– Briga! Briga! Briga! – gritava a multidão de jovens ao redor de duas moças que se atacavam. Quanto mais tapas eram vistos, mas a multidão gritava. Pareciam se divertir com o que estavam vendo e ninguém para querer fazer algo a respeito daquela situação. Esses jovens...
Uma das garotas já possuía um vasto histórico de confusões na então escola.Karina era o seu nome.
Não muito longe dali, o diretor é avisado da briga que estava acontecendo no refeitório de sua escola e logo, ele se apressa para resolver aquela situação.
E lá vamos nós...– pensou ele. Apesar de ele não ter sido informado sobre quem eram as alunas que estavam brigando, já imaginava quem seria uma delas. Ao avistar a multidão, correu até lá e automaticamente os alunos se afastaram por respeito ao diretor, e as garotas que até então, brigavam intensamente foram separadas. Com certeza se o diretor não aparecesse ali, ninguém estaria disposto a separar as "jovens briguentas".
– Para a diretoria, agora – falou ele e ambas obedeceram.
Como ele imaginava, uma das adolescentes que estavam na briga era Karina Vianna. Já era a terceira briga em que ela estava envolvida só naquele mês. Poderia simplesmente expulsar aquela garota rebelde, no entanto, ele estava ciente da situação atual da família dela.
Karina mora com a mãe, a batalhadora senhora Betânia. A jovem não tinha pai, pois ele havia falecido cinco anos antes. Além de tudo isso, a situação financeira dela não era das melhores.
Voltando a situação atual de Karina e sua colega, com quem havia brigado, o diretor resolveu chamar os responsáveis de cada aluna. Como era de se esperar, a mãe de Karina apareceu com a decepção estampada em seu rosto. Assim que o diretor conversou com todos, dispensou cada um deles.
Ele poderia suspender aquelas alunas, porém, como as férias já estavam bem próximas, refletiu e chegou a conclusão que as férias poderiam ajudar elas (principalmente Karina) a pensar nos seus atos e talvez, apenas talvez, amadurecer.
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Ao chegar em casa, Karina procurou não encarar muito a mãe, mas sabia que teria que fazer isso. Ela não era uma ignorante, sabia que estava fazendo o errado, só não tinha vontade de mudar. Enquanto ela se dirigia para o seu quarto, sua mãe decide quebrar o silêncio.
– Por que você insiste em me dar desgosto, Karina? Você me odeia tanto assim? – perguntou ela com um misto de tristeza e revolta.
–Mãe, aquela garota me provocou! Ela ficou me xingando e eu tive que revidar!
–Minha filha – começou Betânia. – violência só piora as coisas.
–A senhora não me entende. Se a senhora estivesse no meu lugar eu sei que – a jovem logo teve sua fala interrompida por sua mãe.
–Eu com certeza não teria cedido às provocações da outra garota.Já tentou praticar o ensinamento de dar a outra face?
A garota bufou.
Na sua cabeça, apenas havia se defendido. E o pior de tudo é que a briga começou por causa de um mal entendido.
A garota que havia brigado com Karina achava que a mesma estava tentando dar em cima de seu namorado. No entanto, era o contrário que acontecia. Há algumas semanas um garoto havia tentado se aproximar de Karina na escola. A garota temperamental, todavia, deixava claro que não queria entrar em relacionamento algum.
Justamente naquela manhã, enquanto Karina se dirigia ao bebedouro para tomar água, o garoto se aproximou dela, insistindo em conversar. Sua namorada, que até então era desconhecida por Karina, viu a cena e sentiu muito ciúme. A garota foi até Karina e a xingou. O resto da história, vocês já sabem.
Karina poderia tentar usar mais argumentos para convencer a mãe de que agiu em sua própria defesa, porém, preferiu andar até o quarto em silêncio. Ela deixou sua mãe na sala, triste e se perguntando onde tinha errado.
No seu quarto, a jovem rebelde se joga na cama e começa a pensar em sua vida. Amava sua mãe, mas sentia muita revolta, revolta esta causada devido a morte de seu pai e devido à condição financeira desfavorável. Apesar de tudo, a garota sabia que seu mau comportamento só fazia mal a ela e aos que estavam ao seu redor.
É o meu jeito – pensava ela.
A jovem decide então pegar o seu celular e seus fones de ouvido para ouvir alguma música. Colocando o volume da música no máximo, Karina tentava inútilmente parar de pensar no quanto fazia a sua mãe sofrer.
E enquanto Karina tentava se convencer de que aquele era o jeito dela e que não havia nela vontade de mudar, sua mãe se encontrava no banheiro, com os joelhos dobrados, clamando ao Senhor por uma mudança. Era o que ela mais queria.
–Senhor, me ponho diante da Tua Santa Presença e Te peço, me ajude a passar por essas lutas sem perder a minha fé. Oro também para que o Senhor me dê sabedoria para lidar com a minha filha Karina – ela fazia pausa e se permite chorar visto que aquele momento era um momento de desabafo. – ela precisa de Ti, por isso, peço por favor... tenha compaixão e misericórdia dela. E que a Tua Vontade seja priorizada. Em nome de Jesus, amém! - finalizou ela limpando as suas lágrimas.
Apesar de suas lutas, Betânia sabia que Deus estava no controle de tudo.
Ela poderia até se sentir fraca e sobrecarregada, até porque, era humana e falha, mas sempre apresentava suas aflições ao Rei dos Reis, na certeza de que, no tempo DELE, tudo ia se resolver.
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A noite chegou e o jantar foi servido. Durante a refeição, mãe e filha permaneciam em silêncio. Assim que terminaram a refeição, Karina fez questão de lavar a louça, pois na cabeça dela, aquela seria uma boa forma de "aliviar" o clima tenso com sua mãe. Na cabeça dela, estava fazendo um favor para a dona Betânia.
–Deixa que eu lavo a louça – disse a adolescente. Sua mãe a olha com amor, e aquele olhar só fazia com que ela se sentisse a pior pessoa da face da terra. Como a mãe ainda conseguia olhar para ela com tanto amor e carinho se ela só a decepcionava?
Karina não percebia, mas Deus também fazia questão de olhar para a humanidade com amor. Mesmo se tratando de pessoas falhas, pecadoras e infiéis, Ele as ama.
Voltando para o momento em que a senhora Betânia olha para a sua filha, ela diz:
–Tudo bem, filha. Obrigada – agradeceu de forma simples. Apesar de nunca ter falado em voz alta, Karina sempre apreciou a simplicidade e ternura de sua mãe. O jeito carinhoso, os olhos meigos e a forma pacífica de falar só convencia Karina do quanto era diferente de sua genitora.
Após terminar de lavar a louça, Karina percebe sua mãe se preparando para ir à igreja.
–Filha, se você quiser ir para o culto comigo, eu te espe– Betânia começou a falar, mas logo foi interrompida.
–Eu prefiro ficar em casa – disse Karina e repreendeu-se mentalmente por interromper sua mãe de forma tão rude. A verdade era que a adolescente já estava cansada de todo dia ser convidada para ir à igreja.
–Acredito que faria muito bem a você ir assistir o culto comigo– ressaltou a mãe de Karina.
–Mãe, tudo o que eu preciso nesse momento é descansar!
A mãe se aproxima de sua filha e diz com seriedade:
–Tudo o que você precisa nesse momento é ouvir a Voz de Deus. Mas já que você não quer, o que posso fazer?– falou dona Betânia, e Karina notou um tom de tristeza na voz de sua mãe, que por sua vez, deu um beijo na testa da filha e saiu de casa para ir ao culto.
Ambas, porém, não sabiam que após aquele culto, tudo ia mudar...
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KARINA
EspiritualProblemática. Rebelde. Briguenta. Temperamental. Esses e outros adjetivos eram dados a Karina, uma jovem de dezesseis anos que não consegue superar a dor do luto e por isso, revestiu-se de uma capa que expressava ódio, revolta e um vazio de Deus. Be...