Fazer as malas. Desfazer as malas.
Fazer, desfazer, refazer.
Viajo por cidades, mas não fico.
E em cada novo destino, vejo vislumbres da casa de partida.
As pessoas que conheço, afinal lembram-se do meu nome.
Conhecem o meu rosto, recordam o som da minha voz e as minhas palavras,
Tal como eu consigo ver ainda os seus olhos, passados meses.
Guardámos segredos e promessas, que em tempos eu julguei esquecidas.
Não foi preciso implorar, fizemo-lo todos porque queríamos.
Sou eu quem vai, mas também eu quem sai.
Relembro ainda os pôres-do-sol, sal no corpo, areia nos cabelos,
Quando o sol nos queimava e a água nos lavava por dentro.
Eu posso ter partido, mas nunca deixei os lugares onde estive:
Enquanto for lembrada, estou onde sempre quis estar.
Não iniciei a conversa, mas por vezes diz muito mais do que as palavras, o silêncio:
Quando não há tradução possível, quando a saudade é inevitável...!
Trocam-se palavras por um silêncio que diz tudo sem dizer nada.
E ao ver cada sorriso, que no meu peito repousa para a eternidade,
Percebo que todas as lágrimas valem a pena,
Por tudo o que foi vivido em cada cidade.
Talvez haja sim, quem cubra a minha falta, mas acaba por ser irrelevante.
Fui eu que fui beijada, foi o meu nome que foi mal pronunciado e sei que eu fui a escolhida, durante o tempo que nos foi reservado.
Acredito que ficarei na memória
De cada um que conheci.
Talvez se lembrem em mim nas tardes quentes de verão,
Ou nas brisas das noites de setembro.
Em algum momento, cruzarei a sua mente,
Tal como todos cruzarão a minha para sempre.
Vejo-os nas contelações, nas ondas, no sol.
Talvez não possa regressar a todos os lugares:
A minha única casa é a de partida,
Mas recordarei sempre cada jogo e cada volta no carrossel da vida.
Então não! Nunca nunca fui esquecida.
Lembram-se efetivamente de quem eu sou,
Sentem a minha falta tal como eu sempre senti.
E na estrada regressa a saudade que nunca deixei ir.
É na estrada que percebo tudo:
Todos os lugares a que julguei NÃO pertencer e errei.
Houve sempre um lugar para mim, pertenci sempre a mais que algum lugar.
Viajo e fujo.
Ainda alterno entre pessoas e lugares, estando sempre onde devo estar...
É bom estar bem onde não estou,
Caso pense que é impossível algum dia escolher ficar.
É difícil lidar com a distância e com a saudade
E, certamente, impossível deixar para trás o que quer que seja.
Mas a verdade é que, vazio e completo vive ainda o meu coração na estrada,
Mas sabendo agora que, se quiser, tem muitas casas.
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Vida Em Versos
Poetry"Poesia é quando as emoções encontram o pensamento e quando o pensamento encontra as palavras." *Coletânea que inclui TODOS os poemas que escrevi. Estes aparecerão, no entanto, em outros livros, separadamente, divididos por categorias.