Agora eu sei.

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Após o ocorrido os guardas removiam o corpo de Nymeria da sala e os criados limpavam o sangue. Edric Stark foi enviado para um cômodo isolado e seria devidamente tratado até o efeito do feitiço desaparecer.

Vaegon caminhava até Balerion e se agarrava com uma fúria inconfundível nas cordas e rédeas que rodeavam o pescoço monstruoso do dragão. O vôo era mais curto do que o de costume, e durante todo o trajeto Balerion rugia, demonstrando como sentia toda a raiva e frustração de seu domador.
Ao pousar em Pedra Do Dragão o homem ignorava a reverência dos guardas e caminhava de maneira furiosa até onde a irmã estava.
Saera estava sentada de maneira desajeitada no Trono de Pedra enquanto mastigava de maneira preguiçosa algumas uvas que lhe eram servidas na boca por uma criada que estava praticamente nua.

— Visitas, finalmente! - Ela exclamava com alegria enquanto gentilmente afastava a mão da criada que lhe servia. Saera não tinha muito tempo para reagir; Vaegon praticamente voava para cima das duas com a fúria de mil dragões. Ele empurrava a outra mulher no chão e desferia um tapa com toda a força que tinha dentro de si no rosto da irmã. A platinada sentia o amargor ferroso invadir seu paladar de maneira imediata, e ao cuspir, o líquido saía vermelho. Os guardas apenas observaram a cena em silêncio, pois ali, Vaegon era a maior autoridade, afinal, era o herdeiro.
— Você sabia que nossa mãe quase morreu durante sua brincadeira por poder? Talvez você saiba, você quem planejou. - O Targaryen começava a esbravejar enquanto observava o corpo da irmã ainda desorientado pelo tapa forte. — Achou que viveria aqui para sempre sob a custas de nossos luxos? Pagando suas comidas, suas putas, seu vinho! - Vaegon respirava fundo agarrando-a pelos cabelos para então começar a puxa-lá para fora da sala.
— Pare! Está me machucando! Eu não fiz nada, você está ficando louco! - Ela suplicava.
— Você vai para casa e vai pagar pelo que fez. - Ele a respondia com frieza. Certamente os criados teriam fofoca para falarem por semanas após presenciarem tal fato.

O herdeiro arrastava a irmã até Balerion e o terror em seus olhos ficava rapidamente visível.
— Vaegon, céus, pare! Não! Não vou subir nisso! - A jovem mulher berrava enquanto o dragão a encarava com os olhos semicerrados. Balerion sentia o cheiro do sangue do dragão, mas, não sentia o dragão nela.
— Você não tem poder de escolha Saera. - Vaegon falava enquanto a agarrava com um braço e utilizava o outro para montar a besta. Por mais que a jovem se esperneasse e berrasse, a força do rapaz era mil vezes maior.
— PENSEI QUE VOCÊ MORRERIA TAMBÉM! EU LHE ODEIO! FOI SORTE VOCÊ TER SOBREVIVIDO! - A platinada gritava enquanto o dragão subia aos céus para voar novamente até King's Landing.

O vôo da volta era mais demorado e mais torturante do que o da ida, pois agora ele tinha que suportar a garota berrando e o encharcando de lágrimas falsas.
Quando finalmente pousaram na capital o herdeiro a arrastava pelos cabelos até a Sala do Trono, a jogando nos pés da escadaria que levava até o trono forjado por milhares de espadas. A platinada se ajoelhava de maneira imediata juntando ambas as mãos em um sinal de misericórdia de desistência.
Saera levantava o rosto pronta para olhar nos olhos do pai, mas, tudo que via era o olhar vazio de Maera sobre si. A futura Rainha Consorte estava sentada no trono trajando uma armadura, e sua expressão apesar de solene, esbanjava melancolia.
Alguns momentos antes de Vaegon chegar, Jaehaerys havia dito a filha que: "Precisamos aprender que até mesmo as menores escolhas que tomamos, podem nos gerar grandes consequências."
O Rei queria deixar entendido que Maera precisava lidar com isso sozinha e precisava também decretar a sentença de Saera Targaryen.

— Creio que já saiba o teor da conversa. - A princesa disse observando a marca perfeita dos dedos de Vaegon no rosto da irmã.
— Onde está meu pai? - Saera falava entre os choramingos.
— Jaehaerys prometeu a si mesmo que você havia morrido quando partiu para Lys. A Saera que ele considerava como filha já está morta há alguns anos. E eu? Eu lamentei junto a ele e a Alysanne sua morte. Almejando profundamente seu retorno. Nossa mãe lhe escrevia quase que diariamente e conforme os meses se passavam e as respostas não chegavam, ela por fim aceitava a rejeição. Você se matou em vida, minha irmã. - O tom de Maera era calmo, porém, mantinha o fundo de rigidez e desgosto.
— Vocês fizeram isso comigo! Vocês me negligenciaram, todos vocês! Olha o que fizeram com Daella, Alyssa, Viserra! - Saera gritava em resposta.
— Tire estes nomes de sua boca! - A mão da princesa se chocava com força contra o apoio do trono, fazendo um barulho metalizado ecoar pelo cômodo enquanto respirava fundo e tentava segurar as lágrimas para si mesma. — Você está sendo exilada de maneira permanente. Pelo poder que me foi oferecido pelo Rei, estou retirando o nome Targaryen de seu nome de maneira igualmente permanente.

Neste momento Saera respirava fundo em alívio e se levantava devagar do chão enquanto limpava as lágrimas com as mangas do vestido que usava.
"Céus, sairei disso ilesa novamente." Ela pensava consigo mesma.

— E por não lhe considerar uma Targaryen, por não lhe considerar família e por não lhe reconhecer como irmã; eu, Maera Targaryen lhe sentencio a morte por decapitação. - A garota terminava a sentença enquanto fazia questão de olhar Saera nos olhos para observar sua reação; que era como o esperado. A platinada gritava alto em descrença e neste momento o mundo de Maera pareceu girar e ficar em câmera lenta.

Enquanto Maera descia os degraus do trono um por um, Saera era fortemente segurada de joelhos por Vaegon. Os gritos de desespero e horror da garota preenchiam a sala e constrastavam de maneira poética com a falta de expressão e emoção do herdeiro que a segurava tentando conter seus esperneios e tentativas de soltura.
A princesa lentamente removia a espada Irmã Sombria da bainha e ao finalmente atingir o solo, ela erguia a espada o mais alto que seus braços lhe permitiam.

— "Não existe guerra mais odiosa para os Deuses do que a guerra entre parentes." - Maera recitava baixinho um trecho da Estrela de Sete Pontas e finalmente abaixava os braços com um impulso poderoso, fazendo a cabeça de Saera se desprender de maneira imediata do corpo.

E então, o mundo voltava a velocidade normal para Maera. Ela se ajoelhava no chão frente ao corpo enquanto o observava com um sentimento de justiça, mas, de saudades.
Neste momento ela finalmente se permitia chorar.
Vaegon soltava o corpo sem vida da irmã e se deslizava até Maera, recolhendo a princesa nos braços em um forte abraço.

— Não deixaremos ninguém nos enganar de novo. Eu prometo. - O homem disse enquanto beijava o topo da cabeça da esposa de maneira afetuosa.

Daquele em dia a diante tudo que Maera conhecia era o ódio.
Os criados foram os que mais sentiram a mudança, pois, Maera sequer nunca havia alterado o tom de voz para eles até então.
O amargor havia consumido completamente a alma da princesa, assim como havia consumido a sanidade também.

Jaehaerys e Alysanne entraram em um acordo ao mandarem Maera e Vaegon novamente para Pedra do Dragão até o fim da gravidez, para que talvez eles pudessem sentir um pouco de paz.
Alguns meses se passaram e a jovem entrava em trabalho de parto na hora do lobo.
Coincidência ou não, o parto ocorria no exato momento em que o Exército Velaryon invadia Casterly Rock e o Exército Baratheon invadia Vilavelha.
Os Arryn's estavam em Pedra do Dragão, cuidando da segurança da princesa enquanto ela gritava e xingasse quem tivesse ouvidos para ouvir.

— Porra! Desencosta! Saí de perto de mim! - Maera empurrava uma de suas damas de companhia enquanto choramingava pela dor das contrações. O parto já estava durando cerca de cinco horas. Ela vestia uma camisola que anteriormente era branca, mas, agora estava amarelada e alaranjada pelas manchas de sangue. Seria um parto complicado e isso era certo.
Do lado de fora do castelo o dragão Canibal rugia de maneira estridente e ensurdecedora, tomando completamente a dor de Maera para si mesmo.

O Sangue Do Meu SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora