O resto do dia de keyo fora limpando e atendendo os clientes da na Toca junto de Lilian. No fim do dia, quando Lucien fechou a loja, Keyo foi chamado para jantar.
- As batatas estão ótimas, Lilian - Keyo elogiou enquanto enfiava 3 pedaços na boca de uma só vez .
- Obrigada- Lilian respondeu, rindo de keyo com a boca cheia de batatas.
- Keyo, você lembra de tudo oque te ensinei sobre cavalgar em Valente?- Lucien perguntou enquanto pegava uma enorme coxa de frango- Você tem que tomar cuidado amanhã. Quase causou um acidente grave na volta pra casa.
- Eu sei. Vou tomar cuidado.
- Tem mais uma coisa. O bar do feno fica perto de uma praça, e lá passam muitos soldados, que consequentemente frequentam o bar do Ernesto. Não dê motivos para que suspeitem de você. Apenas faça seu trabalho.
Keyo concordou com a cabeça. Ele estava animado para o emprego, afinal, nunca tivera um.No dia seguinte, Lucien acordou Keyo por volta das seis e meia da manhã ( que era meia hora antes de ele abrir a Toca). Keyo comeu um pão doce, se banhou e foi para fora da loja.
- Keyo, tome cuidado. Preste atenção no caminho- Lucien disse, enquanto desamarrava a corda de Valente.
- Pode deixar. Você é Lilian tem me ajudado muito. Vou contribuir um dia.
Lucien balançou a cabeça, mas deu um leve sorriso.
- Até mais!- disse Keyo, dando uma leve chicotada em Valente, que começou a caminhar rua a baixo.
No início do caminho, Keyo não tinha total controle sobre Valente. Parecia mais que Valente quem estava controlando Keyo. Mas depois ele pegou o jeito e a controlava bem, já desviando de pessoas e outras carroças.
Keyo finalmente chegou ao bar, que tinha uma placa enorme na fachada, escrito " Bar do feno", a qual ele não tinha anotado antes. Ele amarrou Valente na viga de madeira e entrou.
- Vitor- Disse Ernesto, enquanto limpava uma garrafa de cachaça - 15 minutos atrasado.
Keyo demorou uns segundos pra entender que Ernesto estava falando com ele. Era estranho ser chamado por outro nome.
-Ah oi, Ernesto - ele disse, coçando a cabeça - eu saí de casa um pouco mais de uma hora atrás. Desculpa, não vai se repetir.
Ernesto olhou no fundo dos olhos de Keyo:
- Você é um bom garoto, eu sinto. Tá desocupado. Agora se troque e volte para cá- ele entregou um bolo de roupas para Keyo.
Keyo vestiu seu novo uniforme, que era idêntico ao das garçonetes: um macacão marrom desbotado e uma blusa branca escrita " Bar do feno" na parte de trás.
- O trabalho é simples, rapaz: você vai ficar aqui no balcão e entregar aos clientes a bebida ou a comida que pedirem. Se for comida, a garçonete vai lhe entregar o pedido e você entrega ao cozinheiro. Se for bebida, você mesmo prepara, está certo?
"Parece fácil" Keyo pensou.
- Está bem.
- E embaixo do balcão tem um papel informando onde todas as bebidas estão e o valor delas. Você vai se sair bem. Se precisar de alguma coisa, eu estou lá em cima- Ernesto se virou e se dirigiu a uma escada no canto do bar.
- Então você é o novo barman?- perguntou uma voz atrás de Keyo.
Ele se virou e viu duas garçonetes vestidas iguais a ele.
- Eu sou Clarisse - disse a garçonete da direita.
- E eu sou Aurora- disse a garçonete da esquerda.
Clarisse era branca com sardas ao redor do nariz. Tinha cabelos escuros e lisos, que iam até os ombros.
Já Aurora era uma mulher encantadora. Tinha a pele morena, cabelos que formavam cachos delicados, que iam até sua cintura, e um olhar ousado, que fez Keyo corar.
- Ah, oi...eu sou ke... Vitor.- ele disse. "não dava pra ser menos idiota?" pensou.
- Prazer Vitor- disse Clarisse - bom trabalho pra você.
As duas se viraram e foram atender duas mesas. Keyo ainda tentava acordar do transe. Lilian era bonita, mas Aurora realmente mexeu com ele.
Seu primeiro dia de trabalho estava sendo tranquilo: poucos clientes, nenhum pedido nada complicado, era só ficar atrás do balcão esperando Aurora ou Clarisse entregarem o pedido. Estava tudo calmo. Até que entraram três soldados pela porta.
- Olá doçuras! - disse o soldado do meio, que tinha uma cicatriz enorme no meio da bochecha que ia até seu pescoço - quem é que vai me servir hoje?
Os outros dois soldados riam. Keyo, porém, estava paralisado. Ele logo lembrou-se do que Lucien disse mais cedo: "não dê motivos para que suspeitem de você. Apenas faça seu trabalho."
Os três soldados se sentaram numa mesa no meio do bar. Outros clientes ficaram visivelmente incomodados, mas nenhum ousou olhar pros três.
- Você, cacheada - ele fez sinal para Aurora - eu quero três Choppers bem gelados. Vê se não derruba trazendo pra cá - ele disse, fazendo os outros dois soldados rirem.
- Três Choppers, Vitor - Disse Aurora, já no debruçada no balcão- Vitor?....Vitor!
- Oi....hm...sim, três Choppers - disse Keyo, um pouco distraído.
Quando Keyo terminou de encher o último copo de chopp, o soldado da cicatriz disse em alto e bom som:
- Ora ora...- ele se levantou - parece que Ernesto finalmente trocou de barman. O último era ..
- Um imbecil - completou um dos soldados.
- É...- o soldado olhava fixamente para keyo- um imbecil.
Keyo colocou os chopps na bandeja, que Aurora logo pegou e foi em direção a mesa dos soldados.
- Demorou em. Novatos....- disse o soldado da cicatriz, que logo se sentou.
- Aí..- disse Aurora, sentando no banco a frente do balcão - só finje que não escuta oque eles estão dizendo. É melhor assim.
- Tá legal - Keyo respondeu ,olhando fixamente pros soldados enquanto eles riam e tomavam chopp.
- Também não encara, né?!- Aurora falou e se levantou.
Não demorou muito para que eles acabassem de beber. Foi aí que a situação ficou tensa. Os três se levantaram e foram em direção ao balcão.
- Nove moedas de prata, certo?- perguntou o soldado da cicatriz.
Keyo conferiu o valor do chopp no papel abaixo do balcão. Lá só dizia "chopp=uma moeda de ouro". E agora?
O soldado jogou 9 moedas de prata no balcão.
- S..senhor...- disse Keyo - são três moedas de ouro....
O soldado cerrou os olhos.
- E uma moeda de outro vale três moedas de prata. Certo, Morales?
- Certo..- o soldado da direita respondeu.
Agora o bar inteiro olhava para o balcão.
- Você não sabe como funciona o dinheiro, rapaz?- o soldado perguntou, visivelmente desconfiado - me de sua identificação.
Keyo estava paralisado .
- Agora! Sua identificação! - O soldado agora falava mais alto e num tom agressivo.
Keyo tirou sua identificação (falsa) do bolso e a levantou, porém o soldado arrancou de sua mão.
- Vitor é?- o soldado perguntou, entregando a identificação a Morales- Tô de olho em você, Vitor.
O soldado Morales jogou a identificação no balcão e os três saíram do bar.
- Vitor, oque foi aquilo??- perguntou Clarisse, se sentando no banco a frente de Keyo- aqueles três são malucos.
Aurora se sentou ao lado de Clarisse,mas nada disse, apenas encarou.
- Eu só... me confundi. Não sou acostumado a mexer com moedas...
Era verdade que Keyo roubava viajantes, mas sempre roubou moedas de ouro. Keyo nem sabia da existência de moedas de prata, muito menos que três delas valiam uma de ouro.
Quando o sol estava se pondo, Ernesto desceu a escada e veio em direção ao balcão.
- Oque temos aqui?- ele disse, pegando a caixa em que Keyo guardou as moedas das vendas ( oque muitos séculos depois se chamaria caixa registradora).
- Aí tem 26 moedas de prata e 14 de ouro- disse Keyo.
- Eh, hoje o movimento foi baixo, mas se prepara Vitor, em dia de festa na praça isso aqui bomba- Ernesto jogou todas as moedas num pequeno saco- tá liberado. Até manhã. Vocês também,meninas.
Keyo pegou uma maçã no balcão e saiu do bar do feno. O primeiro dia de trabalho não foi tão ruim assim.
- É amigona - ele disse, dando a maçã para Valente - parece que vamos ser bem próximos daqui pra frente.
Ele desamarrou a corda da viga e galopou em Valente de volta para a Toca.
Quando finalmente chegou, já estava escuro. Assim que virou a esquina, Lilian e Lucien estavam do lado de fora da Toca.
- Keyo!- falou Lilian, animada.
- Oi gente- ele parou Valente.
- A gente já tava de saída. Ainda bem que você chegou- disse-lhe Lucien de costas, enquanto trancava a porta da loja.
- É, a gente vai jantar. Vem com a gente.
- Tudo bem - Keyo agora amarrava Valente no corrimão em baixo da janela da loja.- E então, como foi seu primeiro dia?- perguntou Lucien enquanto mergulhava um pedaço de pão na sopa de ervilha.
- Foi bem.- respondeu Keyo- Exceto pelo fato de que três soldados abusados parecem ir lá todo dia. E eu me confundi com as moedas na hora de eles pagarem. Foi um pouco suspeito.
- Com oque você se confundiu?- Lilian pegava mais uma conchada de sopa da panela.
- Eu não conhecia moedas de prata, e não sabia que três delas valiam uma de ouro. Os soldados acharam suspeito e pediram para ver minha identificação.
- Nossa, é mesmo. Eu esqueci de lhe ensinar isso- respondeu Lucien coçando a barba ruiva- Esse negócio de moeda de prata tem uns dois anos, parece que só existe aqui em Alvorada.
- Entendi. Tirando isso, o dia foi ótimo.
- Certo, agora todo mundo comendo - disse Lucien levantando o copo de vinho-Lilian, me passe a panela de sopa.
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Muralhas de Alvorada
Mystery / ThrillerKeyo é só um adolescente quando entra clandestinamente na cidade mais controla do mundo, Alvorada, a qual é cercada por enormes muralhas e guardada por soldados do imperador. Depois de um tempo vivendo nela, keyo se envolve onde não devia e descobre...