Com certa surpresa, Karina se encontrava boquiaberta com o que a mãe tinha acabado de falar. Ela quer me obrigar a ir para esse acampamento?É isso?,pensava ela.
–A senhora não pode me obrigar a ir.
–E quem disse que eu estou te obrigando? Eu estou te dando a oportunidade de escolher. Filha, a cada dia que passa o seu comportamento só piora! Não sei como o diretor da sua escola não te expulsou.
–Talvez porque eu seja uma das melhores alunas da sala. Eu tiro notas bem altas.
–E do que adianta ser tão inteligente se você vive descontando a sua raiva nos outros?– perguntou dona Betânia.– Essa não foi a educação que eu te dei.E se for para continuar desse jeito, talvez seja melhor você estudar em um colégio interno.
–Não!– exclamou Karina. – Tudo menos isso!
O pavor de Karina se dava pelo fato de que o colégio interno parecia mais uma prisão do que um colégio. As regras extremamente rígidas faziam Karina estremecer, pensando também nas possíveis punições aos alunos.
–Já que você não quer ir para o colégio interno, aconselho que você prepare logo a sua bagagem!O acampamento lhe aguarda – disse dona Betânia com um ar calmo porém feliz.
–Mãe...isso é chantagem!– falou Karina em um tom sério. Ainda não tinha acreditado que sua mãe bondosa e meiga tivesse sido capaz de chantageá-la.
–Cada um usa as armas que tem! – disse a mãe de Karina brincando. – Filha, a verdade é que eu estou cansada desse seu comportamento. Tudo tem limites! E você faz questão de me dar desgosto e cabelos brancos.
Dona Betânia se levanta e caminha até a filha que está sentada.
–O que eu faço agora pode parecer duro e forçado... mas eu só quero o seu bem. Talvez algum dia você entenda.
Karina bufou.
Ir para o mato com pessoas desconhecidas para ouvir sobre religião parecia um tanto tedioso para Karina.
–Quanto tempo terei que ficar lá?– perguntou ela e sua mãe lhe deu um sorriso.
–Serão apenas duas semanas.
–Duas semanas?!– exclamou Karina assustada.
–Não sei o porquê dessa cara de susto. Será um acampamento e não uma tortura–falou em tom divertido.–Esse acampamento só fará bem a você, minha filha.
Assim, a dona Betânia prosseguiu tomando o seu café da manhã.
Karina queria arrumar um jeito de convencer sua mãe a mudar de ideia, no entanto, não tinha como argumentar com ela naquele momento.
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Depois do turbulento café da manhã, dona Betânia foi trabalhar enquanto Karina ficava em seu quarto pensando na sua inesperada viagem. Apesar de ter ficado irada com a novidade trazida por sua mãe, ficava aliviada por não precisar ir para o colégio interno.
Sem ter muita opção, Karina resolve arrumar sua mochila com seus pertences. Afinal, não demoraria muito para chegar o momento de partir para o acampamento.
A jovem Karina coloca em sua mochila alguma de suas roupas, sapatos, fones de ouvido ( algo que não poderia de nenhuma maneira esquecer! ) e outras coisas.
Enquanto a garota de cabelos escuros e temperamento forte arrumava as suas coisas, os seus olhos pousaram sobre uma foto que tinha em seu quarto. Era uma foto dela quando criança, junto de sua mãe e seu pai.
Ainda encarando a foto, Karina relembrava tudo de bom que fazia ao lado de sua família. Eles passeavam, brincavam e até iam para a igreja. Sim... Karina já esteve na igreja. Quando era criança tinha prazer em ir para a igreja com sua família. Ela e outras crianças aprendiam sobre Jesus na Escolinha Bíblica Infantil, ou simplesmente EBI, lá, ela se sentia muito feliz. No entanto, depois que seu pai faleceu, tudo mudou.
Ir para a igreja não fazia mais sentido para ela. Com o tempo, a dor da perda acabou gerando uma revolta na jovem Karina, que por sua vez, se tornou uma garota temperamental e briguenta.
Depois de ficar um bom tempo inerte em seus pensamentos, a filha de dona Betânia resolve parar de pensar no passado e continua arrumando as suas coisas. Às vezes pensar no passado pode trazer alegria, ou pode trazer tristeza.
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As horas passaram bem rápido para Karina. Sua mãe chegou cedo de seu trabalho para poder levar a filha até a igreja. Lá, os jovens iam se reunir para partirem todos juntos no mesmo ônibus para o acampamento.
No caminho para a igreja, mãe e filha ficam em silêncio enquanto caminham. A igreja não era tão longe da casa de ambas, então, não demoraram mais do que 15 minutos caminhando.
De repente, a mãe de Karina resolve quebrar o silêncio.
–Eu espero que você se divirta muito nesse acampamento.
–Como a senhora espera que eu me divirta em um lugar onde eu não conheço ninguém?–perguntou Karina um tanto revoltada.
–Veja esse acampamento como uma oportunidade de fazer novos amigos – disse Betânia.
Karina ia retrucar, mas ao avistar a igreja de longe resolveu se calar.Conforme iam se aproximando da igreja, avistaram muitos jovens e não muito longe um grande ônibus para levar todos aqueles indivíduos até o local planejado.
–Dona Betânia!– disse o pastor ao reconhecer a mãe de Karina. Ao lado dele estava a sua esposa, que por sua vez, chamou a atenção de Karina pelo semblante de paz e alegria.
–Pastor Cláudio! Como é bom rever o senhor e a sua esposa!
–Creio que esta jovem é a sua filha, acertei? – perguntou o pastor em um tom divertido.
Nossa,não sabia que era tão famosa, pensou ela com sarcasmo.
–Sim pastor! Essa jovem é a minha filha. Eu consegui convencê-la a participar do acampamento e agora ela está aqui– disse com muito orgulho.– Tenho certeza de que vai ser muito bom para ela.
–Não tenho dúvidas quanto a isso– falou ele. – Se quiser já pode se juntar aos outros jovens.Partiremos logo.
Com um olhar suplicante, Karina vira para a mãe na intenção de fazê-la mudar de ideia. Quem sabe assim ela deixaria de lado aquela ideia de mandar a filha para aquele acampamento?Sim...Karina precisa fazer uma última tentativa para tirar aquela ideia da cabeça de sua mãe. No entanto, para a decepção da jovem, sua mãe continuou firme na sua decisão, tanto que ela se virou para a filha e dando um beijo na sua testa disse:
–Vai com Deus!
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KARINA
SpiritualeProblemática. Rebelde. Briguenta. Temperamental. Esses e outros adjetivos eram dados a Karina, uma jovem de dezesseis anos que não consegue superar a dor do luto e por isso, revestiu-se de uma capa que expressava ódio, revolta e um vazio de Deus. Be...