O Anjo no Bosque I

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- Qualquer coisa! Eu te imploro, eu faço qualquer coisa! - Noah implorava em desespero.

Corvus sorriu, um sorriso que se estendia de orelha a orelha, ele estava sem sua máscara habitual, estava em Enfad.

O sétimo plano espiritual inferior.

E o que mais ele poderia fazer quando uma vítima se jogava entre suas garras para o sacrifício?

Não havia nada a se fazer

Aquele humano somente poderia culpar a si por sua tolice quando a hora viesse

E assim o doppelganger saldaria uma velha dívida.

...


"Se essa rua, se essa rua fosse minha

Eu mandava, eu mandava ladrilhar

Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante

Para o meu, para o meu amor passar" [...]

A brisa de outono soprava fria, levando consigo as folhas secas, que valsavam esbanjando tons de ouro e bronze, elas se espalhavam pelas calçadas, levavam ao interior de um bosque próximo.

Em pequenos redemoinhos, as folhas eram deixadas nas portas das casas vizinhas ao bosque, um presente da natureza que parecia não agradar muito aos humanos que o recebiam.

"Uma coisa a mais para limpar"

Pensavam as donas de casa, já velhas, secas e frágeis, assim como as próprias folhas.

Pela rua de paralelepípedos um jovem de cabelos loiros como sol corria, segurando uma bolsa onde estavam seus cadernos, materiais da escola, mas o que lhe era mais importante que todo o resto, ia em suas costas no case que ficava bem preso ao seu peito, sem olhar para trás ele seguia quase sem fôlego.

Tentando usar o pouco de oxigênio restante em seu corpo para achar um meio de se livrar dos ladrões que o haviam abordado na saída da escola, nem conseguia pensar em como desviara deles para sair correndo pelas ruas de Santa Lucia.

Felizmente, seu corpo era do tipo atlético, conseguindo fugir por muito tempo, contudo se não achasse um esconderijo estaria perdido.

Ele havia parado sob a sombra de uma árvore para respirar um pouco, enquanto sentia o vento frio contra o corpo, secando a roupa que estava um pouco umedecida pelo suor, as folhas douradas se jogavam dos galhos rodopiando em bando, rumo ao chão caindo aos seus pés, acabam por reviver uma antiga lembrança.

Um dia de quando ele era apenas um garotinho de dez anos...

...

... Naquela época o som dos risos ecoava na clareira, que ficava pouco antes do centro do bosque.

Era comum que uma vez por ano esse tipo de reunião acontecesse entre duas ou três famílias, eles se reuniam para um piquenique, uma forma de passarem algum tempo juntos antes que esfriasse e as crianças corressem o risco de ficarem doentes ao brincar na natureza.

Nesse ano, haviam apenas duas famílias presentes para o evento, tanto uma quanto outra haviam participado da construção daquela cidade desde a época de sua fundação, por isso possuiam muito prestígio e amizade uma pela outra.

As crianças de ambas as famílias brincavam animadamente de explorar o bosque, trazendo consigo pilhas de folhas, que juntavam aos montes, para, em seguida, pular nelas.

Segredos Imutáveis - As Crônicas Do CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora