Desejo de Natal I

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- "Em Invernia, a expectativa natalina sempre trouxe alegria, mas este ano uma tradição sombria começou. Cada família recebeu uma vela negra para acender à meia-noite, revelando visões do futuro enquanto sombras dançavam."

O velho falava de maneira soturna, seus olhos esbranquiçados pela idade, o tornando ainda mais assustador.

- Vovô! Eu não sou mais criança, não me assusto mais com isso. Pare com essas histórias bobas!

As sobrancelhas brancas do velho se contraíram, sem apreciação alguma pelas falas do neto.

- Pois bem, rapaz, se você já é tão grande assim, vou lhe dar um presente mais útil que essa história.

Curioso, os olhos do menino brilharam com a esperança de que as falas de seu avô fossem verdadeiras.

Ao lado da poltrona verde de contar histórias, havia uma grande caixa de ferramentas, que parecia estar ali desde a construção da casa, talvez fosse mais velha que a própria casa.

Era feita de madeira, com desenhos temáticos dos astros, e mesmo que sua aparência fosse antiga, não havia nem mesmo um único grão de poeira nela.

Foi retirado dela um embrulho, maior do que a mão de um adulto, porém fino como o braço de uma criança, o papel de seda fazia barulhos crocantes sob os dedos do velho, que parecendo satisfeito com aquilo, entregou ao neto como se fosse o maior e mais precioso dos presentes

- Aqui, meu caro Taned, meu neto crescido, de onze anos ... - Vendo o olhar enfurecido do pequeno, o velho tossiu, alterando seu tom de voz. - Este presente lhe será bem mais útil do que minha repetitiva história. Mas se lembre de tomar cuidado ao usá-lo, queimaduras de fogo e de gelo, não podem ser curadas facilmente.

Dessa vez Taned se assustou, a voz de seu avô estava estranha no início, como uma dublagem mal feita de um filme antigo, e seus olhos nublados pela cegueira pareciam mirá-lo com precisão o fazendo tremer.

Ignorando a reação de seu neto, o velho pegou a bengala ao lado da poltrona e se levantou, a usando para tatear o chão.

- Agora, seja bonzinho, vá brincar lá fora e me deixe procurar onde a Sally escondeu meu whisky.

Taned ficou um pouco confuso sobre o que fazer, normalmente ele deveria ajudar o avô quando sua mãe não estava, mas depois daquelas estranhas ações, não queria ficar perto dele nem mais um minuto.

- Ahhh o senhor quer ajuda?

- Deixa de besteira moleque, nasci nessa casa e vou morrer nessa casa, conheço cada canto dela como a palma da minha mão. - A bengala bateu em um armário e ele se localizou usando a mão livre para tocá-lo, já abrindo a porta em busca de um frasco.

- Vá vá, se ficar muito tempo dentro de casa vai mofar!

Sem precisar de mais incentivos, o rapaz saiu para o quintal, folhagem verde brilhante e flores com cheiros oleosos por toda a parte.

O quintal que sua mãe cuidava tanta dedicação, palavra essa que não poderia ser atribuida ao cuidado com seus filhos, era um pequeno paraíso na terra, os mais diversos tipos de flores, até mesmo orquídeas exibiam suas cores brilhantes nas copas das árvores.

" Belas parasitas. " - Seu avô costumava dizer com um sorriso amargo. - " Teimosas e difíceis de agradar, mas por serem bonitas fazem dos jardineiros seus escravos, mas são belas parasitas, sem dúvida. "

Era verão, claro, mesmo que fosse natal, ainda era verão, as vantagens de se morar na América do Sul, o máximo de neve que se poderia ver era nas propagandas da Coca-Cola ou nas decorações falsas das vitrines.

Segredos Imutáveis - As Crônicas Do CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora