Se afastando um pouco daquele local, dona Betânia olha para o céu e diz:
–Está nas tuas mãos, Senhor!
Enquanto isso, a jovem rebelde sentia-se um verdadeiro peixe fora d'água. Karina não estava se sentindo confortável em um local cheio de jovens alegres e espontâneos, sendo ela a única de cara amarrada.
–Pessoal, nós já vamos partir! – assim que o pastor Cláudio diz isso, todos os jovens, incluindo Karina, entram no ônibus para poderem ir ao lugar planejado.
Karina se senta e observa a grande quantidade de jovens eufóricos presentes ali.Todos entram no ônibus, entre eles, uma jovem asiática se aproxima dela.
–Posso sentar aqui?–perguntou ela apontando para o lugar vago ao lado de Karina.
–Claro. Esse lugar está desocupado– diz Karina.
A jovem japonesa senta ao lado de Karina, que por sua vez tenta lhe dar um sorriso,o menos forçado possível.
–Eu me chamo Midara.
Por um breve momento, Karina se sentiu um pouco mais confortável ali, até porque, pessoas como ela também gostavam de interagir com outras pessoas. No entanto, o jeito revoltado e encrenqueiro da jovem muita das vezes lhe impedia de fazer boas amizades. Na escola,por exemplo, Karina limitava-se a ter "amigos" que fossem como ela. Os chamados "barra pesada".
Para não deixar aquela garota no vácuo, ela decide falar:
–O meu nome é Karina.
–É um prazer conhecê-la, Karina.
Alguns minutos se passaram e o pastor auxiliar entra no ônibus ao perceber que todos os jovens já estão dentro do veículo. Antes que o motorista dê a partida, o pastor decide iniciar uma oração.
–Olá, jovens!– começou ele. – Vamos falar com Deus. Fiquem de pé, coloquem as mãos no coração e vamos pedir para que Ele abençoe a nossa ida ao acampamento.
Ao notar todos de pé e com os olhos fechados, Karina decide se levantar também,porém, ela não fecha os olhos.
–Senhor Deus, aqui nos encontramos diante da Tua Presença e Te pedimos, guarda-nos e proteja-nos nessa viagem que iremos fazer.Cremos que o Senhor vai fazer coisas extraordinárias nesse acampamento, abençoe e cuide de cada um que está aqui. Obrigado por ouvir a nossa oração, em nome do Senhor Jesus, amém!– disse o pastor finalizando a oração. – Vai arrebentar!
Assim que a oração é finalizada, todos voltam a se sentar em seus lugares e o motorista dá a partida.
...................
Chegando no lugar esperado, boa parte dos jovens saíram do ônibus bastante ansiosos. Eles sabiam que haveriam várias atividades no acampamento.
Karina, assim que saiu do ônibus, observava o lugar simples e pitoresco, porém visivelmente bonito. Haviam cabanas e muito mato,o que já era de se esperar.
Enquanto Karina observava aquele lugar, não percebeu que um rapaz desconhecido se aproximava.
–Bonito, não é?– perguntou o desconhecido.
–Como?–perguntou ela. Estava tão concentrada no que estava vendo ao seu redor que não percebeu a aproximação do rapaz, como também não havia compreendido bem a pergunta.
–Esse lugar!– disse ele fazendo gesto com a mão para falar do acampamento. –Ele é muito legal, não acha? Eu gosto quando tem acampamento, porque aí a gente sai da rotina,faz algo diferente...entende?
Karina olhou bem para aquele jovem. Ele tinha cabelos castanhos, olhar alegre e inconfundível, e um belo sorriso no rosto. Parecia que estava bastante feliz em estar ali, já ela, não demonstrava satisfação alguma em estar naquele lugar apesar dele parecer aconchegante.
Voltando o seu olhar para aquele local, ela finalmente diz:
–Não, eu não entendo. A verdade é que eu nunca acampei.
–Ah, entendi – disse ele. – Mas eu tenho certeza de que esse seu primeiro acampamento vai ser inesquecível.
Duvido, pensou ela.
Após essa pequena conversa houve um breve momento de silêncio. No entanto, esse momento de silêncio logo foi quebrado pelo jovem sorridente.
–Quase ia me esquecendo de me apresentar – disse ele estendendo a mão a para ela. – Meu nome é Ricardo.
–Karina– apresentou-se ela sem estender a mão para Ricardo. Não estava no clima de fazer amigos e muito menos de cumprimentar os outros com um aperto de mão.
Ao perceber que ficou no vácuo, Ricardo abaixa lentamente a sua mão.
Não muito longe dali, uma jovem loira e bonita observava nada contente a interação entre Ricardo e Karina. Seu nome é Débora e naquele momento, tentava entender o motivo pelo qual aquele rapaz conversava com uma desconhecida. Débora cresceu na igreja assim como Ricardo, e com o passar do tempo, foi nutrindo sentimentos por ele. Sem ela perceber, aqueles sentimentos estavam tirando o foco dela. Ela já não cuidava da sua vida com Deus. E agora, estava dando ouvidos à voz do ciúme, o que não era nada bom.
...................
Não demorou muito para que rapazes e moças fossem levados para as suas cabanas. Havia uma cabana para as garotas e uma cabana para os garotos.
Chegando no alojamento feminino, Karina e as outras garotas foram escolhendo suas camas. Depois de se alojarem, a garota de cabelos e olhos escuros decidiu sair um pouco da cabana. Havia muitas garotas ali e esse fato fazia com que a mesma se sentisse sufocada.
Saindo do lugar em que se encontrava, a jovem andou um pouco sem saber para onde deveria ir. Não muito longe dali, Verônica notou Karina um tanto deslocada naquele lugar e resolveu se aproximar dela.
–Olá, jovem!
–Oi...– disse Karina um pouco surpresa.
–Vim ver se precisa de algo, você me parece um pouco...perdida– comentou Verônica.
–Eu estava procurando um lugar para ficar sozinha– começou Karina olhando para a mulher de sorriso tão doce. – Eu só queria ir para um lugar mais privado, entende?
Verônica não pôde deixar de sorrir.
–Acho que entendo sim. Dividir o quarto com outras garotas é algo bem desconfortável, não é? Você se sente impedida de desfrutar de sua privacidade.
–É exatamente como eu me sinto.
–Bom, o único lugar que sei que por agora não tem muita gente, é o refeitório– disse Verônica apontando para o local citado.
Ao avistar o local, Karina tentou se dirigir até lá, mas Verônica continuou falando.
–Se me permite um conselho... não se isole muito muito ok? Tenho certeza que interagir com outros jovens vai ser muito bom para você.
Após aquele breve momento de conversa, a esposa do pastor Cláudio se retira e Karina se afasta rumo ao refeitório. A jovem de cabelos e olhos escuros ficou aliviada em perceber que não tinha muita gente naquele lugar.
No refeitório havia vários bancos e mesas, estas por sua vez eram de madeira. Era de fato um lugar bem aconchegante.
Sentando-se em um dos bancos, Karina começou a pensar que aquele lugar era um pouco diferente do que havia imaginado. Boa parte das pessoas eram alegres. E bem comunicativas, pensou ela lembrando-se de Midara, Ricardo e a esposa do pastor, Verônica. A cada momento que passava, ela possuía mais certeza de que seu lugar não era ali.
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KARINA
SpiritüelProblemática. Rebelde. Briguenta. Temperamental. Esses e outros adjetivos eram dados a Karina, uma jovem de dezesseis anos que não consegue superar a dor do luto e por isso, revestiu-se de uma capa que expressava ódio, revolta e um vazio de Deus. Be...