Ainda Me Lembro De Ti

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Ainda me lembro de ti:

Do teu corpo de mármore:
Firme, esculpido e belo.
Que me ofuscou de dia,
Que me amparou à noite.

O teu corpo quente:
Que me aquece e me queima;
Que foi sol e foi fogo.
Procuro-o ainda, nas manhãs geladas.
O teu corpo frio:
Que me arrefece e me arrepia;
Que foi chuva e foi gelo.
Anseio por ele, nas noites febris.

Dos teus olhos:
Dessas tuas constelações sempre acesas.

Dos teus lábios:
Como mel, doces e irresistíveis.

Das tuas mãos:
Que com a subtileza do vento, sinto ainda soprar pela minha cintura.

Dos teus cabelos:
Cujas ondas estão gravadas ainda na minha pele.

Da tua pele:
Que é memória do toque, um véu de lembranças do mar de sensações onde nos afogámos.

Do teu coração:
Claro como a lua.
Turvo como o fumo.
Que queria o teu coração comigo?
Esse teu coração gentil e cobarde.
Esse teu coração que não soube dizer adeus.
Enganando-me com consentimento,
Ofuscando-me com verdades cruas.
Que quis ele de mim?
Partilhar a confusão que nele habita?

És uma mistura de artes confusas:
Um poema escrito em enigmas,
Uma pintura abstrata,
Uma canção por decifrar.

Apenas te consegui ver depois de te ler,
De te observar,
De te ouvir.
Só ao sentir-te, te pude descobrir.
E já era tarde.

Porque descobriste-me antes de eu o fazer:
Viste-me,
Leste-me,
Ouviste-me,
Tocaste-me
E beijaste-me.

E então partiste,
Restando-me apenas a lembrança:
Não te quero lembrar,
Mas não te posso esquecer.

Há dias em que não consigo ver-te nitidamente,
Noutros, sinto-te como se estivesses à minha frente.
E não sei o que dói mais:
Lembrar-te ou
Não conseguir lembrar-te.
Não querer esquecer-te
E não poder evitá-lo.







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