Viaporã, Vila Fagundes, 10:05 AM
Ivan estava na casa de sua mãe, a velha estava desenganada pelos médicos, Ivan, o único filho e as filhas já sabiam que a mãe tinha pouco tempo de vida. A idosa estava deitada em sua cama, usando frauda geriátrica, e sendo alimentada como um bebê. Ao chegar ao quarto Ivan pediu a benção a mãe, a mulher não tinha forças para erguer a mão e apertar a mão do filho, então Ivan tomou a mão da mãe e a abarcou com a sua própria, a anciã murmurou um "Deus te abençoe" quase inaudível. A casa onde a mãe de Ivan vivia não era um lugar muito agradável de permanecer por muito tempo, principalmente para quem não estava acostumado com aquele ambiente, as irmãs que ainda moravam com a mãe não eram muito adeptas a uma boa higienização da moradia. Além da falta de higiene, a falta de organização e o excesso de animais de estimação (10 gatos e uma cadela) deixavam o local com o cheiro desagradável, para complementar esse cenário insalubre, ainda havia Ednalva, a segunda irmã mais velha de Ivan, uma mulher que passava a maior parte do tempo chorando miséria (reclamando da vida).
— Eu já evô, ocês me avisa se psisá de alguma coisa. — Disse Ivan se despedindo —
Ednalva disse que estava cedo (clássica frase usada para demonstrar educação quando uma visita anuncia que vai embora, mas que na maioria das vezes não passa de uma cortesia desprovida de sinceridade). Ivan disse que precisava encher uns isqueiros (o que não era uma desculpa, Ivan realmente precisava encher isqueiros para levar para a feira de Matinho no sábado, os isqueiros vazios eram perfurados no fundo e enchidos com gás de cozinha com aparato especialmente projetado para isso, após enchido, o furo era tapado usando um espinho de Mandacaru, a parte que sobrava do espinho era cortada bem rente ao fundo do isqueiro).
De volta a sua casa, Ivan se pôs a trabalhar para encher os isqueiros, para isso, ele colocava um botijão de gás (GLP) sobre uma cadeira, o botijão ficava com a parte superior para baixo, numa inclinação de aproximadamente 40 graus, um registo caseiro com uma agulha na ponta ficava conectado ao botijão, Ivan enviava agulha no buraco feito no fundo do inquero e depois girava o registro para liberar o gás, quando o isqueiro estava totalmente cheio, Ivan fechava o registro rapidamente e também tapava o buraco no fundo do isqueiro o polegar direito, depois fechava o buraco com o espinho de mandacaru, neste processo um pouco de gás era desperdiçado, mas no fim das contas, todo aquele processo ainda era lucrativo.
— Opa! Cadê fumo bom e fórt? — Perguntou uma voz masculina —
Era comum os clientes chamarem na porta e perguntarem por Ivan, então a esposa de Ivan dizia para o/a cliente ir até os fundos onde Ivan normalmente ficava trabalhando, se Ivan não estivesse em casa no momento, então Olivia atendia o/a cliente, às vezes quando nem Ivan e nem Olivia estavam em casa, era Leonardo quem fazia o atendimento.
— Opa... eu tem um fumo fórt aqui. — Disse Ivan levando-se do piso —
O cliente era Chico de Tião Preto, um homem pardo na casa dos 55 anos. Ivan foi com o cliente para dentro do pequeno depósito onde o fumo era armazenado, Chico segurou a corda de fumo sugerida por Ivan e a cheirou.
— Corta 4 pedaço de 2 reais dêss aqui. — Disse Chico após sentir o aroma do fumo —
— Tá certo. — Disse Ivan —
Ivan cortou os 4 pedaços de fumo como instruído pelo cliente e os embalou em pedaços de papel (normalmente folhas de caderno, revistas ou jornais), depois Ivan pôs tudo numa pequena sacola plástica e a entregou ao cliente, o homem pagou pelo fumo, se despediu e seguiu seu rumo.

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Gurunga 6
General FictionAcesse esse link para consultar o dicionário da Gurunga https://rangeloblivion.blogspot.com/2020/06/dicioario-da-gurunga.html Baseado em eventos reais NOTA DO AUTOR Este é o sexto livro da série Histórias da Gurunga. Nos livros anteriores os "causos...