PRÓLOGO

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       Os meus olhos médios das cores pastéis estavam vidrados na tela do monitor, encarando, buscando algum defeito que tivesse na imagem: O céu está escuro como um quarto pequeno e sem iluminação alguma, as nuvens pretas não dão espaço para nenhuma estrela, apenas para as duas linhas tortas e grande que atravessam e rasga a escuridão com o raio branco e roxo, iluminando o quarteirão.

E mais uma vez concluo para mim mesma que essa imagem foi a mais linda que tirei desde que vim morar em Washington, capital dos Estados Unidos. E estava disposta a leva-la comigo para a exposição que vai ocorrer no Brasil, totalmente organizada por mim e a minha equipe.

Porém, a algumas semanas atrás não sabia se estava realmente preparada para isso. Para voltar para casa, para o país que tenho tantos remorsos e raiva. No entanto, a notícia de que o orfanato no qual a minha mãe ajudava passou por um alagamento com as últimas chuvas fortes que caiu em Capivarí, me vi na obrigação de ajudar de alguma forma. E, com esse evento de exposições de fotos tiradas por mim, uma pessoa totalmente conhecida, seja por meus trabalhos ou pelo sobrenome importante que carrego do empresário  Pedro, meu pai, irei arrecadar bastante dinheiro. O suficiente para ajuda-los.

Movi a minha mão com cuidado para alcançar o copo amarronzado, verificando se o capuccino ainda estava quente como prefiro, o bebendo nos minutos seguintes.

Escutei o "toc-toc" do outro lado da porta branca e logo em seguida a voz de Melanie.

- Entra. - deixei o copo sobre a mesa novamente e voltei a me concentrar na tela do monitor, passando para a próxima imagem com um clique no mouse.

- Desculpa - a metade da cabeça da mulher branca e loira, apareceu na brecha que abriu. - Estou atrapalhando? - mostrou um sorriso gentil ao terminar.

- Não, entre por favor. Aconteceu alguma coisa? - a olhei.

Rapidamente a mulher apareceu por completo e fechou a porta atrás de si. Seu corpo se aproximou da mesa rapidamente, deixando uma pasta grande e branca.

- Não, não. - suas mãos tocaram na ponta da pasta me fazendo olhar. - Aqui está as fotos que Cristian, mandou. - franzi os cenho ficando surpresa. - Ele disse que foram as únicas que conseguiu tirar durante a viagem pois, teve que cuidar da sua mãe a maior parte do tempo. - peguei a pasta com cuidado e abri, verificando as quatro fotos que o mesmo havia mandado e eram belas. - Pediu para avisar também que não vai poder viajar com você.

Voltei o meu olhar para ela novamente.

- Sério? - não consegui disfarçar a minha voz triste com a notícia pois, não estava preparada. Nos dois estávamos animados para essa exposição, seria o primeiro evento feitos juntos em outro país. - É por conta da sua mãe, certo? - a mulher assentiu. - Tudo bem. - a loira fez menção de sair do escritório mas, a impedi. - Espere, Melanie. - ela se virou para mim de prontidão.

Me levantei da cadeira giratória e confortável, peguei a bolsa azul-escuro que estava sobre a mesa, juntamente com a câmera média.

- Termine de mandar as fotos que separei na pasta do computador e envie para, Pierre. Ele está responsável por toda a organização da exposição no Brasil. - ela assentiu e então arrastei os meus pés com as pantufas pretas até a porta mas, antes de sair me virei para ela. - Você não ligou para o meu pai, ligou?

Os seus olhos verdes-escuros como um mato fresco aumentaram de tamanho.

- O quê!? Não, não senhorita. Por que me pergunta isso?

Semicerrei os olhos e a encarei por alguns segundos antes de sair:

- Hum, por nada não. - resmunguei e sai da sala, indo em direção ao elevador.

Enquanto aguardava a porta de metal abrir, alcancei o celular que estava no bolso do casaco bege, grande e grosso para o meu tamanho, verificando que não havia nenhuma mensagem dele.

O elevador chegou e entrei, pensei em ir para o térreo mas, ao invés disso apertei o botão cinco. A minha intuição está tão aflorada e cheia de razão, que nesse momento, gostaria que ela estivesse enganada, mas todos os meus pensamentos e os últimos acontecimentos desse mês dizem o contrário.

Encarei os meus dedos da cor duvidosa, as minhas unhas pintadas de azul-claro e finalmente cheguei na aliança de prata, fina, com detalhes de diamante.

Stevan... Sorrir sem mostrar os dentes ao pensar no meu futuro ex que pensou mesmo que poderia me enganar.

O elevador parou e as portas se abriram, cruzei aquele corredor pouco movimentado com os funcionários me cumprimentando com bonitos sorrisos e olhares amigáveis, até chegar na sala da editora de fotos, o encontrando sentado na mesa, com as grandes mãos na bunda redonda da mulher ruiva que havia contratado a dois meses atrás.

Eu não sabia o que estava sentindo naquele momento mas, de alguma forma estava feliz por vê-lo me traindo. Talvez seja o fato de que essa não foi a sua única traição e que o tempo que eu mesma havia dado a mim, para criar coragem de questiona-lo foi o suficiente para ter agora.

- Stevan? - a minha voz quase falhou, mas ver o seu rosto perder toda a cor ao mesmo tempo que empurrava a mulher, me fez sorrir amargamente.

- Joyce!? - seus lábios finos e manchados de batom teve a ousadia de pronunciar o meu nome tão ofegante que me fez se sentir suja.

- Não diga o meu nome. - sussurrei. Os meus olhos congelados vidraram-se na mulher que tentava se arrumar desesperadamente, como se fosse anular o fato do que acabei de ver. - Saia. - ela me olhou com os olhos cheios d'água. Vi o apavoro nas suas órbitas.

- O-O quê...?

- Saia, está demitida. - rosnei, tentando manter a calma e vi seu rosto perder a cor duas vezes.

- Demitida!? - intercalou o olhar entre mim e o seu amante. - Por favor, não faça isso, você entendeu tudo erra...

- Já falei para sair. Não adianta implorar como uma cadela que é, agora saia. - o seu corpo ainda estava estático me olhando sem acreditar. - SAIA! - gritei enfurecida e vi seu corpo sumir rapidamente das nossas vistas como se nunca estivesse ali.

- Amor, olha, você não pode demitir ela. A garota é uma ótima editora, a nossa empresa... - rir alto com aquilo e rapidamente o gringo se calou.

- Nossa empresa!? - estava tentando conter os risos. - A minha empresa, seu farsante! A quanto tempo? - indaguei tirando a aliança do meu dedo fino, a deixando na palma da minha mão.

- Não faz muito tempo... Ela e eu...- não o deixei terminar.

- Não... - olhei para os meus pés, enquanto caminhava de um lado para o outro, tentando pensar. - Não quero saber de vocês dois. Eu já sabia. - os seus olhos pretos perderam o brilho das lágrimas e seu ar foi suspenso por alguns segundos. - A quanto tempo está trabalhando para o meu pai? A quanto tempo está repassando todas as informações sobre mim para ele!? - me controlei para não gritar e o homem parecia se concentrar para conseguir falar.

- Joyce, por favor, me escuta... Não foi porque eu quis, seu pai estava preocupado e eu só... - ele estava tão desesperado que começou a chorar.

- Cala a boca! Durante esses dois anos você me traiu - os meus dedos foram parar nos meus lábios tentando raciocinar. - Eu te contei tudo... Falei dos meus motivos e mesmo assim... - a minha garganta começou a ficar seca, enquanto um nó se formava. - mesmo assim... - sussurrei, me sentindo fraca por ter sido idiota e de alguma forma ter amado alguém que desde o início sempre me traiu.

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Até Que o Sol Não Nasça Mais Onde histórias criam vida. Descubra agora