Capítulo 2: A oportunidade

6 0 0
                                    


Chegando na igreja, dona Betânia de imediato sentiu um alívio. Apesar de tantas lutas, ela sabia que a vitória era certa.

Assim que o pastor Jonas subiu no altar fez uma oração e após um momento louvor, ele abre a sua bíblia e pede para que todos façam o mesmo.

–Em Mateus 11, versículo 28, notamos que o Senhor nos convida a ir até Ele quando nos sentimos cansados. Vejam – o pastor começa a ler o versículo. – "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei."

Todos estavam atentos à pregação. Após uma pequena pausa, o pastor continua:

– Somos humanos, e às vezes nos sentimos cansados por causa das aflições que passamos neste mundo. Mas não é desistindo de acreditar em Deus que as coisas vão melhorar, pelo contrário! O que nós devemos fazer é apresentar as nossas lutas para Deus e confiar que Ele vai nos conduzir em todas as situações difíceis– falou o pastor Jonas com muita convicção. – Não é fácil esperar em Deus, mas também não é impossível. Muitos se cansam de confiar no Criador quando as aflições começam a se multiplicar, mas, nunca se esqueçam de que tudo passa, ou seja, os momentos difíceis também são temporários.

Betânia, após ouvir aquela pregação, foi tomada por uma força enorme, e, em seus pensamentos, decidiu não mais orar para que Deus mudasse sua vida, mas que Ele fizesse a Sua vontade na vida dela, e na vida de sua filha. Apenas confie NELE, repetia ela para si mesma.

...................

Após o término do culto, dona Betânia continuou sentada em seu lugar, olhando para o altar. Enquanto pensava no que ela ouviu, a mesma não percebeu que os demais que estavam na igreja estavam indo embora.

O pastor auxiliar Cláudio e sua esposa Verônica perceberam aquela senhora olhando para o altar inerte em seus pensamentos. Ah! Não poderia deixar de falar que o pastor auxiliar, como o próprio nome já diz, auxiliava o pastor titular (que é o pastor Jonas) com o objetivo de ajudar no bom andamento da obra de Deus. Gravem os nomes do pastor auxiliar e de sua esposa, eles serão de suma importância para essa história.

–Com licença, senhora? Será que podemos ajudar? – perguntou o pastor Cláudio acompanhado de sua esposa.

–Apenas algumas lutas pastor... mas sei que Deus está cuidando de tudo – disse dona Betânia convicta.

–Gostaria de conversar sobre isso? Estamos aqui para ajudá-la no que precisar– perguntou a esposa do pastor.

Assim, dona Betânia comentou sobre a sua situação financeira e a rebeldia de sua filha Karina. Após contar para o pastor e sua esposa o que estava acontecendo, o pastor decide se pronunciar.

–Dona Betânia, fico feliz em ver a senhora permanecendo na fé em meio a tantas lutas.Imagino o quanto deve ser difícil ter fé diante de tantas tribulações e gostaria de propor algo para a senhora.

– E o que seria pastor?– indagou ela.

–Amanhã, às 15 horas, levaremos o grupo jovem para um acampamento não muito longe daqui. Ficaremos lá, apenas duas semanas. Haverá um momento para se divertir, mas também para ouvir e aprender mais sobre a Palavra de Deus. Seria bom se sua filha fosse– disse o pastor Cláudio fazendo com que a mãe de Karina pensasse.

Com certeza a sua filha iria recusar. Mas, e se aquele acampamento fosse uma oportunidade para Karina aprender mais sobre o Senhor? Haveria outros jovens no acampamento, isso poderia ser um incentivo para que Karina participasse do mesmo.

– É uma ótima ideia pastor! Farei o possível para convencer a ir para o acampamento – disse dona Betânia eufórica. Se aquela oportunidade lhe estava sendo apresentada, ela a agarraria com força.

– Quanto a sua situação financeira– começou a esposa do pastor.– também a ajudaremos nisso.

Após a fala da esposa, um abraço de dona Betânia foi dado e muito bem recebido. Ela estava muito grata. Grata a Deus, pois sem Ele, nada daquilo aconteceria.

Após a agradável conversa com o pastor e sua esposa, dona Betânia seguiu para a sua casa. Chegando lá, tomou um banho, agradeceu a Deus por mais um dia de vida e foi dormir. A verdade é que a certeza de que tudo ficaria bem trazia paz para a dona Betânia, que por sua vez, não sabia como ou quando alcançaria a sua vitória... mas sabia que a alcançaria.

...................

Ao acordar pela manhã, dona Betânia fez sua oração e depois suas higienes pessoais. Não perdeu tempo e foi logo preparando um belo café da manhã, com torradas e café com leite. 

Por mais simples que fosse, a mãe de Karina fez o possível para que o café da manhã de certa forma ajudasse a melhorar o mau humor de sua filha.

Enquanto arrumava a mesa do café da manhã, dona Betânia pedia mentalmente a Deus por sabedoria. Karina tinha um temperamento bastante forte, então, sua mãe precisaria ser muito sábia para convencê-la.

Não demorou muito para Karina aparecer no mesmo cômodo que sua mãe estava e se dirigir até a mesa de refeições. Betânia observa a filha e nota em seu olhar um misto de revolta e saudade, qualquer um perceberia que aquela jovem carregava dentro de si uma dor. Betânia sabia também que esta dor estava relacionada à morte do pai de Karina, e apesar do tempo ter passado, aquela ferida continuava aberta em sua filha. A mãe de Karina também sentia saudades de seu marido, mas diferente de sua filha, ela conseguiu superar a dor do luto.

Quando Betânia olhava para a sua filha, percebia o quanto aquela jovem se parecia com o pai. Os cabelos escuros e os olhos castanhos a faziam lembrar das características físicas de seu falecido marido.

Vicente Joaquim, o falecido, era um homem bastante sério e dedicado. Era um excelente pai e amoroso marido, fato esse que fez com que fosse respeitado por muitos. Além de tudo isso, era um cristão que não tinha receio de expressar a sua fé. Sempre que podia, falava sobre o amor de Deus e a importância de servir a ELE.

Era de fato um homem admirável, apesar dos seus defeitos. No entanto, um trágico acidente acabou interrompendo a vida do marido de dona Betânia. As consequências deste acidente foram a morte de Vicente Joaquim e o endurecimento do coração de Karina, que carregava ainda uma dor em seu interior ocasionada pela perda de seu pai.

Já estava na hora das coisas mudarem e Betânia tinha plena consciência disso. A jovem precisava que Deus curasse as suas feridas.

– Bom dia filha!– disse a mãe após ficar um bom tempo observando o quanto a sua filha era semelhante ao pai. Em seu rosto havia um grande e radiante sorriso.

– Bom dia– disse Karina sem querer encarar a mãe.

Ao sentarem na mesa, dona Betânia inicia uma oração agradecendo pelo alimento e depois elas comem. Durante o silencioso momento da refeição, dona Betânia decide se pronunciar.

–Filha, vai ter um acampamento para os jovens da igreja e eu gostaria muito que– começou a mãe de Karina querendo ser o mais objetiva possível, no entanto, a mesma foi interrompida pela filha.

–Por favor mãe, nem continua!– disse Karina sem levantar a sua voz. – A senhora sabe que eu não curto esse lance de igreja!

–Eu raramente peço algo para você Karina. E quando eu peço, recebo logo um não de cara? Por favor filha, eu queria muito que você fosse.

–Eu não vou.

Naquele momento, sua mãe poderia aceitar aquele não como fez tantas outras vezes, contudo, já estava cansada da rebeldia da filha. Então, em um ato de revolta, ela disse com voz firme:

–Ou você vai para esse acampamento ou serei obrigada a te colocar em um colégio interno. Você decide.

KARINAOnde histórias criam vida. Descubra agora