Capítulo 02

360 47 1
                                    

—— O Valentim chega hoje a noite, o que farás em relação ao André? —— Questionou Isabella servindo o chá ao seu sobrinho Filipe.

—— A tia sabe que eu quero contar ao meu pai mas o André não quer por medo do que vai acontecer —— Respondeu sério. A baronesa com a sua postura erecta balançou levemente a cabeça com a declaração de Filipe.

—— Ele tem motivos para isso mas adiar isso só vai piorar as coisas. Eu tenho notícias de que o seu pai está trazendo uma noiva para ti —— Isabella notou o desconforto no rosto do seu sobrinho e ela queria ajudar mas precisava que os dois estivessem de acordo.

André aproximou-se dos dois com a cabeça abaixada, encarar alguém da nobreza era considerado algo extremamente rude e o gordinho aprendeu da pior maneira.

—— Já terminei os meus afazeres, posso ir visitar a minha mãe? —— Filipe não gostava quando o namorado pedia autorização para poder sair dos domínios da sua família.

—— Nem precisas pedir, André. Queres que te acompanhe? —— Isabella bateu o pé do sobrinho em baixo da mesa e as suas bochechas coradas mostravam um sorriso fraco, ela não iria mentir, adorava ver o sobrinho bobinho por André.


—— Não, senhor! Eu posso ir a pé —— Levantou-se e ergueu o rosto pelo queixo. André sentiu como se o seu coração fosse explodir de tão forte que estava batendo, Filipe tinha uma expressão séria no seu rosto porém os seus olhos não podiam esconder aquele brilho açúcarado de um homem apaixonado.

—— É muito longe para você ir a pé. Pegue o Aquiles, ele está no estábulo esperando por você —— Isabella fez um coração com as mãos deixando André envergonhado, às vezes ela não parecia alguém que seguia a etiqueta a risca.



—— E no seu estado não faz bem caminhar tanto, André —— Comentou deixando o gordinho nervoso e o loiro confuso.

—— Que estado? Você está doente? —— O homem negro balançou freneticamente a cabeça. Filipe soltou um suspiro aliviado, ele não surportava a ideia de ver o parceiro doente.


—— Eu estou bem. A baronesa  está brincando comigo, não é baronesa? —— Isabella achou divertida a expressão aflita de André, ela queria que o mais velho contasse sobre a gravidez mas obviamente que não iria forçar ninguém.


—— Claro. Eu preparei umas coisas para a sua mãe —— Disse sincera, ela gostava da Eloísa e sabia da sua saúde delicada por isso sempre mandava medicamentos e roupas para a mãe de André.

—— Obrigado, baronesa —— André sentiu o seu rosto se molhando e Filipe limpou as lágrimas preocupado, conteve a sua vontade de abraçar e beijar o mais velho por questões que odiava mas não podia negar.

—— Diga à ela que mando cumprimentos e não esqueça de não voltar tarde, é perigoso andar por aí sozinho —— Disse sorrindo levemente. André sentiu um calor se espalhar pelo peito.


—— Eu volto antes do sol se pôr —— Falou antes de ir embora. Filipe ficou observando o gordinho se afastando deles com um sorriso de orelha a orelha, todos na mansão sabiam da paixoneta que o filho do duque tinha porém ninguém se atrevia a contar para Valentim.


—— A pureza do amor dele por ti é quase palpável. Espero que não estragues isso, Filipe, sabes do que falo —— A baronesa disse séria voltando a tomar o seu chá.

—— Eu não o farei, tia. —— Respondeu voltando a se juntar a ela e a conversa entre os dois foi decorrendo normalmente mas não antes de enviar dois guardas para acompanhar o seu namorado.


Enquanto isso, André estava estão feliz por estar indo para a casa onde cresceu. Aquiles era uma cavalo puro sangue com o pêlo negro como carvão e uma franja impecável que o gordinho gostava.



—— Quanto mais alto sonhar maior é a queda —— André revirou os olhos antes montar Aquiles, o cavalo estava acostumado com a sua presença por isso deixou-se montar por André.


—— Estou indo para aldeia, quer dar algum recado para a sua mulher? —— Questionou com um certo deboche e Octávio cruzou os braços.

—— Eu não tenho mulher. Tu és o único para mim, André, porque não acreditas? —— Os seus olhos castanhos encontraram os negros de Octávio.


—— Tenho namorado e eu o amo, Octávio, aceite isso —— Dito isso partiu com Aquiles. André amava andar a cavalo, sentir o vento batendo contra o seu rosto, o cheiro a terra molhada da primavera o fazia sentir tão vivo.


Após curtos trinta minutos, André viu as casas feitas com telhados de palha, o homem sorriu quando viu a sua mãe esperando na varanda da sua casa.

—— Bem-vindo de volta, filho —— Eloísa disse risonha. André desceu de Aquiles e correu para abraçar a mulher de idade.

O gordinho animado entregou as coisas que a baronesa havia mandado para a sua mãe e os dois entraram dentro de casa.

Uma casa bem simples com um quarto e uma sala, a casa de banho ficava do lado de fora da casa, o que podia ser perigoso durante a noite mas aquela aldeia era bem tranquila.

—— Quando irei conhecer o seu namorado, filho? —— Perguntou ela quando o seu filho deu o recado de Filipe.

A mulher negra dos seus cinquenta e poucos anos ergueu a sobrancelha esperando a resposta do seu único filho porém André estava receoso em contar.


—— O meu namorado é o filho do duque, mãe e estou prenho de dois meses —— Eloísa deu um tapa no braço do seu filho que gemeu de dor, a mulher estava mais preocupada com o filho do que qualquer coisa.

—— Já era a hora de me dar um neto mas tinha que ser com um nobre? Aquele povo só pensa no próprio umbigo —— André sabia que a sua mãe iria dar um sermão daqueles por isso nunca contou que tinha um namorado e já estava com Filipe há quase dois anos.

—— O Filipe é diferente, ele me trata bem e até manda os seus remédios —— Disse mostrando as ervas que ajudavam a tratar o problema que Eloísa tinha, ela tinha um coração muito frágil por isso fazia o máximo para não preocupa-la.


—— Não posso mudar o que sentes por ele mas tem cuidado, esse povo é todo traiçoeiro e hipócrita, vão querer fazer mal a vocês se descobrirem —— Comentou servindo um lanche para o filho.



—— Tenho lã suficiente para fazer umas roupinhas para o meu neto —— Disse eufórica, o gordinho adorava ver a sua mãe alegre e saudável, ele faria qualquer coisa para vê-la sorrindo.


—— Como estão as coisas por aqui? —— Pergunta André indo ajudar a dona Eloísa a preparar o lanche.



—— Mal, filho. O Rodolf está aumentado valor dos impostos cada dia que passa, mal conseguimos água limpa e estamos sem médico por aqui —— Lamentou.

—— Isso é muito estranho. O Filipe mandou que diminuissem o valor dos impostos e fizessem mais poços além de enviar ouro para construirem hospitais —— André tinha a certeza que Filipe mandava dinheiro mensalmente para beneficiar Nacate, a sua aldeia.


—— Pois aqui não chegou nada além de mais impostos. Vem comer antes que esfrie —— Preparou umas apas com ovo, o predileto de André.


—— Na minha próxima visita, tratei o Filipe para o conheceres e quem sabe ele resolva o problema —— André comentou completamente alheio à Rodolf que escutava perto da janela.

RebirthOnde histórias criam vida. Descubra agora