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Capítulo 13

Wang Yibo

Ele o ajudou quando não tinha a menor obrigação disso.
Eu não conseguia entender. Eu não conseguia processar o que tinha acontecido na noite anterior.

Xiao Zhan, da família que eu desprezava, tinha ajudado meu pai. Por que ele faria uma coisa dessas? Por que tinha estendido a mão e o levado para casa? Dado banho nele? Limpado a casa dele?
Ele poderia muito bem ter chamado a polícia. Eu deveria estar agora na delegacia, pagando a fiança dele, mas não precisaria fazer isso.

Tudo que eu sabia sobre a família dele parecia ser o oposto de suas ações, mas mesmo assim…

— Onde está a porra do café? — resmungou meu pai, entrando na oficina, coçando a barba. Sua aparência estava péssima, o que não era surpresa nenhuma. Eu estava surpreso por ele ter se levantado antes das cinco horas da tarde.
— Na sala de descanso, onde sempre está — respondi secamente. — Como foi sua noite? — perguntei.

Ele encolheu os ombros.
— Tudo bem. Eu só apaguei.

Desmaiou, é o que você quer dizer.
— Você esteve com alguém? — perguntei, querendo saber de quanto ele se lembrava.
Ele arqueou uma das sobrancelhas e tomou um gole do “café”.
— Com quem raios eu poderia ter estado?
— Ninguém. Esquece.
— Já esqueci. Aliás, limpe esta bagunça. Está tudo uma merda aqui. Nós trabalhamos numa oficina ou numa porra de um lixão?.

Nós não trabalhamos.

Meu pai não trabalhava havia anos. Nós costumávamos ser os melhores. Eu realmente o tinha como um exemplo antes de ele ter se perdido na bebida.
Agora era só uma sombra do homem que me servira de exemplo.
Ele não fazia ideia do que tinha acontecido na noite anterior. Eu não sabia se isso era bom ou ruim. Mas se meu pai descobrisse que uma integrante da família Xiao o havia ajudado, daria mais marretadas no banco da igreja.
Nossa família não aceitava esmolas.

Principalmente daquele tipo de gente.
Só que ele talvez o tenha salvo na noite anterior. Se Xiao Zhan não o tivesse acompanhado até em casa, tomado conta dele, quem sabe o que poderia ter acontecido?
Eu sentia um conflito dentro de mim. Estava confuso, sem saber como esclarecer as coisas.
Além do ódio que sentia por Xiao Zhan e tudo que ele representava, também sentia uma enorme gratidão.

Como aquilo era possível? Como eu podia odiá-la e me sentir grato ao mesmo tempo?
Eu não sabia como me sentir, então optei por não sentir nada e voltei ao trabalho, que era a única coisa sobre a qual eu tinha algum controle. E, naquele momento, eu precisava sentir um pouco de controle.
Mesmo assim, enquanto eu trabalhava, os olhos dele vinham à minha mente.
Aqueles olhos grandes e bobos que estavam sempre cheios de bondade.
Eu gostaria que ele não parecesse tão bom.
Minha mente ficava dividida quando eu pensava em Xiao Zhan. Uma parte de mim sentia uma enorme gratidão pela assistência que ele havia prestado. Eu queria acreditar na bondade que ele demonstrara e confiar que havia feito isso simplesmente porque tinha um bom coração. Só que outra parte queria que ele não tivesse ajudado meu pai porque aquilo fazia com que eu me sentisse em desvantagem. É como se ele fosse superior a nós. Como se fôssemos objeto do trabalho assistencial dele. Eu não queria aquilo, então decidi que minha missão seria pagar aquela dívida de algum modo.
Não importava como.

— Oi, Yibo! Recebi uma ligação dizendo que eu deveria passar aqui na oficina — disse Xiao Zhan mais tarde naquele dia.

— Está tudo bem com o carro?

Enquanto ele se aproximava, Tucker se levantou da caminha e foi até lá. Ele era lento e cambaleava um pouco, mas abanava o rabo o tempo todo. Ele achava que tinha que cumprimentar todos os clientes que entravam na oficina, apesar de estar quase cego e de a artrite ter acabado com seu corpo. Ele sentia dor sempre que se mexia, mas a ideia de não dar “oi” e uma lambida parecia ser mais dolorosa para ele do que qualquer coisa.

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