Gurunga 6

Gurunga 8 de 14

Bairro São Sebastião, Beija Flor, 14:31 PM

Vandin estava há uns 10 minutos empinando e dando rabeadas (derrapadas) com a bicicleta BMX de um garoto tímido chamado Gustavo. Gustavo sabia que Vandin iria esculhambar com sua bicicleta quando ele disse "Dêxa eu dá uma voltinha!", mas Gustavo sabia que se não atendesse ao pedido de Vandin... coisas ruins poderiam acontecer naquela mesma hora ou depois, então emprestou sua BMX para que Vandin pudesse dar "uma voltinha".

"Disgrama! Desse jeito ele vai empenar as rodas da minha bicicleta."

Pensou Gustavo.

Depois de um tempo Vandin se cansou de bagunçar com a bicicleta de Gustavo e a devolveu, Gustavo montou na magrela e se mandou dali. Estava chegando a hora da merenda do PET (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), O PET funcionava num grande galpão localizado num terreno de dois hectares que servia como uma espécie de divisa entre a parte baixa e a parte alta do bairro. Este terreno era uma propriedade particular, aparentemente o dono era alguém rico que vivia em Caetité, no lugar haviam várias construções inacabadas e outras em ruinas, o galpão onde hoje funciona o PET era uma das poucas construções que estava em bom estado, mas precisou de alguns pequenos reparos e uma higienização pesada (foi necessário o uso de um caminhão pipa) para remover toda a imundície acumulada no interior do recinto, pois é sabido que um local abandonado perto de uma povoação sempre será usado como banheiro.

Vandin chegou à porta frontal do galpão e aguardou, não demorou muito para que parte da garotada começasse a sair para consumir a merenda ao ar livre, algumas pessoas sentavam-se na calcada outras encostavam-se na parede. A merenda era sopa de mandioca com carne de sol, Vandin se aproximou de um garoto chamado Murilo e disse para ele pegar um prato para ele.

— Tá bom... dêxa eu terminar de cumê o meu, que eu pego um pra você... é porque a merendêra não dêxa nóis pegá dois de uma veiz. — Explicou o menino com medo —

Vandin sabia que o moleque estava falando a verdade, então ele esperou, mas manteve seu olhar ameaçador em Murilo o tempo todo. Após terminar sua refeição, Murilo entrou e depois retornou trazendo um prato de sopa para Vandin, Vandin recebeu o prato e começou a comer imediatamente, Murilo aproveitou para entrar rapidamente, pois temia que Vandin lhe pedisse para pegar outro prato (o que não seria permitido, pois cada pessoa só podia repetir uma vez). O temor de Murilo se provou real, pois assim que terminou de comer, Vandin procurou Murilo para exigir outro prato, mas não viu mais o pivete. Vandin deu uma olhada nas pessoas que ainda estavam do lado de fora, mas não viu ninguém que ele pudesse intimidar para pegar mais um prato de sopa para ele, Vandin era cruel, mas também era covarde, ele só se aproveitava das pessoas mais vulneráveis. Não tendo mais esperanças de conseguir comida, Vandin deixou o prato com a colher na calçada e foi embora.