–A sua letra é muito bonita, Olívia– elogiou Midara ao ver a caligrafia tão bem-feita da amiga.
–É com certeza bem melhor que os meus garranchos...–confessou Karina fazendo as outras duas garotas rirem de seu comentário.
–Obrigada,meninas...mas não é para tanto...
–Não é para tanto!? – Karina fez uma careta e pegou o caderno em que a outra escrevia até então.–olha isso, Midara. Essa letra é uma verdadeira obra de arte e ela está dizendo que não é para tanto!
Olívia começou a rir sem graça. Os elogios não perduraram pois na mesma hora, a esposa do pastor Claúdio chega. Ela observa a mesa e não vê nada além de um caderno e uma caneta. Parecia procurar mais alguma coisa.
–Cadê os jornais com os folhetos?– indagou.
–O Bruno foi pegar– respondeu a jovem asiática.
Naquela manhã, os jovens juntamente com o pastor e sua esposa resolveram fazer um pequeno trabalho evangelístico em frente a igreja. No caderno que Karina pegou das mãos de Olívia, eram anotados os nomes de cada pessoa que passava pela calçada onde estavam. Aquelas pessoas eram abordadas e convidadas a participar dos cultos, e obviamente, tinham os seus nomes anotados no caderno de orações.
Várias pessoas foram abordadas naquela manhã. Algumas mostravam interesse no convite feito, outras desdenhavam.
Em meio aquele trabalho tão bonito, um jovem sorridente e de espírito alegre olha para o outro lado da rua e vê um grupo de quatro rapazes. Conseguiu ver brincos, cordões de prata e até óculos neles. Sem perder tempo, Ricardo atravessa a rua e se aproxima daqueles rapazes para lhes fazer o convite. Somente alguns notaram o que ele estava fazendo. E Karina era uma dessas pessoas.
Observava calmamente a ousadia dele e não pôde conter a sua admiração. Lembrou-se de quando o conheceu. Naquele dia, não tinha sido muito legal com ele. Na verdade, até estranhou um pouco a repentina aproximação dele. Outros pensariam que ele estava com segundas intenções. Talvez em algum momento, ela tenha pensado nisso. Mas agora compreendia claramente que ele estava sendo gentil e bom. Ele interagia muito bem com qualquer pessoa independente da forma como esta agia, se vestia e falava.
–Como um verdadeiro cristão...–sussurrou para si mesma enquanto ainda o olhava de longe.
–Falou comigo?– perguntou Midara ao ouvir a amiga falar alguma coisa que não conseguiu compreender.
-Não. Eu só estava...falando comigo mesma.
Midara a olhou com um sorriso divertido.
–Não sabia que você era do tipo que fala sozinha...
–Às vezes é melhor do que falar com a amiga tagarela que tenho– brincou.
Midara fingiu uma cara de ofendida mas depois sorriu para Karina. Continuaram o pequeno movimento evangelístico quando uma figura feminina já conhecida por Karina foi vista dirigindo-se à igreja. Olhou bem para confirmar, e não teve dúvida: era Débora. A jovem loira vinha a passos lentos e com um olhar diferente do habitual, transmitiam uma confiança. Ela cumprimentou a todos com um bom dia e aproximou-se do pastor Cláudio e de sua esposa. Conversaram rapidamente em voz baixa.
Em poucos minutos, um grande sorriso apareceu em ambos os rostos. Pareciam ter recebido uma excelente notícia. Tanto Débora quanto o pastor e sua esposa adentraram a igreja. Apesar da curiosidade, os olhos escuros de Karina limitaram-se a focar em entregar convites do culto assim como os outros faziam.
Quinze minutos se passaram e Débora enfim saiu da igreja, contudo não conseguiu evitar que olhares fossem dirigidos a sua pessoa. Não podia ser diferente, afinal, naquele exato momento encontrava-se completamente molhada. Seus colegas de igreja não demoraram a ligar os pontos...
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KARINA
EspiritualProblemática. Rebelde. Briguenta. Temperamental. Esses e outros adjetivos eram dados a Karina, uma jovem de dezesseis anos que não consegue superar a dor do luto e por isso, revestiu-se de uma capa que expressava ódio, revolta e um vazio de Deus. Be...