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Capítulo 11

Wang Yibo

Xiao Zhan dedicava tempo e energia para qualquer pessoa na cidade sem pensar duas vezes. Eu já tinha visto diversos bisbilhoteiros que achavam que era sua obrigação meter o bedelho na vida dele, chamando-o o tempo todo. No entanto, em vez de mandá-los deixá-lo em paz, como deveria, ele sorria, se empertigava e respondia às perguntas com toda elegância.
Era nojento de assistir. Eles estavam sugando as energias emocionais dele, e ele deixava como se não se importasse nem um pouco com a rudeza e o desrespeito que demonstravam.

— Que Deus abençoe esse seu coração, Xiao Zhan. Eu nem sei o que eu faria se meu casamento estivesse em crise. Mas você é forte. Tenho certeza de que vai superar isso. Além do mais, você não é tão velho assim, então talvez encontre outra pessoa. Ou talvez Peng aceite você de volta. Caso contrário, sempre pode contar com gatos. Estou rezando por você, querido — disse uma velha para ele no supermercado, enquanto Xiao Zhan tentava comprar flores. Ele ficou ali parado por mais de dez minutos, tentando ir para o caixa, mas as pessoas sempre entravavam na sua frente como se não dessem a mínima para seus sentimentos.
Depois que aquela velha se afastou, resmunguei quando passei por ele:
— Você simplesmente deixa que eles o tratem como merda, hein?

Ele olhou para mim e, porra, aqueles olhos continuavam lindos. Eu ficava imaginando quando isso mudaria.
Ele piscou uma vez.
— Do que você está falando?
— Nos últimos minutos intermináveis, as pessoas só diminuíram você.
— O quê? Claro que não. Elas só estão orando por mim.
— Com orações assim, quem precisa de alguma maldição?

Ele estreitou os olhos.
— Do que você está falando, Yibo?
— Você está sendo devorado vivo por todos aqui na cidade nesses últimos dias, e não faz nada.

— Você está tomando conta de mim?
— Não.

Sim. Talvez.

Ele pigarreou.
— Bem, tudo que estou dizendo é que você não conhece essas pessoas como eu conheço. Elas só estão sendo carinhosas. Isso é tudo.
— Elas estão te maltratando e você está permitindo! — exclamei, irritado com a burrice dele. Elas estavam praticamente cuspindo na cara dele, e Xiao Zhan simplesmente fingia que nada estava acontecendo.

— Por que você se importa, Yibo? — perguntou ele, arqueando uma das sobrancelhas, tentando entender.

— Eu não me importo — retruquei.
— Então por que está parado aí falando sobre o assunto?

Bufei um pouco.
— Você está certo. Vá em frente, deixe que eles debochem da sua cara. Deixe que tratem você como merda e humilhem você até que murche e fique sem um pingo de energia. Mas quando chegar o dia que você estiver fodido e completamente esgotado, lembre-se de que eu avisei.

— Como você pode ter tanta certeza disso, hein? Como pode ter tanta certeza de que as pessoas só estão me usando?

— Porque eu sei como as pessoas costumam agir. Elas fazem tão pouco de você, e você sabe por quê?

— Por quê? — perguntou ele, a voz falhando.
— Porque você faz pouco de si mesmo. As pessoas te tratam exatamente do mesmo modo como você se trata. E sei exatamente o que eles vão fazer se você continuar assim.

Eu me aproximei mais dele e fixei o olhar em seus olhos. Estávamos tão próximos que eu sentia sua respiração contra a minha pele, e eu tinha certeza de que ele sentia a minha.
— Eles vão sugar todas as suas energias até que não reste mais nada, e, então, vão perguntar como foi que você morreu.

Xiao Zhan engoliu em seco e seus olhos se encheram de lágrimas, mas ele se empertigou toda e tentou esconder o tremor das mãos que seguravam as flores.

— Deixa eu adivinhar. Essa é a parte em que você começa a chorar?
— É. — Ele assentiu devagar, respirando fundo.
— E essa é a parte em que você vai embora.

O canto da minha boca se contraiu e eu me virei para ir embora, mas ele me chamou de novo.
— Por que você se trata dessa maneira?
— De que maneira? — perguntei.
— Você disse que as pessoas tratam você como você se trata. Então por que você se trata como um monstro?

As palavras dele me atingiram e quase hesitei.
— Porque é exatamente isso que eu sou.

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          Wang Yibo

Oito anos de idade

— Isso é bobagem! — eu me irritei, derrubando o cavalete no campo aberto enquanto meu mamã tentava me ensinar uma nova técnica para pintar o pôr do sol. Ele já estava me mostrando havia mais de uma hora, e eu não estava conseguindo. Aquilo era bobagem, e arte era bobagem, e eu não queria mais aquilo.

— Calma, filho. Calma — pediu meu mamã, arqueando uma das sobrancelhas.
— O que foi isso? Desde quando você faz uma coisa dessas?

— Eu não consigo fazer isso! Não quero mais fazer! — exclamei, engolindo em seco. Eu estava zangado e não queria mais pintar. Eu só queria voltar para casa.

Não para a nossa nova casa, mas para a antiga.
Aquela onde eu tinha alguns amigos.

— O que houve, Yibo? — perguntou meu mamã.
— Nada.
— Wang Yibo, o que houve? Eu sei que você não está com raiva por causa da pintura, porque você está fazendo tudo direitinho. Então, diga a verdade. O que houve?

Respirei fundo.
— Eu não entendo por que nós temos que morar nesta cidade idiota! Ninguém aqui gosta de mim, e eles implicam comigo por tudo. Eu odeio tudo aqui. E quero me mudar!
— Você está sofrendo bullying de novo? — ele quis saber.

Comecei a chorar.
Ela disse “de novo”, como se o bullying tivesse parado algum dia. Eu estava farto de as pessoas me julgarem pela minha aparência. Estava farto de as pessoas rirem de mim porque às vezes não conseguia fazer gol.
Eu estava farto de não ser aceito.
Estava farto.
— Venha cá — ordenou ele.
— Não.
— Wang Yibo.

Eu suspirei.
Fui até meu mamã e ele pegou minhas mãos.
— O que você é? — ele me perguntou.
Resmunguei a palavra.
— Fale mais alto — insistiu.
— Eu disse que sou extraordinário.
— Exatamente. E mesmo nos dias ruins, você é extraordinário. Essas pessoas cruéis, elas não têm o poder de expulsar você daqui. Elas não têm o poder de magoar você. E, na segunda-feira, eu mesmo vou à escola conversar com o diretor sobre fazer alguma coisa a respeito disso. Mas nós vamos continuar na cidade.
— Por quê?
— Porque a gente não foge. Nós não aceitamos que as pessoas nos assustem. Nós temos o direito de estar aqui, de sermos felizes, e é exatamente isso que nós vamos fazer, está bem? Nós vamos ser felizes.

Funguei.
— Está bem.
— E você vai conseguir dominar esta técnica esta noite. Sabe por quê?
Funguei.
— Porque eu sou extraordinário.
— Exatamente, meu amor.

Você. É. Extraordinário.

(.....)

Shame my Shame Onde histórias criam vida. Descubra agora