cap. 28

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Ginny Weasley
🎧Should Have Know Better - Sufjan Stevens

A dor de cabeça é insuportável.

Eu nunca senti tanta dor, e posso jurar. Minha cabeça parece ter desencaixado, sinto que meu crânio é algo totalmente independente do resto do corpo e um turbilhão de sensações vem dele. Está estremecendo, doendo como se um milhão pequenos seres estivesse construindo um prédio ali.

Faz pouco tempo que recobrei oficialmente a consciência e acompanhada desta dor, um gosto horrível preenche minha boca. Começo então a reparar no ambiente: um quarto de hospital, paredes meio azuis e aparelhos fazendo barulhos irritantes que foram magicamente amplificados por meu cérebro.

-Oi, Ginny! Tudo bem? Como se sente? - Uma mulher me questiona, adentrando a porta do quarto e começando a mexer nos aparelhos enquanto anota tudo em uma prancheta.

Ginny. Lembrar que é esse meu nome começa a colocar tudo de volta no lugar. Começo a lembrar de todas as coisas lentamente, e confesso que não me agrada muito ter consciência de algumas.

-Oi, eu estou viva, não é? Então acho que está tudo bem. Mas essa dor insuportável na minha cabeça está quase acabando com a alegria de estar viva. - Falo, em uma velocidade rápida, porque minha voz está rouca e eu odeio quando fica assim.

Não ligo em revelar absolutamente tudo que esto sentindo para a enfermeira. Certa vez meu pai me disse que a vovó faleceu por auto negligência, ela vivia dizendo aos médicos que não sentia nada, mas sentia tudo. Não quero correr o risco, sabe?

-Certo. O médico virá para dar um jeito nisso, mas enquanto ele não chega, pode me explicar o que houve?

-Espera um pouco. Consigo lembrar que meu tornozelo está machucado porque tropecei mais cedo, mas não me lembro do que porque minha cabeça 'tá doendo pra cacete...- Falo, esforçando-me para recordar o que aconteceu. Tudo é uma confusão.

A mulher aproxima-se de mim. Seu rosto traz uma sensação de tranquilidade e segurança, é difícil encontrar profissionais da saúde que pareçam satisfeitos com a profissão que tem, hoje em dia, então considero isso um incentivo.

Refaço os passos de meu dia todo, até o momento em que arrumava minha mala no chalé. Depois...Harry Potter! Eu estava indo atrás dele, então o Tom, então as palavras ruins sobre mim e a divina aparição do Potter, e por fim, o chão.

-A última coisa de que me lembro é o chão, para ser honesta. Só sei que eu estava indo atrás de uma pessoa, Harry, e o Tom, um garoto loiro que vivia me enchendo o saco, estava por lá. - Paro de falar. Uma dor lancinante me atinge, tenho que aguardar alguns segundos para conseguir falar novamente. - Ele começou a me falar algumas coisas ruins, disse que falava comigo porque devia isso ao seu amigo, Miguel, que curiosamente é meu ex, um completo idiota. Então, Tom começou a me empurrar e praticamente me imobilizou, - já que meu tornozelo não me ajudava em uma fuga. Em seguida, Harry apareceu e o cara simplesmente surtou, me empurrando ao chão com toda força.

-Que situação, ein. - A moça afirma, meio desnorteada. - Vou deixar claro que essa será provavelmente a última vez que terá de explicar a situação, ok? Já anotei tudo, vou levar para o instrutor do acampamento que acompanhou vocês até aqui e ele tomará as devidas providências, não se preocupe com nada.

Meneio a cabeça e depois, me aconchego do melhor jeito possível na cama. Quero descansar, e finalmente acho que vou poder fazer isso quando a enfermeira sai do quarto, mas o médico entra logo em seguida.

Estou um pouco curiosa a quem a mulher se referiu quando disse "vocês", faz sentido que Ron tenha me acompanhado, mas a afirmação parecia referir-se a mais de uma pessoa. Não que eu deseje que seja ele, não que eu esteja pensando -nele-. Mas sei lá, poderia ser uma possibilidade, foi o Potter quem possivelmente me tirou de lá, eu imagino.

-E aí, campeã? Entre zero a dez, como classificaria sua dor? - Fico um pouco constrangida ao perceber que o médico acredita que tenho uns quatorze anos.

-Dói 'pra caralho. Mil, por aí. - Falo, decidindo que os palavrões serão a melhor forma de provar minha identidade.

O rapaz fica meio assustado. Mas segue me examinando e inserindo diversos tipos de agulhas e remédios em mim, e eu até poderia reclamar, mas a dor me impede de recusar algo que provavelmente vai aliviá-la.

-Tudo bem. Em breve vai melhorar, posso chamar seus pais?

-Por favor, minta que estou morrendo, que sou uma adolescente moribunda sensível a qualquer som... - Imploro, sabendo que provavelmente não será só meus pais. Serão todos, todos mesmo.

Ele ri, pisca e fala algo sobre "pode contar comigo". Apenas respiro fundo e volto a encostar minha cabeça no travesseiro, esperando o furacão Weasley aproximar-se.

...

-Mãe, não, eu não posso falar demais. - Digo, depois de todos questionarem a mim o que realmente aconteceu. - A enfermeira sabe de tudo, perguntem para ela.

Estou há dez minutos dando meu melhor para parecer extremamente exausta. Não que eu não esteja, é claro. Tampouco quer dizer que não amo minha família, mas eles tem uma mania de sufocar quem está mal.

-Calma. Calma pessoal, Ginny vai ficar bem e é uma questão de tempo para voltar para casa. - Gui toma a frente. Essa qualidade de manter todos sob controle é algo que admiro nele. - Ron me contou que Harry Potter tem uma casa aqui, só dele, e que pode ser usada por nós para que possamos ir embora amanhã.

-É, é verdade. - Ron concorda, e eu tento disfarçar a nova onda de êxtase ao descobrir que Harry está por aqui.

-Nós vamos lá combinar com ele e vocês podem despedir-se da Ginny enquanto isso, depois pedimos a enfermeira que explique tudo e poupamos Ginny da fadiga. - Carlinhos completa.

Três dos meus irmãos saem e o resto concentra-se em me dar tchau e desejar melhoras. Fico ali, distribuindo abraços desajeitados e frases vagas, tipo: "Sim, amanhã a gente se vê. É isso aí."

Quando só restam eu e a cama, os malditos pensamentos sobre o paradeiro de Potter voltam. Entendo que ele deve estar conversando com meus irmãos, mas ainda acho que vou soca-ló caso não apareça. Além disso, me preocupo com as questões lógicas: o Tom possivelmente deve ser maior de idade, e não há dúvidas de que existe uma pena a ser cumprida pela agressão, tenho Harry como testemunha e essa hospitalização como resultado. Sei que a escolha é minha, e não tenho medo do Miguel, portanto só existe uma coisa a ser feita. Dar queixa.

-Os Weasley gostam de dar socos, não?

Ele realmente veio. Harry está aqui.

The Last Summer - HinnyOnde histórias criam vida. Descubra agora