Eu estava há três dias sem comer, somente tomando água da torneira que saia da pia do banheiro, minha voz rouca informava que eu havia gasto ela em tentativas para pedidos de ajuda. Agora em cima daquela cama, eu só tentava pensar em quem poderia ter feito aquilo comigo, era visível que essa pessoa estava preocupada em acabar com minha vida. Ouvi um barulho que parecia vir do outro lado da porta do quarto, a que estava trancada, me levantei com todas as forças que encontrei e pedi socorro, mesmo com a voz rouca e eu estando fraca, tentei gritar.
- Socorro, você está me ouvindo? Por favor me ajuda!
Meu coração acelerou em pensar que alguém podia estar lá, emocionada, chorei lutando pelo o que me restava ainda de vida. Ouvi os passos que vinham em direção da porta, mas a pessoa não falava nada, nem se iria ou não me ajudar, por isso mais uma vez tentei.
- Por favor, eu estou presa á dias, estou com muita fome, me sinto fraca, me ajude.
Ainda ouvia seus passos, cada vez mais altos agora e quando a pessoa parou, ouvi ela balançar um molho de chaves, certamente, não era um amigo, principalmente quando pelo barulho, ouvi a chave entrando dentro da fechadura, girando e depois destrancando a porta. Eu me afastei e fiquei em cima da cama, com medo de quem pudesse ser, a porta se abriu lentamente e rangeu, atrás dela, uma mulher apareceu e sem mais qualquer suspense, minha mãe deu as caras.
- Bom dia filha, me desculpe deixar você tanto tempo trancada, precisei resolver algumas questões.
Ela segurava sacolas em suas mãos e eu não me movi, porque em sua cintura havia um revólver 357 taurus.
- Eu esperei tanto por isso filha, não podia vir aqui antes, fiquei com medo de ser seguida, mas trouxe o nosso café da manhã, me desculpe por não conseguir vir antes.
- Célia, está tudo bem?
- Célia filha? É sério? Somos muito mais íntimas, pode me chamar de mãe.
Com medo, apenas obedeci.
- Mãe, o que você está fazendo?
- Ah filha, não é visível, seu pai tirou você de mim eu tentei te buscar, mas, não obtive sucesso, então tive a ideia de te prender aqui.
- É por dinheiro mãe?
- Claro que não filha, quer dizer, Cris, Dom e Denis irão pagar uma fortuna por você, mas nós podemos fugir juntas filha, terei dinheiro suficiente para o resto de nossas vidas.
Ela se aproximou e colocou sua mão quente sob minha bochecha.
- Nós vamos ser felizes de novo filha, teremos tudo o que precisamos, recomeçaremos novamente como das últimas vezes.
- Mãe, o que aconteceu? Você não é assim!
- Filha, você deve estar delirando, parece estar ardendo em febre, por sorte trouxe medicamentos, achei que precisaria, acredito que bebeu muita água da torneira e talvez o veneno esteja fazendo efeito.
Eu chorei desesperada, porque aquilo estava acontecendo comigo?
- Porque está fazendo isso?
Solucei enquanto dizia.
- Você não vê? Tentaram nos separar filha, mas não irão conseguir, eu preciso de você, sei que precisa de mim também, nossa vida ia bem até Dom aparecer, não consegue entender porque está enfeitiçada por aquele homem, mas não se preocupe, porque já cuidei dele também, assim que tivermos dinheiro suficiente, vamos fugir juntas.
- Mãe, você não está em seu perfeito juízo, não pode fazer nada contra Dom, ele é o grande amor da minha vida.
- Ah Alice, não me ire mais do que já me sinto, Dom não ama você, ele te usa, assim como todos os homens fazem conosco, não viu seu pai? Ele não esteve do meu lado quando mais precisei, eu ia mudar por ele, só estava passando por um momento um tanto quanto complicado, disse para ele que me trataria e cuidaria da parte do meu vício, mas ele não me deu ouvidos, ou melhor, não me deu chances, por isso quando teve a oportunidade, foi embora com a sua amante.
Eu não aguentei todas aquelas palavras, provavelmente minha mãe tinha algum transtorno do qual eu não conhecia, algo virou a chave, ela estava em surto, implorei para Deus em meus pensamentos que fosse salva daquele lugar, que guardasse a vida de Dom, do meu pai e do Cris, porque sabe-se lá o que minha mãe provocaria. Ela estava me envenenando esse tempo inteiro, me manteve dias trancada nesse quarto, o que mais faria? Devido a tantos pensamentos eu entrei em colapso, com a dor no corpo, febre alta, estômago vazio e saúde mental totalmente abalada não resisti, caí desmaiada na cama, senti meu corpo desfalecer, talvez ela tivesse alcançado seu objetivo, claramente queria me matar.
Não tinha sido minha hora, eu acordei momentos depois não sabia quanto tempo depois, não tinha um relógio para me informar, o que me ajudava todo esse tempo era que quando o dia amanhecia eu acordava e quando a noite chegava, eu dormia, para poder saber quanto tempo eu estava ali, por esse motivo, me perdi nas contas. Minha mãe preparava uma comida, consegui levantar, andei até a cozinha, já que agora a porta estava aberta, podia me movimentar. Minha mãe me olhou como se tudo estivesse normal, em meu instinto de sobrevivência eu corri para porta, tentando escapar. Como eu era tola! É óbvio que ela não deixaria a porta aberta para que eu pudesse passar.
- Não adianta fugir Alice, nem que queira, estamos no meio do nada, ninguém te encontraria assim tão fácil, não sou idiota a ponto.
- Mãe, eu tenho dinheiro, tenho casa, posso colocar tudo em seu nome, não denunciaria você então me deixe voltar a viver.
- Filha, entenda que sua vida é e sempre será comigo, me esforço muito para ser sua mãe e não abriria mão de você.
- O que você quer de mim?
Disse derrubando lágrimas.
- Não é claro? Não consegue enxergar?
Eu respondi que não com a cabeça.
- Se eu não fui feliz, porque você será? Acha justo com sua mãe Alice? Como pode ser ignorante a esse ponto?
- Como eu nunca notei que você é louca a esse ponto? Essa é a pergunta correta.
- Louca?
Ela gargalhou.
- Não me viu louca ainda Alice.
Ela se virou em minha direção, seus olhos me deram medo, eu fiquei chocada quando vi sua expressão de completa loucura, minha mãe não estava lúcida, eu me sentei na mesa, não poderia fazer nada, até mesmo porque qualquer coisa que eu pudesse usar como defesa estavam em suas mãos.
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COMO SÓ VOCÊ SABE - VOLUME III
Historia CortaAlice Hoffman foi sequestrada por quem menos esperava, sua vida sempre parece ter um obstáculo ou ser interrompida por coisas que não estão ao seu alcance. Será que ela terá um final feliz? Ela conseguirá escapar? PLÁGIO É CRIME, SE VOCÊ LEU OU VIU...