Gurunga 4 de 14

3 0 0
                                        


Matinho, Mercado Municipal, 09:33 AM

— Bom dia Ivan, vai subí pra Gapórã que hora? — Perguntou Zé Buchada? — Sentando-se ao lado de Ivan na escadaria do mercado —

— Lá pras 2 hora da tard. — Respondeu Ivan —

Zé Buchada levantou-se lentamente, como se aquilo fosse um grande esforço para ele, embora não fosse um homem tão velho.

— Tá certo, eu vou dar um chego na casa de minha irmã Maria, quando for na base de 01:30 eu vô esperá ônd seu carro fica. — Disse Zé Buchada —

— Tá cert, Zé. — Disse Ivan —

Antes mesmo de Zé Buchada ir embora, Zépedin surgiu em meio aos transeuntes. Ivan já sabia o que ele queria e tratou de avisar prontamente.

— Hoje num tem capa de fumo não, passou uma muié aqui e comprô tud! — Avisou Ivan —

Zépedin não mostrou desapontamento em seu semblante, pelo contrário, sorriu olhando para os degraus da escadaria.

— Não tem pobrema não, eu vô catá essas do chão. — Disse Zépedin agachando-se para recolher os fragmentos de casca de fumo que estavam nos degraus da escadaria —

Após alguns minutos Zépedin conseguiu juntar cascas suficientes para fazer um cigarro grosso, ele pediu um isqueiro emprestado a Ivan e acendeu seu cigarro enrolado com folha de caderno. Apesar de às vezes se irritar com as constantes amolações de Zépedin, Ivan também sentia pena dele, afinal, o homem não passava de um pobre coitado com limitações intelectuais. Zépedin saiu sem se despedir de Ivan e caminhou em meio às barracas. Algumas pessoas passaram no ponto de venda de Ivan, para apenas prepararem um cigarro, mas não compraram nada, isso era uma cortesia oferecida por Ivan e por outros vendedores de fumo de corda, as pessoas podiam preparar um cigarro gratuitamente. O horário do almoço chegou e como sempre o sogro de Ivan, Cassiano, chegou para ficar no lugar de Ivan para que este pudesse ir almoçar. As pessoas não gostavam muito de comprar fumo quando Cassiano estava vendendo, pois ele era um homem rígido na maioria das coisas da vida, ao usar uma régua de madeira para medir um pedaço de fumo de 1 real, Cassiano cortava exatamente na medida da régua, enquanto Ivan era mais generoso e cortava com uma pequena sobra. Cassiano ficava de olho nas pessoas que faziam um cigarro de agrado, se elas quisessem fazer mais de um, Cassiano não permitia, ele também ficava atento às pessoas que diziam que queriam experimentar o fumo para saber se o mesmo era realmente bom para só depois comprar.

— Ô moço, já tem 4 fêra, que ocê vem aqui ixprumentá fumo e não compra nada, ocê tá achân que aqui tem argum besta? Ocê tá morrêm de sabê que esses fumo é os mêrm da semana passada e da retrasada! — Disse Cassiano irritada com a malandragem do rapaz —

— Mais... é que Ivan dêxa eu ixprumentá... e... — Tentou se explicar o rapaz —

— Ivan é Ivan e eu sô eu! Eu sei o que ocê tá querên, ocê que é ficá fumân cigarro de graça direto! —

O rapaz sem ter como argumentar e constrangido por outras pessoas terem ouvido a bronca dada por Cassiano, foi embora.

Mais tarde Ivan retornou e assumiu novamente seu posto, o tempo passou e Ivan efetuou mais algumas vendas. Quando faltavam 20 minutos para as 02:00 da tarde, Ivan arrumou suas coisas em dois sacos de Nylon rumou até onde seu carro estava estacionado, sob uma árvore ao lado da Igreja Católica, ainda antes de chegar ao veículo, Ivan avistou Zé Buchada deixado no chão ao lado do carro.

"É por iss que êl tem o apilid de Zé Deitad desde nôv."

Gurunga 6Onde histórias criam vida. Descubra agora