Capítulo 18 Toda mentira tem um pingo de verdade.

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Dimensão original.



Assim que eu voltei para aula fiquei quieto na cadeira pelo resto do dia. E mesmo que sentindo alguns olhares de Azawa em mim eu apenas olhei pela janela e observei o tempo passar lentamente até o sinal tocar. Quando o horário bateu eu ainda esperei até que Katsuki se levantasse da cadeira para então segui-lo, percebendo ele logo parou de andar para se viara para mim.

_ Que merda você quer agora? - Perguntou ele irritado.

Mas ao contrário das outras vezes em que nos conversamos, eu não estava sorrindo dessa vez, eu apenas o observei por um momento antes de falar.

_ Eu posso falar com você?_ Perguntei e ele me encarou desconfiado.

_ E o que acha que está fazendo agora?

_ Eu quero falar com você em particular._ Disse em tom mais leve, não querendo inicia uma discuçao.

Ele então me olhou torto e desconfiado, parecendo esperar o momento em que eu ia dizer algumas coisa para irrita-lo, mas eu realmente precisava falar com ele.

_ Eu não tenho nada para falar com você _ Disse dando as costas para mim enquanto se afastava, eu apenas suspirei cansado.

_ Eu vou estar esperando no gramado.

Eu disse alto o suficiente para que ele me escutasse, se ele me daria ouvidos ou não, eu não fazia ideia, mas esperaria mesmo assim.

Guardei as minhas coisas no quarto e, como disse, fui até o gramado da escola, para aguardar,  e mesmo que já tenha começado a escurecer, ainda tinha alguém tempo ali antes do toque recolher. O local onde eu estava ficava na frente da U.A era uma parte bem exposta, então não seria um lugar suspeito nem perigoso de se encontrar com alguém, não duvido nada que tenham me visto vir para cá, e que poderiam ate achar suspeito, mas acho que não teria problema se eu ficasse só um pouco. Eu me sentei em um banco de pedra que ficava perto do muro, enquanto observava a minha volta em silencio. A luz das janelas e dos corredores do dormitórios mal batia ali, olhei para a noite de céu noturno inexpressivo, eram poucas as vezes que eu tinha tempo para olhar as estrelas daquele jeito, me pergunto se internamente podia sentir saudades disso. Os minutos logo se passaram, e eu esperei, a brisa estava bem gelada em minha pele, mas isso não me incomodava, era um clima até que agradável para mim, mesmo o frio pode ser quente para alguns.

Ouvindo um barulho de passos sobre a grama, abaixei a cabeça para esconder um pequeno sorriso que se formou em meu rosto, eu sabia que ele viria.

_ Pensei que não tivéssemos nada para conversar _ Levantei o rosto e vi Bakugou olhando para mim.

_ Tsk, não me faça perder meu tempo, fala logo o que você quer.

Sorri irônico pela sua irritação, mas logo suspirei e me levantei do banco de pedra, andando sobre a grama parei a sua frente enquanto o encarava.

_ E então? - Perguntou impaciente.

_ Obrigado – Disse, simplesmente.

Ele me olhou surpreso, mas logo fechou a cara antes de perguntar sério.

_ Pelo que?

_ Por hoje mais cedo, você foi falar com o professor, não foi?

_ O que queria que eu fizesse? Você tinha desmaiado._Disse soando quase irônico se não fosse pela seriedade em sua voz.

_ Mas depois que eu acordei você não me levou para a sala do diretor.

_ Você não me parecia...

_ Mesmo assim, obrigado _ Agradeci sincero e ele ficou mudo.

Ficamos em silencio por alguns minutos ante dele parecer ter digerido o que eu falei e bufar.

_ Era só isso?

_ Sim _ Me sentei no banco novamente e olhei para o céu.

_ Que perca de tempo _Reclamou ele se virando para ir embora.

_ A minha mãe... está morta na minha dimensão.

Ele parou de andar ainda de costa, então continuei ainda encarando as nuvens:

_ Já faz um ano, eu acho... nossa casa foi atingida por uma explosão e ela não resistiu, achei que nessa dimensão tinha ocorrido o mesmo... foi um choque saber que ela está viva.

_ Por que está me contando isso?

_Sinceramente? Eu não sei – Respondi honestamente, e sabia que ele não parecia nem um pouco convencido _ Mas sei que quero a sua ajuda, preciso vê-la ao menos mais uma vez... de todos aqui talvez você seja o que menos me odeia. 

Abaixei a cabeça com a sua falta de resposta, enquanto encarava as minhas próprias mãos e a grama sobre meus pés. Se eu quisesse sair da UA eu precisa de ajuda, não me importava fosse quem fosse, eu ainda iria precisar da ajuda de alguém daqui, sabia disso mesmo que odiasse admitir, não iria conseguir sozinho pelo menos não por enquanto. Internamente sentia que talvez eu só estivesse sendo precipitado com isso tudo, por saber que ela esta viva, mas agora que eu sei que ao menos nessa dimensão eu tenho uma chance, tinha que tentar. Se eu quisesse realmente ter uma chance de recontra-la, de conversar com ela uma ultima vez, eu tinha que conseguir, eu tinha que encontra-la, eu...quero lembrar como e o seu rosto, como e sua voz só mais uma vez.

_ Pensou errado, tudo o que eu mais quero é que você fique bem longe de mim e...

Ele parou de falar quando se virou para mim, eu nem sei quando tinha começado, mas meus olhos não paravam de derramar lagrimas.

_ Por que você está...

_ Ah, desculpa eu nem percebi _ Tentei secar meu rosto rapidamente quase impaciente, mas elas não paravam de cair.

_ Que estranho... por que elas? Desculpa eu não...

Olhando para baixo novamente, as lágrimas escorrerem pelo meu rosto até caírem na grama, me sentindo patético por conta disso. Qual era o meu problema? Ja tinha chorado mais cedo no quarto, mesmo depois de tanto tempo sem faze-lo, então porque estou fazendo isso de novo justo agora e na frente dele? E porque eu já não conseguia parar?Me perguntei perdido quando ele ficou na minha frente, eu só conseguia ver seus pés próximos aos meus, pensei que ele fosse gritar comigo ou me dizer para para de fingir, mas então senti o toque quente de sua mão em meu rosto, levantei o mesmo, mas antes que pudesse ver sua expressão fiquei imóvel quando seus braços me envolveram num abraço.

_ O que você est...

_ Calado! Apenas cale a boca _ Pediu ele me e eu apenas obedeci.

Seus braços me envolveram tão fortemente... como se não quisessem me deixar ir nunca mais, meus olhos não paravam de lacrimejar, abri a boca para falar, mas comecei a soluçar, engoli o no em minha gargante, segurei sua blusa e pedi mesmo que com as mãos tremendo:

_ Por favor... por favor me ajude... eu quero... eu quero... vê-la só mais uma vez, nem que por um segundo... eu... eu... preciso me despedir... eu... só...

_ Eu vou te ajudar, eu prometo.

Parei subitamente, sua voz soou tão sincera para mim que eu não mal pude deixar de sentir uma nostalgia percorrer minhas lembranças, eu sorri e disse:

_ Obrigado.

Ficamos assim por um tempo até que ele se afastasse e em silencio voltasse para dentro sendo seguido silenciosamente por mim, limpei o rosto ainda humildo enquanto passávamos pelo corredor, ainda podendo ver o gramado pela janela e depois encarei as costas da pessoa a minha frente pensativo sobre o mesmo e sobre como as minhas suspeitas se provavam cada vez mais certas.

Talvez fosse o problema de não conseguir ver alguém chorando, que ele decidiu me ajudar naquela hora... ou talvez fosse simplesmente porque o Katsuki não conseguia me ver chorando.

O outro lado da história.Onde histórias criam vida. Descubra agora