Capítulo 5| Ian

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Ivy não se cansou de tentar convencer-me a voltar a Itália, embora eu sempre tenha sido firme na minha resposta. Na minha perspectiva, não faz sentido nenhum voltar a um lugar que só nos traz tristeza.

Todavia, a minha irmã não ia desistir enquanto não visse como está a comunidade depois de três anos. Pergunto-me se ela terá um motivo especial para insistir tanto, algo em específico que a atraia, mas não consigo pensar em nada que tenhamos deixado para trás que cause tanta inquietude.

Acabei por ceder e, depois de deixar os negócios da máfia todos orientados e passar as responsabilidades para o meu braço direito, marcamos a viagem.

O meu plano era aterrar em Sicília e permanecer lá até conseguir informação suficiente para me aproximar da comunidade sem ser atacado. Todos desconhecem a minha identidade, mas não tenho dúvidas de que a máfia italiana está muito mais atenta e cuidadosa depois do atentado.

Sicília nunca me pareceu tão cinzenta. Lembro-me das visitas pós verão à quinta dos meus avós, onde eu e Ivy aproveitávamos para descontrair longe da vigilância dos nossos pais. Às vezes, a Mathilde e o Gustavo iam conosco, tornando as visitas ainda mais divertidas. Os meus avós adoravam ter a casa cheia e nós adorávamos sair à noite, quando eles adormeciam.

Lembro-me de muitas vezes deixar para trás Ivy e Gustavo e caminhar à beira-mar com Mathilde. A brisa da noite acalmava-me sempre e a companhia silenciosa dela era de certa forma reconfortante. Nunca comentamos sobre as nossas caminhadas, mas tenho muitas memórias delas. Às vezes, ficávamos apenas sentados a observar a atividade noturna, perdidos nos nossos pensamentos.

Ivy questionava muitas vezes a minha suposta proximidade com Mathilde. Eu negava qualquer insinuação da minha irmã, porque eram sempre absurdas. Nós não éramos propriamente amigos, porque não tínhamos muito contacto. Só estávamos juntos de vez em quando por causa de Ivy e Gustavo. As nossas caminhadas eram precisamente por causa deles.

Não sei porque é que o meu primeiro pensamento foi esse, até porque nos últimos três anos fiz questão de manter todas as lembranças bem enterradas. O ar de Itália já está a ter o seu efeito sobre mim e não me agrada nada.

A quinta parecia abandonada, embora tudo no seu interior estivesse em perfeito estado, graças à manutenção feita pelos empregados. Mesmo depois do falecimento dos meus pais, mantivemos todas as propriedades em bom estado e funcionais, embora não as visitássemos com frequência.

Não demorou muito para que eu obtivesse as informações necessárias sobre a organização da comunidade. Sentir-me-ia mais seguro se soubesse quem lidera a máfia, mas já suspeitava que seria impossível obter a sua identidade desta forma. Tal como eu, o chefe da máfia italiana deve ser bastante cauteloso e discreto.

Contentei-me apenas com a planta principal das bases e a lista de moradores da comunidade. Mathilde e Gustavo constavam na lista. Ivy não deixou de comentar esse detalhe e fez questão de reviver algumas memórias que eu tinha enterrado no fundo da minha mente. Não deixei de notar o carinho com que a minha irmã abordou os nossos amigos de infância. Começo a suspeitar que talvez eles sejam o motivo da sua vontade de regressar. É arriscado voltar a ter contacto com eles, uma vez que pertencemos a máfias rivais, ainda que eles desconheçam esse detalhe.

Ivy e Gustavo amavam-se. Eu sabia disso, apenas me fingia de cego para não deixar o meu lado controlador arruinar a felicidade da minha irmã. Ela nunca me perdoaria se eu o afastasse com as minhas ameaças. Além disso, Gustavo sempre foi um bom rapaz, e eu preferia ver a minha irmã com alguém da minha confiança do que com qualquer outro membro da comunidade. Os nossos pais também aprovavam o relacionamento deles.

Eles também estavam à espera que tu e a Mathilde se casassem.

Afasto os pensamentos intrusivos e olho pela janela do meu jato privado. Já amanhecera e estávamos prestes a pousar em Milão.

Os Caminhos da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora