052

600 120 10
                                    

Capítulo 52

Xiao Zhan

Nós nos demos espaço porque não queríamos mais servir de muleta um para o outro. Se íamos ficar juntos, primeiro precisávamos ser inteiros sozinhos. Eu voltei a dar aulas e, quando não estava trabalhando, tentava coisas novas.

Por um tempo, achei que fosse gostar de ioga até que fiquei empacado em uma postura. Não sabia desenhar nem pintar. Quando chegou o outono, minha mãe e eu fizemos aula de pole dancing. Eu não sabia o que era mais perturbador, o fato de a minha mãe ter gostando tanto e continuar frequentando sozinha, ou o fato de ela ser dez vezes melhor que eu.

Meu pai não sabia o que estava perdendo.
Ela também começou a rir mais.
Eu quase tinha me esquecido do quanto amava o som da risada da minha mãe.

Uma noite, no fim de novembro, recebi um pacote pelo correio com um livro e um bilhete escrito em um Post-it. Meu coração palpitou enquanto meus dedos passeavam pela capa e, então, li as palavras de Yibo:

(Estou em Cave Creek, Arizona, assistindo ao pôr do sol com Watson. Ontem à noite, li este livro, e não consegui parar de pensar em você e no que você acharia da história escrita nessas páginas.
A leitura é difícil, mas vale a pena.
— Oscar
P.S.: Descobri que odeio sushi Gostei do final, mas o meio foi bem difícil. )

Chorei horrores, o que não é surpresa para ninguém. Ainda é muito fácil me fazer chorar.

(Tente este livro. Ele vai partir o seu coração — Alteza.
P.S.: Eu também odeio sushi.)

(Haiukan me deu este livro de Natal.
Se você ler de trás para a frente é melhor.
— Oscar.)

( Não sei por que estou mandando este livro para você. Vá direto para o capítulo cinco. É tão bom que compensa por todas as outras páginas.)

(— Alteza Hoje senti saudade das batidas do seu coração.)

(— Oscar Hoje eu senti saudade do seu toque.)

(— Alteza Hoje é 23 de março e estou na Califórnia. Assisti ao pôr do sol e pintei o céu. Você amaria este lugar, Alteza. Ou talvez eu só amaria que você estivesse aqui. Conte alguma coisa que eu deveria saber.)

(— Oscar Uma coisa que você deveria saber?
Isso é fácil.
Hoje é 4 de abril e eu ainda amo você.)

(— Alteza Hoje é 3 de maio e eu também ainda amo você.)

(— Oscar O fim de maio chegou e eu estava me preparando para encerrar outro ano letivo.)

Era assustador como as coisas tinham mudado em apenas um ano, como cresci como pessoa e quanto aprendi sobre o meu coração e sobre o que o faz bater.

Na manhã de sábado, minha mãe foi à igreja. Isso foi uma coisa que aprendeu sobre ela mesma — não importava se ainda estava com meu pai ou não, ela manteve a sua fé. Às vezes, eu ia com ela, e outras, eu ficava em casa e rezava sozinho.
No ano que passou, aprendi que a fé não tinha a ver com a igreja propriamente dita, mas sim com o coração.
Eu podia ir à igreja e estar cercado por outras pessoas e me juntar a eles em oração, ou poderia simplesmente fechar os olhos, sozinho, e encontrar paz. As duas formas valiam a pena. As duas eram corretas.
Não existia um jeito certo de se acreditar — havia um milhão de possibilidades no mundo.

Essa foi uma das minhas descobertas favoritas. Eu não precisava ser um cristão perfeito para existir no mundo.
Quando o dia das mães chegou, fui à igreja com a minha mãe e me sentei no banco segurando a mão dela. Em toda a minha vida, houve dias realmente difíceis. Dias quando mesmo que eu me esforçasse muito para ser feliz, meu coração ainda sangrava, e o dia das mães era um desses dias. Para os outros, era um dia de comemoração. Para mim, um dia que me lembrava de todas as minhas perdas e do meu fracasso.

Shame my Shame Onde histórias criam vida. Descubra agora