cap. 23

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Harry Potter
🎧Si No Estás - iñigo quintero

-Quer ir para o lago comigo?

Depois de sair furtivamente da festa e aproximar-se dos nossos chalés, a culpa por ter estragado a noite negligenciando os sinais que tive estava cada vez maior, e eu simplesmente não queria que terminasse daquela forma.

-Eu posso aceitar, mas tenho uma condição.

Essa frase não me causaria tanto receio e medo se não viesse de Ginny Weasley.

-Vai ter que responder todas as perguntas que eu fizer. Todas.

-Parece uma subcelebridade com sério caso de estrelismo, peço sua companhia e vou ter que aguentar um questionário pois você, é você.

-Isso é um sim?

Não preciso responder, apenas puxo sua mão e corremos até o lago. Ao chegar lá, começo a tirar minha camisa e largo o chinelo na areia, quando termino, Ginny está tirando seu shorts.

-Para de me olhar. Sei que 'tá me olhando. - Viro na direção contrária e passo a chutar os grãos de areia com a ponta do pé.

Olho para o céu, a lua pálida rompia a escuridão como um farol solitário. Não conseguia ouvir som algum além do que Weasley fazia ao livrar-se das roupas. Quando estava pronta, apareceu ao meu lado, olhei seu corpo ao luar - somente com as roupas de baixo, e senti um nó na garganta. Ela mergulhou primeiro, quase sem provocar ondulações na superfície. Eu a segui desajeitado. Surpreendentemente, o lago estava morno. Ginny nadou com braçadas harmoniosas e regulares, como se a água estivesse abrindo caminho para ela. Eu a segui e sua silhueta veio próxima de mim.

-Odeio parecer deselegante... - Interrompo-a antes que tenha chance de falar mais.

-Você é. - Falo, jogando um pouquinho de água em seu rosto.

-Cala a boca, eu realmente quero perguntar sobre o assunto. - Ela diz e passa a olhar para a água, tenho suspeitas reais sobre o que vem em seguida. - Fale dela para mim, e você sabe quem é "ela".

Respiro fundo. Nunca abri o jogo sobre as coisas que passei com ninguém além dos meus amigos, mas sinto que contar para Ginny será mais como um alívio do que um infortúnio.

-Começamos o namoro no meio do ano letivo da segunda série do ensino médio, ela estava vendo uma série que eu curto no meio do jogo de beisebol dos caras do colégio. Ignorando completamente o que 'tava acontecendo, entende? - Mergulho minha cabeça antes de continuar, o assunto me deixa imperativo. - Foi o Neville que insistiu para eu assistir, algo relacionado ao time adversário ser o do primo dele, então eu fui e depois de vê-la, postei algo no Twitter sobre e ela acabou descobrindo sobre mim.

-Começamos a conversar, principalmente sobre a série, e depois disso, veio o namoro. Ela vinha para minha casa todas as quartas à tarde, e a gente ficava, como eu moro sozinho, isso foi algo fácil. - Digo, achando engraçado a surpresa dela em constatar que moro sozinho. - Nunca percebi que ela não gostava muito de mim, e me apeguei demais. Certo dia, iríamos para uma festa e Cho disse que pegaria carona com alguma amiga, e uma outra amiga dela me enviou uma mensagem: "Ei, Cho pediu para você passar me pegar aqui, me atrasei."

-Eu passei lá, mas levei Neville junto, ela subiu no banco do trás e ficou calada até chegarmos no local, quando eu entrei na festa, Cho estava chorando e começou a me acusar, disse que eu tinha traído sua confiança e acabado com nosso relacionamento. E assim como o Twitter foi palco do nosso início, também foi do fim, ela expôs toda a situação na sua concepção e o colégio todo ficou sabendo. - Suspiro, me lembrar disso sempre deixa com uma mistura de sentimentos, raiva, tristeza, medo. - A mensagem da sua amiga era minha única arma, mas não tive coragem de usar, fiquei me culpando por muito tempo e essa situação desencadeou gatilhos absurdos, lembrava dos meus pais, me culpava por um acidente qual não tive a menor influência. Me culpava por tudo.

-No fim, Hermione pressionou a garota que me enviou mensagens a abrir o jogo e ela revelou que Cho pediu para que enviasse a mensagem e planejou tudo, de modo a terminar com motivos suficientes. Cho sumiu do mapa e só apareceu aqui, no dia em que estava com vocês, e sei que Mione só permitiu aquele contato porque, no passado, insisti para que tratasse todas que participaram daquele show bem, sem causar uma treta maior. E aí vocês se conheceram e tal, eu apareci bêbado, é, foi isso.

-Que rolê do caralho, sinto muito. - Sua reação é simples, mas melhor que a pena de muitas outras pessoas que já ouviram a história. Odeio ser um coitado. - Mas, ei, veja aqui...

Ela apontava para a superfície da água, e eu, olhei. Foi o suficiente para que empurrasse meu rosto para dentro d'água e começasse a tentar me afogar, subindo encima de meu corpo. Iniciamos uma batalha, e mesmo consciente de que aquilo era uma tentativa indiscreta de me animar, eu me animei.

-Espera, uma dúvida, qual era a série? - Ginny para, abruptamente, e questiona.

-A que Cho estava vendo, lá no início? - Ela meneia a cabeça, confirmando. - Modern Family.

-Puta merda, essa série é uma das minhas favoritas. - Sorrio com seu comentário. - É impossível não gostar, qualquer um que não curta está morto por dentro, entendo ter falado com a garota depois de vê-la assistindo.

-Cho estava meio morta, dizia que não suportava a Haley Dunphy.

-Deve ser por que tinha peitos maiores que os dela.

Começamos a rir muito, e quando a êxtase do momento passa, noto como Ginny parece tremer de frio. Sempre existe a opção de fazer piada, mas um ímpeto me diz para oferecer uma alternativa melhor.

-Quer ir pro píer? Ficamos lá até se secar, e depois...

-Vamos embora. - Ela completa, na defensiva, como se não quisesse passar mais tempo ao meu lado (sem estarmos se beijando) e correr o risco de gostar disso.

Nadamos até o píer e então, eu pedi para que ela ficasse por lá enquanto eu buscava nossas roupas, Ginny quase me mandou a merda e resmungou algo sobre se virar sozinha, mas incrivelmente: não saiu do lugar.

Quando me aproximo novamente, ela ainda está lá - era possível que tivesse saído correndo, faz seu tipo -, nos vestimos em silêncio e depois, parece automático deitar-se sobre as tábuas e olhar para o céu.

-Gosto de pensar que as estrelas significam mais do que só astros de plasmas que possuem luz própria. - Digo, olhando para cima.

-Você é meio esquisito, e nerd. - Ela diz, virando um pouco de seu corpo para me observar como uma expressão inusitada.

-Não sou tão nerd assim, é que eu tenho uma leve obsessão pela astronomia. - Falo, cruzando minhas mãos sobre o peito. - Quando eu era criança, todos as outras pareciam gostar muito de alguma coisa, e meu padrinho me enchia do papo clichê de que meus pais eram estrelas, então decidi minha obsessão da vida toda baseado nisso.

-Beleza, então você acredita que elas não são só astros 'sei lá o que' luz própria e sim, seus pais?

-Sim e não. Sim, por que é a única forma de poder enxergá-los com frequência. - Falo, parando para observar o rosto de Ginny sob a luz da lua, suas mechas ruivas lembravam o cabelo da minha mãe, e era lindo. - Não, pois Lilian e James deveriam ser a porra do universo todo, se resumir a astros é pouco.

Ficamos alguns segundos em silêncio. Eu não queria perguntar a respeito da vida de Weasley, pressioná-la a jogar às cartas sobre a mesa com a mesma facilidade que eu era covardia. De qualquer modo, eu sentia que em algum momento ela ia desejar dividir seus problemas comigo.

-Acho que... - Ginny murmura e levanta o corpo, passando a ficar sentada. - Vou para o chalé, Potter.

E assim, sem nenhuma explicação ou razão, - e independente, sei que não era necessário - fiquei sozinho. Completamente, sozinho.

The Last Summer - HinnyOnde histórias criam vida. Descubra agora