7.0 - abuso emocional

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Oiii! Só para contextualizar vcs, o trecho de início do capítulo, entre "", é um trecho da minha peça de teatro, a qual vou usar como sendo do Diego na história!

É isso, só para deixar avisado. Boa leitura ❤️‍🩹




"O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e todas as mulheres são apenas atores."

- William Shakespeare




"NECROS: (Calmo, em tom polido e assustadoramente tranquilo) O pai de todos nós é o tempo. Não digo isso porque Cronos é meu pai, mas porque, como toda criança é dependente de seu criador, nós - Deuses, humanos, híbridos, animais, plantas - somos dependentes do tempo.
O tempo não é um senhor bonzinho e sábio, ele é volátil, cruel o suficiente para injetar rapidez nos momentos bons e se deleitar com a demora dos momentos ruins. Ele passa como um sopro longo, audível, doloroso...De forma calculada para que ninguém o perceba chegar. O tempo quer que sua saída seja assistida. Quer que a culpa consuma os corpos dos seres que não souberam aproveitá-lo da maneira correta. Ele, em seu trono de impiedade, ri da desgraça alheia, enche corações de ilusões, instiga o voo do sonhador para que caia ao tocar o sol. A queda é lenta. Lenta o suficiente para uma história, repleta de detalhes perdidos em memórias banais.
Quando o sono toma conta de tudo, a vida acaba. Rápida para quem assiste, em prol do sofrimento pelo pouco tempo passado. Devagar para quem vai, no intuito de gerar a falta do que não foi vivido.
O tempo é cruel, cruel como todo pai que se vai com a correnteza do rio. Cruel como só a vida tem capacidade de ser. Sua bondade vem com o fim, a queda da água sobre as pedras que torna o simples rio em uma obra da natureza...Ele deságua. Acaba, assim como essa história."

O som das teclas do computador de mesa da biblioteca da universidade fluminense eram a única coisa que se podia ouvir naquela noite de sábado.

Estava tarde, já era passada a hora de deixar o posto da cadeira desconfortável e ir trabalhar.

Ali, no meio estantes e mais estantes de livros bem organizados, porém, muito empoeirados, ele era o único, até mesmo a bibliotecária - sempre tão gentil, que o deixara ficar após o horário de funcionamento para escrever - havia se retirado para curtir a noite como bem entendia.

- Vê se sai para se divertir um pouco, meu filho! Vejo o quanto estuda, merece um descanso. - A senhora de cabelos brancos e óculos disse, antes de se retirar, depositando a chave da biblioteca sobre a mesa.

Se fosse sincero, não saberia dizer, com certeza, quando foi a última vez que saiu para se divertir. Não tinha tempo, muito menos dinheiro, para isso.

Tudo que recebia nas noites de trabalho era enviado para São Paulo, diretamente para a conta bancária de sua mãe. O pouco que se dava o luxo de manter para si, era destinado para alimentação e pré-pago do celular, por pura necessidade de sobrevivência.

Não ia à festas, cinema, bares, boates. Não por diversão. Suas noites eram reservadas ao perigos das luzes coloridas e batidas incessante, ao calor amargo de corpos desconhecidos.

Sua rotina era restrita à deveres e sobrevivência, nem a comida que entrava em contato com sua língua era prazerosa.

Não havia espaço para prazer na vida de alguém como ele.

Sujo.

Ele respirou fundo, fechando os olhos ao enviar o e-mail para Amaury.

Sujo.

XVIIIOnde histórias criam vida. Descubra agora