002

930 151 4
                                    

                 Capítulo 2

Xiao Zhan

Levamos apenas alguns minutos para assinar todos os documentos no banco e devolver nossas chaves para o atendente. Fiquei sentado bem em frente a Peng , mas senti que ele estava a quilômetros de distância. Quando nos levantamos para ir embora, ele foi até o próprio carro e eu segui para o meu.

— He Peng  — chamei, sem ter muita certeza de por que tinha dito o nome dele.

Ele ergueu o olhar e arqueou uma das sobrancelhas, esperando que eu dissesse alguma coisa. Abri a boca, mas as palavras que eu queria dizer ficavam girando na minha mente. Vamos almoçar juntos um dia desses ou assistir a um filme de vez em quando... até você voltar a me amar.

— Nada. Deixa pra lá.

Ele soltou um suspiro pesado.
— O que foi, Xiao Zhan ?

— Nada mesmo. — Esfreguei os braços com as mãos.

— E lá vamos nós de novo — resmungou ele, e senti um aperto no peito.
— O que você quer dizer com isso?
— Que você está fazendo o que sempre faz.
— E o que eu sempre faço?
— Você começa a expressar seus sentimentos e, então, se retrai de novo, dizendo para eu deixar pra lá. Você sabe quanto isso impossibilita qualquer tipo de comunicação?
— Sinto muito — sussurrei.
— É claro que você sente — respondeu ele.

— Olha só, eu tenho que ir. Quando chegarmos a Chester, podemos contar para nossos pais que estamos nos separando. Acho que devemos fazer isso individualmente. Nós temos que enfrentar esse tipo de coisa sozinhos agora, para começarmos a nos acostumar, tudo bem?

Fique firme. Não chore.
— Tudo bem.

Eu estava indo passar o verão em Chester, considerando que meu apartamento em Atlanta não ficaria pronto para eu me mudar até agosto. Por um lado, voltar para Chester me aterrorizava porque as pessoas não levariam muito tempo para perceber que Peng  e eu não estávamos mais juntos. Por outro lado, no fundo eu estava empolgado por estar na mesma cidade que Peng . Nas mesmas calçadas onde nos apaixonamos. Talvez, com aquela conexão, ele voltasse a me olhar do jeito que costumava olhar. Eu tinha o verão para fazer meu marido voltar a se apaixonar por mim.
Entrei no carro e, quando virei a chave, o motor não pegou. Ah, não. Virei a chave de novo, e o barulho de arranhadura se repetiu. Peng  ergueu uma das sobrancelhas na minha direção, mas tentei ignorá-lo.

Meu carro era antigo, um Buick cor-de-rosa que eu tinha desde o dia que saí de casa para a faculdade. A única coisa que eu tinha na vida por mais tempo que aquele carro era Peng , e agora que ele estava indo embora, Rosie era tudo que me restava.
Naquele fim de tarde, o motor se recusou a ligar.

— Você quer que eu dê uma olhada? — perguntou Peng , mas não olhei para ele. Não conseguia depois de ele ter se irritado comigo e feito com que eu me sentisse horrível por ser eu mesmo.

— Não. Está tudo bem — respondi.
— Essa coisa vai conseguir chegar a Chester? Você devia ter alugado um carro e se livrado dessa velharia.
— Está tudo bem — repeti, virando a chave e ouvindo o mesmo barulho de novo.
— Xiao Zhan  — começou ele, e eu estava à beira do pânico.
— Vá embora, Peng . Você já deixou bem claro que não quer estar aqui, tá legal? Então, vá logo.
A não ser que prefira ficar...
Ele franziu a testa e se empertigou um pouco.
— Tudo bem, então. Acho melhor eu ir.
— Isso. Vá logo. — A não ser que prefira ficar...
Eu era patético.
O canto dos lábios dele caiu.
— Tchau.

Ele me deixou lá, junto com toda a nossa história, fechando a porta do capítulo que eu ainda estava tentando reescrever.

Senti um aperto no peito e o chamei de novo.
— He Peng  — gritei, fazendo com que ele se virasse para mim.
— O quê?

Shame my Shame Onde histórias criam vida. Descubra agora