Eu tinha acabado de me instalar no meu novo quarto, não estava falando com a minha mãe há duas semanas, nos mudamos novamente por minha causa. Tenho 15 anos e um currículo extenso de expulsões de escola, entre outras coisas que eu aprontava, não era fácil lidar comigo, agora seria diferente, eu prometi a mim mesmo, desde a última que eu aprontei e minha mãe me salvou. Dessa vez, uma expulsão por causa grave, colégios estaduais não me aceitavam mais e eu já estava matriculada em uma nova escola. Finalizei as instalações e ajudei minha mãe, muda e calada, ninguém ousava respirar perto uma da outra, eu sabia que dessa vez eu havia passado de todos os limites. Quando terminamos, nós preparamos um chá, ainda em silêncio, sentamos a mesa e olhamos para o horizonte, duas criaturas querendo fugir uma da outra, até que minha mãe, suspirou, me olhou e por fim colocou um ponto final em seu silêncio.
- Eu estou completamente arrasada, você é o motivo como sempre, assim quando eu começo a viver, você sempre faz questão de mudar a minha vida.
Ela respirou fundo e eu prestei atenção.
- Algumas pessoas diriam que filhos são bençãos, mas você Alice, você é minha maldição.
Eu olhei para baixo, tentando fugir de suas palavras.
- Eu sempre fui paciente, conversei com você, falava com o amor mais brando do mundo, tive toda a compreensão achando que a culpa era minha, ou do seu pai, que aliás, te levará para fora do país, caso você não tenha mais jeito. Sempre achei que você poderia seguir meus passos em ser uma boa aluna em escola pública, enfim, dei o meu melhor, mas fui forçada a te colocar em uma escola particular e a mais cara do país, também bem disciplinada, para ver se agora você toma jeito.
- Sempre tive boas notas...
- E você acha isso demais? Sinto muito em lhe informar que não, mesmo tirando 10 para mim eu criei a pessoa mais ingrata do mundo, a pessoa mais irresponsável.
- Mãe me desculpa...
- Eu não quero suas desculpas, eu quero que você mude. É isso, ou você vai embora do país, ou qualquer dia, talvez eu te visite em uma casa para menores infratores.
- Eu sei mãe, sei que fui longe demais.
- Sua sorte é que ele não morreu, mas, ainda corre risco de vida.
- Eu sei mãe...
- A partir de agora, você só me chama de mãe, se você me der o mínimo respeito para isso, caso contrário, eu sou a Dona Célia. Você tem noção que só conseguiu escapar porque eu sou a merda de uma juíza?
- Eu sei mãe...
- Então olha aqui para mim.
Ela se levantou, bateu com as mãos na mesa, tremendo os talheres e pratos, gritando comigo.
- Muda Alice! MUDA!
Eu concordei com a cabeça, sem olhar para ela. Minha mãe se retirou indo para o seu quarto.
Eu sabia que estava errada, como disse, da última vez, eu fui longe demais, existia um grupo no facebook aonde eu fazia jogos um tanto quanto infelizes, a última vez, era para eu ter colocado fogo na sala de aula. Eu recebia coordenadas em meu whatapp, talvez eu teria me saído bem, caso não tivesse ninguém na sala, eu juro que não percebi quando ateei fogo e tranquei a porta. Lúcio estava dormindo debruçado e acordou pedindo socorro, com medo de algo, eu mesmo acabei me apontando como a principal suspeita. Mais uma vez, minha mãe e eu tivemos que nos mudar e recomeçar.No outro dia, acordei cedo, muito cedo, mais do que qualquer outro dia da minha vida, minhas aulas iniciariam 8h00, mas como de castigo, precisaria atravessar a cidade. Tomei banho, me maquiei, arrumei meu cabelo deixando ele solto e coloquei aquele uniforme horrível, olhei em meu relógio e sai de casa, já que agora, eu só teria meu relógio como companhia, qualquer eletrônico estaria longe da minha mão, pelo menos por um longo período. Ao dobrar a esquina procurei loucamente em minha mochila a minha carteira de cigarros que eu deixava escondida, por sorte encontrei, ela ainda estava ali intacta, peguei um cigarro, um chiclete e acendi. Puxei o ar e traguei, pela primeira vez em muitos dias havia matado minha maior vontade, como era bom sentir o gosto da nicotina, mesmo que eu pagasse para morrer. Andei em direção ao ponto de ônibus e joguei o cigarro quando avistei o ônibus indicado vindo em minha direção, dali em diante, foi um longo caminho até o meu destino.
Já no portão do colégio eu respirei fundo tentando puxar o ar para o pulmão, eu corri tanto para não chegar atrasada e quando olhei em meu relógio pude notificar que a única louca era eu, pois o portão tinha acabado de abrir. Coloquei as mãos sob os joelhos, ainda cansada.- Belas pernas, você poderia correr uma maratona.
Ouvi uma voz feminina dizer, em seguida uma risada. Me levantei e me virei rapidamente com a expressão mais braba do mundo.
- Está com algum problema comigo?
- Ei nervosinha, se quer algum problema em seu primeiro dia, não será comigo!
Ela e a outra menina se entre olharam enquanto eu continuava com a expressão de braba para elas.
- Eu sou a Monica e essa é a Lia.
Eu me levantei devagar e me recompus, entendendo que não tinha sido um ataque.
- Me chamo Alice.
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COMO SÓ VOCÊ SABE
FanfictionAlice Hoffman é um garota de 16 anos que acaba de mudar de cidade, como toda adolescente ela passa por uma fase conturbada e precisa amadurecer, nesse processo ela encontra Dom Buradak, um homem 20 anos mais velho do que ela, aonde eles se envolvem...