Gustavo suspira. - Podemos dar-lhe espaço, desde que não lhe falte nada.

- Como está o corte? - Ian pergunta, ignorando completamente o meu primo.

- Arde um pouco, mas já senti dores piores. - digo simplesmente, evitando-o, mas sinto o peso do seu olhar sobre mim.

- Não deverias ter-te arriscado daquela forma, Mathilde. - repreende.

Reviro os olhos. Eu sei que foi uma mudança de planos muito radical, mas não poderia dizer não a Marly. Não ficaríamos em paz se Nikolai continuasse vivo para se vingar de nós.

- Eu sei o que faço. - rebato.

- Não parece. - insistiu, olhando de relance para Gustavo. - Se não tivéssemos ido em vosso socorro, não estariam cá para contar a história.

Gustavo retira-se, o que me deixa estupefata. Desde quando o meu primo deixaria que o nosso amigo de infância, desaparecido durante três anos, falasse comigo assim?

- Não adianta. - pontuo. - Não faria nada diferente.

Ian já devia saber que eu nunca reconheceria que fiz algo de errado. A minha teimosia não me deixaria admitir que ele estava certo.

- Ótimo. - ele invade o meu espaço pessoal, encurralando-me. - Espero que não te arrependas do que aconteceu antes de tudo isto, então.

Antes que eu pudesse refletir sobre as suas palavras, ele envolve a minha cintura com os braços e beija-me. Marly e Kyle estavam logo ao nosso lado, mas isso não impediu Ian de devorar a minha boca como se estivesse faminto.

Eu retribui o beijo na mesma intensidade, sentindo o seu ódio reverberar pelo meu corpo, aquecendo cada célula. Ele sabia exatamente o que estava a fazer.

...

Finalmente aterramos em Itália e acho que nunca me senti tão ansiosa por voltar a casa. Eu adorava todos os membros da comunidade, mas estar rodeada pelas pessoas com quem cresci deixava-me demasiado consciente de tudo o que perdi.

O regresso de Ian e Ivy também me fez recordar o passado, de certa forma, mas sinto-me grata por todas as lembranças que eles despertaram em mim. Há muito tempo que não me sentia tão leve.

Olho pela janela do carro, observando a paisagem verdejante. Gustavo ofereceu-se para conduzir e Ian assumiu o lugar o passageiro. Ivy estava ao meu lado, adormecida, e o silêncio apoderava-se do espaço. Estava demasiado consciente de que Ian me observava pelo retrovisor, mas estava a dar o meu melhor para ignorá-lo.

Assim que saí do carro, fui recebida com alegria pela comunidade. Lucca fez um bom trabalho enquanto eu estive ausente, garantindo que ninguém sentisse a minha falta. Pelo menos, em termos práticos.

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