Sobre Não Pertencer A Lugar Nenhum

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Fazer as malas. Desfazer as malas.
Fazer, desfazer, refazer.
Viajo por cidades, mas não fico.
Escolho novos destinos, mas regresso sempre à casa de partida.
Conheço pessoas que me desconhecem semanas depois.
Decoro o rosto de quem esquece o meu.
Guardo palavras e gestos e anseio que também o façam.
Sou eu quem vai, mas também sou eu quem sai.
Eu iniciei a conversa, mas remeti-me ao silêncio.
Fui a primeira a sorrir, mas a única a chorar.
Porque há sempre quem cubra a falta que eu faço (ou não).
Há sempre alguém depois de mim, não importa onde.
Há sempre quem me apague da memória de quem ficou na minha para sempre.
Não importa quantas vezes regresse, nunca ninguém se lembra da última vez.
Eu lembro-me de todas as últimas vezes.
Sentiram a minha falta quando lá estava, mas fui entregue ao esquecimento quando parti.
É na estrada onde eu recordo todos os lugares a que eu julguei pertencer e errei.
Nunca houve lugar para mim, nunca pertenci a lugar nenhum.
Viajo e fujo.
Alterno entre pessoas e lugares, mas nunca estou onde quero estar.
Estou sempre bem onde não estou.
Afinal nunca aprendi a lidar com a distância e a deixar para trás o que quer que fosse - percebi com o tempo que com o coração repleto de vazios provocados por tudo o que ficou pelo caminho, é impossível pertencer seja onde for.

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