- capítulo sete • flor de flanela

829 86 21
                                    


Flor de Flanela

Significado: O que se perde encontra-se

Actinotus helianthi | Nova Gales do Sul

O caule, os ramos e as folhas da planta são cinza-claro, cobertos com uma penugem suave que lembra a textura da flanela. Bonitas flores em forma de margarida florescem na primavera, ainda que afloração possa ser mais profusa após uma queimada.

Na mansão no final da rua, oculta por árvores e um caminho lamacento que ninguém ousava traçar sem uma carroça, Bryana de nove anos se sentou encostada na janela, sonhando sobre formas de atear fogo ao pai

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Na mansão no final da rua, oculta por árvores e um caminho lamacento que ninguém ousava traçar sem uma carroça, Bryana de nove anos se sentou encostada na janela, sonhando sobre formas de atear fogo ao pai.

À sua frente, na mesa de eucalipto, um presente dele anos antes a seus avós, vinda do outro lado dos desertos, -terras que antes era seu lar-, o livro aberto carregava histórias e mitos sobre o uso de fogo em diversas culturas.

Partes dele contavam em suma sobre Feéricos quando eles sucumbiam ao fogo até as cinzas, tal como qualquer outra criatura, mas a escrita hedionda e preconceituosa frisava as fraquezas apenas de seus inimigos. No livro, como além dos desertos, eles os amarram em pilares de madeira atearam fogo, por anos... décadas.

Por mais hediondo que fosse, não estava interessada nisso, foi arrancada daquele lar de calor e areia, levada para um lugar frio e imundo.

Mudou a página, as lembranças martelando em sua mente, ela já viu um Feérico queimado, ou ao menos uma parte do que restou dele, uma execução de uma criatura que continha chifres, apenas sabia que eles eram diferentes dela, somente por isso, somente pela singularidade que restou após a carne se tornar escura e irreconhecível.

Com uma brisa de outono agitando os fios soltos da trança bem presa, ela leu num murmúrio alto:

"Além do mar de areia, os desertos governados pela honra mantém os corações puros a salvo, o fogo purifica, as piras libertam as almas dos condenados."

Ela parou de ler, inexpressível, as piras eram ilegais de certa forma, o livro foi publicado anos antes do decreto além dos desertos e do tratado, entretanto, ela mesma viu uma pira no campo aberto próximo à cidade, num caminho que leva para o riacho onde capturava girinos quase todas as manhãs.

Não tinha sido pior os ver mortos, os dois Feéricos amarados da mesma forma sobre a madeira, mas o chiado como um murmúrio carregado pelo vento, e então novamente, tênue e em lamento, da carcaça negra do corpo mais à direita.

Ainda estavam vivos.

Era impossível dizer se o Feérico era um homem ou uma mulher. Seu cabelo havia se queimado, suas roupas fundidas aos seus membros, ele não tinha nada, além disso, nenhum chifre ou outra singularidade como o da esquerda. Talvez fosse um daqueles que as características apreciam sobre a pele, nunca soube.

CORTE DAS ILUSÕES - O CORAÇÃO DA BRUXA ; Rhysand Onde histórias criam vida. Descubra agora