O nascimento.

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Já era o ano 73 d.c e o dia estava nublado, ameaçando chover. Todos os Lordes e Lady's presentes nos jardins do castelo pareciam apáticos, como se não quisessem estar ali, e de fato, não queriam.
Era o décimo dia do nome de Vaegon Targaryen, filho do Rei Jaehaerys com a Rainha Alysanne. E por mais que o pequeno tivesse implorado para não fazerem comemorações, eles fizeram mesmo assim.
A verdade é que poucos Lordes tinham alguma afeição pelo príncipe, tendo em vista como ele era amargo. Então fazer um banquete era algo contraditório, quase ninguém ali prezava pelo bem estar de Vaegon. Muitos deles acreditavam que ele era na verdade uma maldição para casa Targaryen, mas, claro, não ousavam falar isso em voz alta.

— Você acha que um dia ele irá mudar? - Jaehaerys perguntava a esposa enquanto observava o garoto ignorar todos que lhe parabenizavam. A mulher também estava com os olhos sobre a criança, enquanto respirava fundo em decepção e passava a mão pela barriga inchada devido a uma gravidez avançada.
— Rezo todos os dias para isso. - A voz doce da mulher foi abafada por um trovão estrondoso e logo as gotas de chuva começaram a cair sobre todos ali presentes.

Neste momento todos quiseram se refugiar no castelo, para não se molharem. E isso causou um pequeno alvoroço de pessoas se empurrando e se esbarrando, e infelizmente a Rainha não foi poupada de tal fato. Jaehaerys viu a esposa escorregar na grama molhada após alguém se esbarrar contra ela, e ele não chegou a tempo de pega-la nos braços.
O impacto do corpo ao chão fez a loira sentir algo rompendo dentro de si: A bolsa.
O Rei estava berrando com os guardas e com as pessoas, quando a voz doce da Boa Rainha invadiu seus ouvidos, fazendo ele retornar a atenção para ela.

— O bebê está chegando. - Ela se contorceu de dor após a fala, as contrações já haviam se iniciado.

Com muito custo dois guardas a carregaram para dentro do castelo, levando um Meistre junto a eles para o cômodo onde a Rainha havia parido os outros sete filhos, e agora uma oitava criança seria concebida ali, na mesma cama.
Não demorou para os gritos da mulher começarem a ecoar pelo castelo, deixando os convidados envergonhados pela situação, pois enquanto desfrutavam de boas comidas e bons vinhos, a Rainha sofria cumprindo o dever de produzir crianças para o Rei.

E foi assim, em uma terrível tempestade que deixou mais de vinte e cinco janelas do castelo quebradas, que Alysanne deu à luz uma menina miúda, porém saudável.
Maera Targaryen nasceu aos oito meses de gestação, e sua imagem frágil fez Alysanne decidir alimentá-la por conta própria ao invés de chamar uma ama de leite.
Por recomendação do Meistre ninguém além de Jaehaerys e ele mesmo viram o bebê por uma semana, mas, quando ele considerou seguro, ele permitiu a rainha apresentar Maera para os irmãos.
Ela estava no berço enrolada por panos nobres de cores rosadas, seus olhos violetas estavam abertos curiosamente e seus finos fios platinados caiam sobre sua testa de maneira delicada.

— Parece um sapo. - Baelon falou de maneira brincalhona e Alyssa rapidamente deu um tapa no ombro do irmão, o corrigindo do comentário maldoso. Comentário que fez Aemon dar uma pequena risada. Já Daella, sensível como sempre, chorou ao ver o neném.
— É tão fofa. - Ela falava entre as lágrimas.

O único que realmente não demonstrava nada, era Vaegon, mas, claro, isso já era esperado.
Porém, quando todos se aproximaram mais do berço, Maera sorriu apenas para um dos irmãos.
O sorriso genuíno da criança foi direcionado para Vaegon, que em troca apenas a olhou nos olhos com apatia.

— Espero que essa aí seja mais inteligente que Daella. Ao menos ela fez o favor de nascer no dia do meu nome, agora os banquetes serão para ela.- Essas foram as únicas palavras que saíram da boca do platinado, logo após ele dava as costas para os irmãos e saía do cômodo.
O garoto não sabia o que estava sentindo... Mas, algo dentro de si pareceu saber que a partir daquele dia, sua vida nunca mais seria a mesma.

No ano 74 d.c Maera tentou falar a primeira palavra, e o que saiu de seus lábios foi algo como "Vae" e isso pegou Alysanne completamente desprevenida.

— Eu lhe amamento, lhe dou atenção e não receberei um "mamãe"? Repita: Mamãe. - A Rainha balançava a criança levemente, tentando ensina-lá.
— Vaegon. - Dessa vez a pequena princesa disse de maneira clara e isso arrancou uma risada sincera da mãe.
— Querida, ele nem sequer lembra da sua existência. - Ela falou em um tom brincalhão e beijou a testa da filha.

Depois desse dia, Vaegon nunca mais teve paz.
Agora o príncipe tinha uma miniatura valiriana que corria atrás dele dia e noite falando repetidas vezes seu nome. "Vaegon, Vaegon, Vaegon." Nem mesmo ele aguentava mais ouvir o próprio nome.
Alyssa e Daella tentaram muitas vezes brincar com a irmã, mas, ela realmente parecia mais interessada em assistir o irmão ler.

Já era o ano 78 d.c, Maera tinha cinco anos e era uma criança completamente encantadora e de uma inteligência inquestionável. A pequena já sabia ler a maioria das palavras e suas frases saiam completas e audíveis de seus lábios.
"Parece a miniatura de uma Lady." As criadas sempre comentavam isso umas com as outras enquanto observavam Maera conversar com outras pessoas, era impressionante.
Os irmãos da garota brincavam que após o nascimento dela Jaehaerys e Alysanne esqueceram completamente deles, mas, que era algo compreensível, afinal a criança era "doce demais".

Porém nem tudo ia bem entre a família real. Vaegon já tinha quinze anos e ainda não havia demonstrado nenhum interesse por garotas, por dragões ou pelo reino, e isso esgotava a paciência de Jaehaerys conforme os dias se passavam.

— Precisamos enviá-lo para Cidadela. - O Rei falava de maneira firme na mesa do Pequeno Conselho. — Já ficou claro que ele não tem intenção alguma em se casar ou em domar um dragão, ele será mais útil para o reino se for um Meistre.

Todos ficaram em silêncio, nenhum deles era ousado o suficiente para protestar, a não ser, a Rainha.

— Eu não concordo com isso. - A voz dela saiu de maneira firme. — Desde o nascimento Maera demonstra interesse pelo irmão, deveríamos deixá-los próximos, ver o que acontece. Talvez ela consiga fazer ele se interessar mais pela vida. Ele é nosso filho, Jaehaerys, não podemos descarta-lo como se ele fosse um empecilho. - Nas últimas palavras as emoções da Rainha vieram a tona, pois sua voz falhou. Alysanne detestava a ideia de mandar um filho para longe pelo simples motivo dele não demonstrar interesses políticos.
— Vaegon não suporta a presença de Maera. - O rei rapidamente adicionou, mas, no fundo, ele sabia que talvez a esposa pudesse estar correta. — Certo. Deixarei Vaegon em observação por mais alguns anos.

E com isso, a reunião do Pequeno Conselho havia chegado ao fim.

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