【Ⅷ】

435 36 12
                                    


Timeline: Antes da Quesadilla
Personagem: Ambos

.

.

.

Fazia frio. Fazia muito frio. Um frio tão rigoroso que os ossos chegavam a tremer, o piso rangia com o pisar. Fazia tão frio que as noites pareciam um vazio completo. As pessoas andavam bem agasalhadas nas ruas, sendo movidas pela agitação na capital paulista. Haviam se passado dias, até semanas, mas Cellbit ainda sentia medo. Todas as noites, ao se recostar em seu travesseiro, sentia uma pressão sobre seu corpo, era como se seus olhos afundasse, o impedindo de ver a criatura que o arrancava o sono. Era como se sua mente fosse lentamente sendo destruída. Aquilo o matava. Remoia os sonhos ruins, as noites em que passava acordado, tentando descobrir o que tanto o incomodava. Mas sempre ocorria a mesma coisa. Ele sentia um pesar, uma força maligna se apossando de seu corpo, e então, ele perdia a consciência.
Agora eram 22h, perto da hora de dormir. Roier ainda estava no banho, o som do chuveiro era escutado pelas paredes finas. Isso de alguma forma o tranquilizava, saber que não está completamente sozinho, sozinho com seus devaneios. Isso é uma ideia assustadora. Estar sozinho é um vazio incompreensível. As vezes, as pessoas podem achar que é melhor assim. Mas a excluída completa do viver compartilhado é como a sensação de milhares de cacos de vidros adentrando seus órgãos. O sangue escorre. E então. Você se encontra no chão. No fundo de um buraco profundo e escuro. Onde ninguém nunca vai te encontrar, oi se quer pensar em salvar.
O ato de dormir vinha se tornando cada vez mais complicado. A sensação de submissão a uma força maior, e então, a morte momentânea. Cellbit sabe que vai recobrar a consciência. Mas que esse proceso sera doloroso.
Já tentou comentar com Roier sobre sua insônia peculiar, e o mexicano como ex estudante de psicologia, sempre acaba dizendo que pode ser algum trauma se manifestando por algum gatilho.

“ — Cellbo, querido, isso é claramente um assunto mega delicado... Tem certeza que quer uma conclusão minha? –

— Sim. Porfavor querido. Eu preciso de uma resposta, seja ela qual for. –

— Se diz... Ok. Sua insônia pode ser resultado de múltiplos fatores. Isso varia de caso para caso. Falando de você, e sobre o que eu sei dessa sua cabecinha, pode ser algum trauma se manifestando por algum gatilho. –

— Gatilho? –

— Sim, gatilho. Eu me refiro a algo que ativa seu trauma. Por exemplo: Eu tenho trauma de água, então toda vez que me levam para a piscina, eu sinto medo, repulsa... Sentimentos ruins. Entendeu? Gatilho é algo que 'ativa' seu trauma. Digamos assim.

— Entendi... Então... O que acha que pode ser meu gatilho? –

— Eu não posso dizer com certeza querido, até porque, é você que sente. Mas... Supondo algo com o que você me diz. Pode estar acarretado ao seu trauma do abandono. Você passou muito tempo vagando por aí sendo apenas uma criança! Isso causa traumas irreversíveis na vida de um ser humano, principalmente um em desenvolvimento. As vezes a sensação de dormir para você recorde ao abandono sofrido quando você era menor. Quando você é obrigado a sair de sua casa, sem ter onde morar ou o que comer, nos obriga a imaginar ou criar cenários ende isso ocorre. Bem provavelmente, você sonhava com a sua casa, família...

— Sim, mas, o que explica a sensação de observação? –

— Depende. Pode ser um desenvolvimento de fobia social, ou simplesmente, seu cérebro tentando te dar proteção. –

GATINHO COMUNISTAOnde histórias criam vida. Descubra agora