Keyo acordou com felino miando no telhado. Diferente dos outros dias, hoje estava nublado, sem luz do sol. Keyo desceu e encontrou Lucien acendendo os lampiões da Toca.- Bom dia Keyo. Pega- ele jogou um saco com comida para Keyo
- Bom dia. Obrigado
- Ah, espere- Lucien disse, indo em direção a um armário antigo e pegando um suéter - use isto. Lá fora está frio.
Keyo agradeceu, se limpou e saiu. Deu maçãs e água para Valente e cavalgou até o bar do feno.
- Chegou na hora hoje, Vitor.- disse-lhe Ernesto, que usava um casaco que ia até abaixo dos joelhos.
Keyo fez o de sempre: Se vestiu, limpou o balcão e trabalhou. O dia estava calmo. Apenas um cliente que pediu uma dose de whisky. Foi aí que, depois do almoço, o trio de Sarcomane chegou ao bar.
- Bom dia, doçuras!- gritou Sarcomane, que aparentemente era o único bem-disposto do lugar- Moleque - ele apontou para Keyo- três Choppers. Agora.
Keyo encheu três copos de chopp e entregou à Clarisse, que entregou aos três.
Eles ficaram mais do que de costume no bar do feno. Pediram vários refis. Mais do que Keyo podia contar. Foi aí que, num dado momento, Sarcomane pediu outra rodada, e Aurora ficou encarregada de levar à eles.
- Estou preocupada- ela disse a Keyo, enquanto ele enchia os copos de chopp- quando eles bebem assim, não termina bem.
- Não se preocupe comigo - ele entregou a bandeja a ela- vou ficar na minha.
Aurora sorriu e pegou a bandeja. Ela serviu os três, e quando se virou, Sarcomane deu um tapa em sua bunda, um tapa que fez um grande estalo.
- Isso aí ,gostosa!- disse em meio aos risos de seus amigos.
O sangue de Keyo ferveu. Sem pensar duas vezes, ele pulou por cima do balcão e foi em direção a mesa. Sarcomane percebeu e se levantou. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Keyo deu soco em seu rosto. Um soco que fez ele cambalear, mesmo sendo um pouco mais alto que Keyo .
O bar ficou em silêncio absoluto. Sarcomane se endireitou e disse uma coisa que fez os pelos da nuca de Keyo se arrepiarem:
- Eu deveria te prender por agredir um soldado - escorria sangue de seu nariz- mas.... eu vou fazer pior.
Ernesto, que estava no canto do bar, deu alguns passos e gritou:
- Sarcomane, não faça..-
- Nem tente, Ernesto!!- ele gritou- Vocês dois, peguem ele- Sarcomane colocou seu capacete e saiu.
Os outros dois seguraram Keyo, cada um por um braço, e forçaram ele a sair da loja.
- Me larguem!- Gritou Keyo, se debatendo, porém de nada adiantou.
Eles saíram da loja e levaram Keyo a um beco alguns lojas depois. O sol ainda não se pôs, porém como estava nublado, o dia já havia virado noite.
Os dois soldados entraram no beco escuro e jogaram Keyo no chão. Sarcomane estava um pouco mais adiante.
- Considere isto...- ele se aproximou de Keyo, que já estava de pé - ...a sua sentença.
Ele deu um soco em Keyo. Depois disto,foi difícil para ele distinguir oque estava acontecendo. Com o soco, ele caiu, mas logo em seguida, um dos soldados pegou ele por trás, segurando seus braços. Então Sarcomane começou a chutar e a socar Keyo por todo seu corpo. Depois de muito apanhar, Keyo caiu no chão e continuou a ser surrado, com socos e pontapés.
E então, tudo ficou quieto e frio.
Keyo não enchergava, apenas ouvia. Uma voz que parecia de Ernesto disse "meu deus" e outra voz feminina respondeu " vamos leva-lo". E então, ele apagou.
Quando acordou, estava num quarto que nunca viu antes. Ele não enchergava com seu olho direito. Seu corpo todo doía: Seu olho direito, suas costelas, sua coluna, suas pernas, sua cabeça, tudo. Ele estava deitado numa cama, e nos pés dela, um pouco mais a diante do quarto, havia uma janela. Estava chovendo.
-Vitor?- chamou Ernesto, entrando no quarto - Como você está?
-Eu...- até falar era difícil- eu... preciso voltar.. ..Lilian deve...estar preocupada - sua boca encheu de sangue.
- Não se preocupe com isso. Um comerciante amigo meu foi avisar a eles. Eu o pedi. Descanse.
O barulho da chuva preenchia o pequeno quarto.
- Pegue isto- Ernesto entregou uma cesta com pães e um copo com água - se precisar, estou no quarto ao lado.- e saiu.
Ao lado da cama,ele notou um criado-mudo com algumas coisas, entre elas um pequeno espelho com um cabo. Ele o pegou. Não pode acreditar no que via: Seu olho direto estava inchado e roxo, sujo de sangue. Ele tinha cortes na sombrancelha e nas bochechas. Seu cabelo, de loiro liso estava grudado e sujo de sangue. Ele estava péssimo.
Um trovão sacudiu o quarto.
Keyo tirou os lençóis e começou a olhar seu corpo: O suéter que Lucien deu estava todo sujo de lama e sangue. Sua pele, que é bem branca, tinha lesões roxas. Seu ódio por Sarcomane só aumentou.
Ele cochilou, pois quanto se deu conta já estava escuro lá fora. O quarto era iluminado apenas por um pequeno lampião que foi colocado no criado-mudo enquanto ele dormia.
- Vitor- alguém bateu na porta.
- Entre
Aurora abriu a porta e entrou.
- Meu deus. Você está....
- Péssimo. Eu sei.
- Oque você fez foi maluquice - ela se sentou aos pés da cama- Você disse que ia ficar na sua....Você podia estar preso agora!
- É, mas não estou!
- Mesmo assim! Vitor, você..
- O que ele fez com você é imperdoável. Eu não me arrependo nem um pouco de ter dado aquele soco nele.
Aurora sorriu.
- Eu... só vim ver como você estava. Eu moro bem perto daqui, por isso vim. Olha, vê se descansa, tá?
- Pode deixar.
Aurora se levantou.
- E ... obrigada por me defender. Ninguém nunca fez isso por mim.
Keyo corou. Aurora se virou e saiu.
Ele dormiu de novo e acordou no dia seguinte. Ainda estava nublado e com uns chuviscos lá fora.
Ele se levantou. Ainda sentia dor, porém já conseguia ver com o olho direito, bem pouco, mas conseguia. Ele saiu do quarto e se deparou com um corredor e um escada no fim dele. Quando desceu, estava no bar: aquela era a escada em que Ernesto subia e descia enquanto Keyo trabalhava.
- Ah você acordou! Como se sente?- Ernesto puxou uma cadeira para ele se sentar.
- Eu ainda estou com um pouco de dor, mas estou melhor.
- Ótimo. Coma essa galinha. Vai lhe fazer bem- Ernesto pegou um prato de cima do balcão
- Galinha de manhã?
- É. Agora coma.
Keyo comeu. Realmente, ele se sentiu melhor.
Quando terminou, Ernesto sentou- se a mesa, na frente de Keyo.
- Vitor, oque você fez ontem foi loucura. Você podia estar..
- Preso - interrompeu.
- Morto. Que nem Teseu. As meninas te contam dele?
- Sim...
- Ótimo. Que isso sirva de exemplo. Nunca mais repita oque fez ontem. Lave o rosto lá nos fundos, vou te levar pra casa.
Keyo lavou seu rosto e fez oque tinha que fazer. Quando saiu do bar , encontrou Valente e outro cavalo amarrados em uma carroça parecida com a de Lucien
- Sobe aí, garoto
Keyo subiu, e Ernesto o levou de volta a Toca.
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Muralhas de Alvorada
Misteri / ThrillerKeyo é só um adolescente quando entra clandestinamente na cidade mais controla do mundo, Alvorada, a qual é cercada por enormes muralhas e guardada por soldados do imperador. Depois de um tempo vivendo nela, keyo se envolve onde não devia e descobre...