Visita

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Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.

Apocalipse 3.11



      O vento sobrava forte e a neve congelante envolvia meu corpo. Eu estava deitado sobre ela, afundando, mas não submerso. Esperei mais um pouco até ter certeza do que sentia; o gelo em seus pequenos flocos finalmente pareciam reais.

    — Era isso que senti da outra vez — disse a mim mesmo, sozinho.

    O frio penetrava minha pele exposta, não vestia nada além do calção frouxo, mas minhas orelhas estavam estranhamente aquecidas. Arrepios percorriam o corpo, então decidi me levantar. Os pés descalços afundaram na neve, agora mais firme. Peguei o caderno e a caneta deixados abaixo da fina camada branca que se formava rapidamente. Sobrei o ar e me diverti com a fumaça branca que se erguia, criando pequenas nuvens de vapor no ar gelado.

    Era Noite, sem estrelas no céu, o vento impetuoso rugia aos quatro lados com violência, arrastando a neve consigo. Elas não gostavam de ter presença ali. O vento, furioso e descontrolado, dava vida a uma paisagem inóspita, onde a neve se via forçada a se mover em resposta à sua força avassaladora.

    O ar rasgou minha garganta, fazendo-me tossir. A cada passo, sentia a neve cobrir metade da canela. Em pouco tempo, a neve já queimava como o fogo e, entre a ardência e a dormência do frio, fiquei diante de uma cabana de luz calorosa e acolhedora, e uma floresta de árvores altas e densa, mais escura que a própria noite de céu vazio.

     — Sei bem o que procuro — Dei passos a floresta congelada. Não demorou um único segundo para me sentir perdido entre as altas copas das árvores e o solo nevado. A confiança inicial se dissolvia rapidamente na fria e silenciosa floresta, onde cada árvore parecia se mesclar à seguinte, criando um labirinto branco.

    — Quem está ai? — perguntei ao ouvir os passos frenéticos, sons de patas. O som ecoava na floresta congelada.

    Perguntava-me que tipo de monstro espreitava no escuro, pronto para se deleitar. A criatura surgiu, dentes à mostra, entre as sombras, a neve e as árvores. Avançou lentamente até ser possível vê-la na pouca iluminação. O animal rosnava com sua expressão estarrecedora — um lobo solitário.

   — Não tem medo? — perguntou o Desconhecido.

   — Não — respondi. — dizem que esse animal é um guia em sonhos.

   — Não seria a coruja em seu peito? — questionou ainda sem se mostrar.

   Eu não havia notado a pena no colar que envolvia meu pescoço.

    — Os dois guiam. — Toquei o outro pingente com a metade do rosto de um lobo. — dois espíritos, dois mundos, dois guias.

    — Então se aventura no masculino e no feminino? — Aproximou-se. Era impossível discerni-lo da floresta e do vento, contudo, enxergava seus contornos na penumbra.

    — Em carne e espírito — respondi.

    O ser caminhava tão sutil quanto o lobo. Tinha a aparência agênera, possuía estatura humana, mas estava coberta de tecidos de pele de animal que o deixavam maior. Sua pele pálida estremecia qualquer um e o vazio tomava o lugar dos olhos, deixando a escuridão transparecer o terror.

    — Então come todos os frutos?

    — Todos que me agradam. — Deixei o ar escapar pela boca, fazendo o vapor branco surgir e desaparecer.

    — Diga-me seu nome, forasteiro da outra terra — Tocou o lobo que se sentou a seu lado.

    — Diga-me o vosso primeiro.

    — Não sou nenhum demônio.

     — Então que mal teria em dizer? — O sarcasmo escapou.

     Riu em várias vozes, fazendo-me recuar dos dentes serradas, como de tubarão.

     — Chame-me de LýKos, este é o nome da loba que me acompanha. — Sentou na neve, o animal pouso a cabeça no seu colo, fazendo-lhe carinho.

     — Sempre com cautela independente do mundo. Meu nome é Vento para você. Para toda esta terra — levantei a voz e sentei onde estava, longe.

     — O frio não te incomoda? — Fez surgir uma fogueira que resistia aos ventos e a neve.

     — Sem bem onde estou, sei sobre o falso frio.

     Gargalhou mais uma vez, preferi desviar o olhar da imagem horripilante. LýKos estralou os dedos e o fogo se desfez de baixo para cima. Lentamente, a vista voltou a se acostumar com o escuro.

      — Então — Fez uma pausa proposital — Vento, o que te traz a meus domínios por vontade própria?

      — Sabe de muita coisa e continua a fazer perguntas...

       — Eu sou quem comanda a terra congelada, jovem tolo. Claro que sim, e farei ainda mais antes que te devorem.

       Não reparei nos olhos amarelos brilhantes que nos cercavam até os apontarem.

      — Sou tecelão. Teço histórias de terror — Ergui o caderno e retirei a caneta do bolso.

     — Um tecelão de pesadelos? Veio à minha terra para conhecê-los pessoalmente?

     — Exatamente — Provocava com um sorriso.

     — Não os teme?

     — Sabes que não — Abri o caderno. Folha limpa e caneta pronta.

     Pôs seu capuz de pele e se deixou transformar. Unhas longas e pontiagudas, sorriso largo até a garganta e o rosto projetado para frente, já as pernas se curvaram como patas traseiras de canídeos, um par de asas cresciam de seu pescoço e nuca e se espalhavam como uma capa benevolente. Um único chifre inclinado emergiu do olho direito, completando o visual. Era algo como uma santa profana, exatamente o que eu procurava.

     As outras criaturas a espreita se mostravam, deformadas e assustadoras, cada uma mais implacável que a anterior, enquanto isso, eu tentava rabiscar palavras, descrevê-las.

     — Peguem-no — Lançaram-se.

     O alarme tocou, trazendo-me de volta. Quase uma hora lá. Retirei os fones de ouvido, uma nova história.



Dingo bell para vocês, caro leitores! Queria fazer algo com uma vibe natalina, então trouxe monstros e neve, é mole? Enfim, espero que tenham gostado do conto, qualquer, repito, qualquer erro, pode e deve ser comentando, ficarei extremamente grato por cada pessoa que o corrigir, enfim. Aqui vai meu pix kkkk

Lazarofreitas1999(@)gmail.com 

(Esse tbm é meu e-mail para contato)

Feliz natal e próspero ano novo!

Feliz natal e próspero ano novo!

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