O relato de Olívia estava tomando a atenção do pastor e de sua esposa. À medida que falava, o pastor convencia-se mais de que precisava intensificar as orações pelos jovens. Em especial, pelo responsável da pichação nas paredes. A jovem de óculos estava contando tudo o que sabia, e Cecília, em silêncio, ficava ao lado dela. Depois de dizer tudo o queria dizer, a jovem se cala e espera um posicionamento da autoridade que estava na sua frente.
–Eu já imaginava que Karina não era culpada–disse ele para todos os que ali estavam.–E o que você falou, só confirma o que pensávamos.
–Mas, e agora?–indagou Olívia.
–Lembro-me que Karina ao ser acusada disse que aquelas coisas pertenciam a outra garota–disse Verônica, tentando se lembrar do que Karina falou.–Só não estou lembrada do nome que ela falou.
–Katy–o pastor lhe refrescou a memória ao lembrar do que a garota falou.–Ela disse que foi a jovem Katy.
–Quem é Katy?–perguntou Olívia.
–Uma garota loira que tem mechas verdes–foi a vez de Cecília falar.–Parando para pensar, aqueles desenhos macabros são a cara dela. Agora tudo faz sentido.
O pastor apenas massageia a testa, dando a entender o quanto aquele tipo de situação causava dor de cabeça. Apesar de tudo, era seu dever cuidar dos jovens que ali estavam. Não, não era fácil. Mas era necessário.
–Obrigada por falar tudo o que sabe,Olívia–agradeceu o pastor Cláudio.
A jovem de óculos apenas sorriu e logo depois se retirou. Quando chamou Cecília, a mesma havia falado que ainda precisava resolver um assunto. Assim, Olívia saiu do escritório, deixando apenas o pastor,sua esposa e Cecília lá.
–Algum problema,Cecília?–perguntou a esposa Verônica.
–Foi de propósito.
–Do que você está falando?Ainda se refere ao assunto das paredes pichadas?–perguntou a esposa.
–Não, eu estou falando briga da Karina e da Débora. Não foi acidente. A Débora estava com raiva da Karina e jogou suco nela. Ela mesma me contou, mas eu fui covarde e só estou falando para vocês agora. Sinto muito por ter omitido isso.
O pastor e a esposa se olham. Por que Débora faria aquilo?
–E por que ela estava com raiva da Karina?–perguntou o pastor curioso.
–Por que ela viu a Karina e o Ricardo conversando. Ela ficou com bastante ciúmes.
Mais uma situação a ser resolvida. Naquele momento, tanto o pastor quanto a sua esposa perceberam que aquele acampamento ficaria marcado em suas memórias. Já haviam acontecido outros acampamentos antes, mas este parecia que tinha vindo para testar a fé e a paciência de ambos.
Mas essa agora, pensou ele.
Lidar com jovens não era uma tarefa fácil.
Quando a garota disse tudo o que tinha para falar, a esposa apenas disse para que ela não tivesse mais medo de contar coisas como aquela para ela e seu marido. E quando a jovem ia se retirar, o pastor diz:
–Se encontrar a Katy, diga para ela vir aqui.
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Já era noite quando Midara e Karina saíram do refeitório. Ambas tinham acabado de jantar, e agora, se dirigiam em direção ao alojamento feminino para descansar. No entanto, enquanto andavam, viram não muito longe, três rapazes deitados no chão, quer dizer, na parte coberta pelo verde,também conhecida por mato.
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KARINA
EspiritualProblemática. Rebelde. Briguenta. Temperamental. Esses e outros adjetivos eram dados a Karina, uma jovem de dezesseis anos que não consegue superar a dor do luto e por isso, revestiu-se de uma capa que expressava ódio, revolta e um vazio de Deus. Be...