Gurunga 12 de 14

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Vira Mundo, Zona Rural de Matinho, 08:47, PM

Simão e Pilongo estavam encima de um umbuzeiro nas terras que pertenciam à família de Pilongo.

— Eu vô achá o rei do inbuzêro! — Disse Milson se referindo a maior fruta da árvore —

— Vumbóra vê quem acha primêro!? — Propôs Pilongo —

— Vumbora! — Disse Milson —

O chamado umbu "rei" era simplesmente o maior umbu do umbuzeiro, mas a realidade era que não havia como ter certeza que o umbu muito grande que fosse encontrado era realmente o maior de todos, pois aquela fruta poderia ser a segunda maior ou a terceira e etc... as maiores já poderiam ter caído e apodrecido ou simplesmente já terem sido comidas por aves. Reza a lenda que cada umbuzeiro só produzia um único umbu rei. Depois de vasculhar todas as galhas que suportavam seus pesos, os meninos se cansaram de procurar pelo umbu rei e se contentaram em comer os normais.

Como já estava chegando ao fim da tarde, era hora de dar água ao gado e prender os animais no curral, Pilongo Chamou Milson para ajudá-lo com essa tarefa. Na propriedade de Maria Curadeira não havia um mecanismo sofisticado como o feito por Cassiano onde Jardel e Leonardo havia dado de beber ao gado da família. No caso das terras de Maria Curadeira, a água tinha que ser retirada de um poço (chamado de cisterna naquela região) cuja água era um tanto quanto salobra. Pilongo retirou as tábuas que cobriam a boca do poço e as jogou para o lado, depois pegou um balde de 12 litros que já estava com uma corda amarrada na alça de metal, a outra ponta da corda passava pela roldana, a corda era muito longa, justamente para não correr o risco de escapar das mãos de quem estivesse puxando e cair dentro do poço, então sobrava bastante corda. Pingongo deixou o balde descer rapidamente até ele bater na superfície da água fazendo um som que ecoou por todo o interior do poço, então ele balançou a corda para fazer o balde virar e encher-se com água, depois começou a puxar. Puxar o balde cheio d'água era a tarefa mais dura, pois o poço era profundo e a pessoa não podia deixar o balde balançar demais, senão a água seria derramada e o balde também podia bater nas paredes do poço. Cada vez que Pilongo trazia um balde cheio à superfície, este era derramado em outro balde que era levado por Milson e despejado na cocheira (bebedouro feito de alvenaria e concreto para animais), depois do décimo balde ter sido puxado, Pilongo e Milson trocaram de funções para que Pilongo não machucasse muito as mãos na corda. Depois de uns quarenta minutos a cocheira estava cheia, então Pilongo abriu o colchete que dava acesso à cocheira e com a ajuda de Milson tocou (conduziu) o gado para o local para que os animais pudessem matar sua sede. Após todo o pequeno rebanho ter bebido, este fora conduzido ao curral onde passariam a noite, os bezerros e bezerras foram apartados/apartadas (separados/separadas) de suas mães.

O sol já estava se escondendo atrás dos morros quando Milson pediu a benção a Maria Curadeira e se despediu de Pilongo. Mais tarde, Pilongo já estava de banho tomado e deitado no sofá olhando para as telhas.

— O que foi meu fi? Tá pensân na vida? — Perguntou Maria em tom divertido—

— Eu tava alembrân daquela história da Mãe do Mato. — Respondeu Pilongo —

— Eu sei qualé essa. — Comentou a idosa —

Maria ascendeu duas velhas lamparinas a óleo na sala onde estavam, uma para iluminar o ambiente e a outra para caso alguém precisasse iluminar o caminho para ir a algum lugar. Depois do jantar, neto e avó retornaram para a sala, Maria chamou a atenção do neto por ele ter deitado após jantar, então Pilongo se sentou por alguns minutos e depois deitou novamente.

— Ocê qué que eu li conto mais uma história de antigamente? — Perguntou a avó —

— Pód contá, vó. — Disse Pilongo falando quase sem pensar —

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