Prólogo

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Essa é a história de como me apaixonei por minha doce e pequena "vítima".

Desde pequeno sempre tive pensamentos fora do normal, considerados doentios para uma criança de sete anos.

A convivência com a minha família não era uma das melhores. Tendo em vista todas as agressões que tive que presenciar, que acabaram concluindo para a minha insanidade mental.

Em um período da minha infância, acabei por desenvolver uma vontade insaciável de tirar vidas, que começaram por alguns animais inofensivos que apareciam pelo quintal de casa.

Aos quinze tive em mente que animais eram entediantes, mudando completamente a minha cabeça e trocando o foco, tendo como vítima os humanos, sendo a primeira delas uma vizinha chamada Érica. Uma senhora solitária que procurava afeto de pessoas alheias, pois os seus próprios filhos não a davam atenção.

A minha intenção principal era saciar a minha sede de sangue, porém depois acabei mudando o meu propósito para algo maior, como uma fuga da minha culpa interna.

Eu misturei os meus objetivos e segui adiante com o meu plano, planejando cada detalhe com perfeição para ninguém desconfiar do tão dócil Corvus, o menino de ouro.

Esperei meses até o meu plano ser concretizado, finalizando-o na noite de Halloween, que a dona Érica tanto gostava.

Fiquei observando a velhinha entregar alguns doces às crianças que passeavam pelas ruas decoradas com diversas fantasias, sendo elas de princesas até bruxas.

Eu acharia fofo em outra situação, porém agora é diferente, estou prestes a matar uma pessoa.

Quando deu um horário específico e as crianças foram para casa, comecei a agir, indo até a casa da velhinha como se fosse pedir doces.

Ela me deu um sorriso gentil.

O mesmo sorriso que eu recebia todos os dias.

Uma música alta tocava da cozinha, o que me fez ficar agradecido, pois os gritos dela seriam altos e irritantes.

Lembro-me da vez que ela havia me convidado para uma festa de idosos, onde tocavam músicas dos anos 80.

Dancei todos os tipos de música com ela. Confesso que foi divertido.

Érica convidou-me para entrar e guiou-me até a cozinha, onde havia uma porção de batatas com carne cozida.

Não disse nenhuma palavra sequer, apenas a observei com curiosidade.

— Estava te esperando, Corvus. – Ela sorriu para mim, deixando-me aflito.

Eu realmente vou matá-la?

Balancei a minha cabeça com rapidez para abafar os pensamentos intrusos.

— Sabe, Érica, eu nunca recusaria uma noite agradável com você. – Minto.

Esta noite está longe de ser agradável, porém será memorável.

— Sente-se, a comida ainda está quentinha. – Ela sorriu novamente.

Eu acharia normal se não a conhecesse tão bem.

Érica pode ser a mais educada possível, mas não é tão sorridente assim.

— Qual é o motivo da felicidade repentina? – Perguntei com um misto de curiosidade me invadindo.

Não acho estranho o fato de ela sorrir demais, só não estou acostumado.

— Nada que você deva se preocupar, Corvus. – Érica estendeu a mão que estava ocupada com um prato e um garfo. – Ande, aproveite os últimos minutos comigo.

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