Prólogo I

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- Mimoso -

Sinto o cheiro podre entrando por minhas narinas, ao fundo escuto o barulho dos urubus, com certeza revirando o lixo atrás de alguma carniça, os primeiros raios de sol batem contra meu corpo, fecho os olhos com força querendo dormi mais um pouco, porém com o barulho pássaros, vem o do caminhão, oque me faz despertar, olho para a estrada de chão, e vejo a poeira subindo, levanto rapido de cima da pilha de lixo, e começo a correr o mais rápido que posso, sinto meu batimentos cardíacos acelerados pelo medo de ser sobterrado, vou pulando os destroços, enquanto seguro meu Homem aranha com todos as minhas forças para ele não cair.
Escuto a voz da minha mãe Maria me chamando desesperada.
- Tô aqui mamãe. - Grito enquanto corro, sinto meu rosto molhar pelas lágrimas quentes. - Mamãe.
Olho para o caminhão se aproximando cada vez mais, e respiro ofegante pelo cansaço, minha barriga dói, não sei se e de fome, ou por estar correndo tão rápido, quem sabe seja de medo também.
Escorrego no meio do lixo e o caminhão se aproxima mais, a voz da minha mãe fica cada vez mais alta, volto a correr sem olhar pra trás, quando estou quase chegando, sinto o cheiro de cigarro, e trás de mim vem o velho correndo, todo sujo e fumando.
Grito com medo e sinto seus braços envolta do meu corpo me abraçando.
- Shiii... eu estou aqui meu amor. - o cheiro dela me acalma, me encolho no seus abraço, pedindo para ela me proteger.

(...)

Brinco com meu Homem aranha nas mãos, me imaginando voar bem alto, por cima de todos os prédios, no meio das nuvens, por cima do mar, os passarinhos voando ao meu lado, queria tanto ter super poder, eu seria amado por tudos.
Tenho certeza que não seria abandonado.
Me assusto com o velho que aparece na minha frente, o cheiro de cigarro e cachaça fazem minha barriga doer, com medo tento correr, mas ele puxa meu braço me arrastando para dentro do barraco velho de madeira.
Choro e esperneio para ele me soltar, mas ele só ri de mim, não consigo entender como ele pode gostar de ver uma criança sofrer, sinto o atrito do fio contra minha pele, rasgando minhas pernas e costas, aqui começa mais uma sessão de tortura, mais uma das muitas que já sofri desde que nasci, sem força acabo desmaiando, mas acordo com ele queimando minha pele com o cigarro, dói muito, eu choro e grito por socorro mais ninguém vem me salvar.
Não sei como ainda não morri na mão desse velho, uma criança de 5 anos precisa de Amor e cuidado, Não ser espancado todos os dias.

(...)

Minha barriga Doi com fome, mas não tem nada para comer, os raios de sol entram pelas brechas das paredes de madeira.
Procuro no lixo espantando os urubus algo que de para comer, acho uma sacolinha branca com comida dentro, pelo cheiro não está estragado, começo a comer ali mesmo sentado no meio dos lixos e com as mãos.
Junto com a comida acho algumas bolinhas cheias de formiga, dou pulinhos de alegria, faz tanto tempo que eu não sei oque e comer uma balinha.

(...)

Corro no meio dos carros, mas um dia que estou indo embora sem vender nenhuma bala, estou desde de ontem sem comer, olho para a padaria cheia de doces e salgados, vários bacanas de terno e gravata comem, mas eles figem não me ver, muitas vezes fui xingando e até agredido só por perdir um pão, por isso agora costumo fico de canto esperando alguém jogar as sobras no lixo, pra mim comer.
Ando descalço pelas ruas, mas uma vez me perguntando o porquê de todo isso, eu só queria ser uma criança normal, ir a escola, ter amigos, brinquedos, eu queria uma família.
Não consigo entender oque tem de errado comigo, o porquê não posso ser amado, me sinto sozinho em uma vida sem sentido.

(...)

Por muitos anos me perguntei o motivo, de ter sido abandonado, não consigo formular nada que justifique um ser humano abandonar seu próprio filho, recém nascido em um lixão, ainda com resquícios de sangue, e enrolado em um pano fino e velho.
Será que sua a intenção daquela mãe era somente se livrar de um bebê indesejado ou também deseja sua morte.
Inúmeras vezes imaginei, sonhei com o dia que meus pais iriam me buscar, idealizei de mil formas possíveis.
Fico pensando se por um instante se quer a pessoa se sentiu arrependida, ou culpada, por ter matado uma criança que continua viva.
Porque a cada dia que Meu corpo continua vagando por aí, atrás de comida, dinheiro e quem sabe até um amor verdadeiro, minha alma morta faz questão de trazer a dor do abandono, as dúvidas, as incerteza, os medos e traumas, me matando a cada suspiro, me transformando em uma criança Oca por dentro.

(...)

Hoje eu entendo que era pra ser assim, eu nasci sozinho e vou morrer sozinho, família e amor e artigo de luxo, e apesar de carregar vários artigos nas costas esse eu não carrego, quando uma mãe rejeita seu filho, o crime abraça, com uma arma na mão e o colete no peito, vou defender minha facção até meu último suspiro, foi aqui no meio das armas, dos roubos, do tráfico que eu encontrei minha família, aqui eu me sinto em casa.
Quando estava sem rumo, e na rua da margura, foi o crime que me deu a mão, por isso dou o meu sangue pelos meus irmãos.
Já entendi que amor é só em caso de sorte, e para um moleque que foi abandonado no lixo, e presenciou sua morte várias vezes, sorte e amor são palavras extintas, mas minha fé em Deus me faz acreditar que tudo tem o porquê de acontecer, mesmo não sabendo o meu, sigo sobrevivendo as meus próprio devaneio até meu último suspiro.

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