Capítulo 08

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—— Mostre os aposentos as visitas, por favor —— Eloísa seguiu caminho para a mansão enquanto André seguiu Filipe para o seu escritório.

—— Você faz ideia do quanto eu te procurei? Quanto sofri? Porque se escondeu de mim? —— Filipe perguntou assim que entraram porém o gordinho manteve o olhar tediado com a reação do loiro.

—— Eu vim cá para prestar as minhas condolências e ver o túmulo dela, senhor D'Ávila —— Disse surpreendendo Filipe. André tinha um olhar frio e cheio de desprezo que era quase palpável o seu ressentimento com o loiro.

—— Sei que fui tolo e te magoei mas não me trate assim, peço-te, André —— Filipe riu nervoso porém André manteve o queixo erguida mostrando a sua autoconfiança.

O gordinho analisou o loiro que claramente havia amadurecido com os anos. Filipe estava um pouco mais alto, podia notar através da camisa que ele tinha ganho um pouco de músculo, a barba amparada no queixo forte, as sobrancelhas grossas e o cabelo mais longo definitivamente o faziam parecer mais maduro.

—— Aquela criança é minha, não é? —— André balançou a cabeça com um olhar desaprovador, o que magoou profundamente Filipe.

—— O pai dele morreu apartir do momento que abandonou quando eu mais precisava então não, você não é o pai do meu filho —— Enfatizou a última parte e André sabia que as suas palavras poderiam ser cruéis mas não se importou, ele desejava causar a mesma dor que sofreu naquele dia.

—— Você mudou tanto —— Lamentou Filipe ao contemplar o resultado das suas ações naquele maldito dia, se ele não tivesse fugido, aquele André doce, amável e carinhosa ainda estaria ali.

—— As vezes é necessário! Podemos ir ao túmulo dela agora, por favor —— Disse se levantando. Filipe mesmo triste assentiu imitando André.

Encurralou o gordinho quando este fez menção de abrir a porta. Virou-se para encarar o mais alto.

O loiro passou a mão pelo queixo do André, este  podia sentir o calor da pele do filho do duque, o cheiro, tudo era como o seu corpo tivesse decorado o toque de Filipe.

Os olhos azuis perderam-se no olhos castanhos que desejou contemplar durante todos aqueles os anos.

André empurrou o loiro bruscamente ao perceber que iria cedendo aquele sentimento que vem guardando no peito mesmo tendo se passado cinco anos.


—— Seja a última vez que faz isso —— Ralhou abrindo a porta do escritório quase dando de cara com alguém que vinha em direção a Filipe.


—— André? —— O gordinho parou e sorriu alegre quando reconheceu o homem à sua frente.

—— Alejandro! —— Retrucou com um entusiasmo e deu um abraço no seu melhor amigo algo que magoou profundamente o loiro que observava a cena calado.

Alejandro era o responsável pelo estábulo e cuidava dos cavalos principalmente de Aquiles.

—— Por onde você andou? Nós te procuramos como loucos —— Disse envolvendo o mais baixo num abraço e beijou o rosto do gordinho.

—— Eu andei por aí aprendendo coisas novas e sou pai de um menino de quatro anos agora —— Contou para Alejandro. Filipe pigarreou despertando o mais velho da sua bolha, havia esquecido que o loiro estava ali e perdeu a compostura fria por um momento.

—— Preciso acompanhar o André até o túmulo da minha tia, mas depois eu te encontro no estábulo —— Alejandro ficou confuso ao notar o clima meio tenso entre Filipe e André mas preferiu não comentar.

Saíram da mansão e André foi sentindo um aperto no peito à medida que se aproximava do campo coberto pelas flores de várias cores e o loiro parou quando finalmente chegou ao local.

André sentiu lágrimas ardentes molhando o seu rosto quando se deparou com a lápide que carregava o nome do anjo que havia transformado radicalmente a sua vida. Ajoelhou-se com uma reverência pesada diante do túmulo, incapaz de articular palavras que pudessem expressar a imensidão da saudade pela baronesa Isabella.

—— Eu não sei como teria sobrevivido se não tivesse estendido a sua mão para nós —— Filipe percebia a dor palpável transmitida pelo gordinho enquanto as mãos dele acariciavam suavemente a lápide esculpida em mármore.

Isabella representava mais do que uma simples benfeitora era o anjo guardião em meio às tempestades que ele e sua mãe enfrentaram.

André, esperando um filho sem o laço do casamento, e Eloísa, com a saúde cada vez mais frágil, encontraram na baronesa um porto seguro em um oceano de adversidades.O céu, antes límpido, começou a se tingir com tons sombrios enquanto as nuvens carregadas anunciavam uma tempestade iminente. O ambiente refletia o turbilhão de emoções que envolvia aquele momento de despedida.

—— Vou sentir a sua falta todos os dias, mãe —— murmurou André, suas palavras ecoando sob o silêncio pesado que se instalou, como se o próprio céu prestasse homenagem ao luto que preenchia o coração do gordinho.

Filipe, observando a cena, sentiu um nó se formar em sua garganta, testemunhando a crueza da dor que transcende palavras.

O vento começou a sussurrar, como se carregasse consigo os lamentos do passado e as lágrimas derramadas naquela terra sagrada.

Com a chuva prestes a desabar, André permaneceu ali, preso entre o passado e o presente, enquanto Filipe sentia o peso da história compartilhada entre eles, uma narrativa complexa que nenhum deles imaginava que chegaria a esse ponto.

—— Vou ter tantas saudades tuas, mãe —— Filipe se martelou ao escutar as palavras. Os olhos do gordinho pareciam perdidos e a dor era nítida através das lágrimas que não pararam de cair e os soluços silenciosos.

Isabella mostrava tanto carinho por André que talvez ela visse o mais velho como o filho que nunca havia tido.

—— Precisamos voltar, vai chover —— O maior disse manso quando viu o céu escuro se preparando para derramar as suas lágrimas sob a terra.

Depois de voltar para a mansão, o gordinho quase revirou os olhos quando Filipe parou na frente da porta do seu quarto.

—— Eu sei que não queres falar sobre isso comigo mas me deixa conhecer o meu filho —— Suplicou para André.

—— Filipe… —— Massageou a têmpora implorando por paciência e não despejar tudo que estava sentindo em cima do loiro.

—— Você não tem outra pessoa para perturbar? Procura a sua esposa ou qualquer um mas me deixa em paz —— O gordinho disse irritado.

—— O que eu te fiz não tem perdão mas não envolve o nosso filho nisto e eu nem sou casado —— Retrucou perdendo a paciência.

—— Ele é MEU filho! Você perdeu esse direito quando me traiu, Filipe —— O seu lábio inferior tremendo. O filho do duque sentiu um aperto quando notou as lágrimas caindo do gordinho.

—— Estamos com a cabeça quente e acabaremos por dizer coisas que não queremos. Eu prometo não falar sobre isso até lermos o testamento da minha tia, mas precisamos resolver isso, André —— Completou deixando o gordinho sozinho no corredor.

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